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Ucrânia: Rússia anuncia objetivos cumpridos, Kiev apresenta propostas

Hoje (29), o ministro da defesa russo, Sergey Shoygu anunciou que seu país concluiu a primeira fase da guerra na Ucrânia, e que passará a focar seus esforços na região de Donbas. Logo em seguida, porém, as negociações de paz que ocorriam na Turquia foram interrompidas pelo lado russo. Depois disso, a Ucrânia apresentou suas propostas:

  • A Ucrânia não participaria de nenhum bloco com outras nações, e permaneceria como Estado não-nuclear.
  • Haveria garantias estritas e vinculantes de países incluindo o Reino unido, a China, os EUA, a Turquia, a França, o Canadá, a Itália, a Polônia e Israel, que concordariam em proteger essa Ucrânia neutra em caso de ataque. Exceto no Donbas e na Crimeia.
  • A Ucrânia não ingressaria em nenhuma aliança militar, e exercícios militares internacionais requereriam o consentimento dos estados garantidores.
  • A situação da Crimeia seria decidida após 15 anos de consultas.
  • O futuro das regiões autonomistas no Donbas seria decidido à parte pelos presidentes da Ucrânia e da Rússia.

Contudo, a Ucrânia condicionou a assinatura de um acordo ao retorno prévio das forças às posições ocupadas no dia 23 de fevereiro, antes da invasão russa.

Quanto ao pronunciamento de Sergey Shoygu, ele afirmou que “o potencial de combate das Forças Armadas da Ucrânia foi significativamente reduzido, o que permite concentrar as principais atenções e os principais esforços na consecução do objetivo principal: a libertação do Donbass”. A partir de agora, haveria a redução da presença de tropas russas no entorno de Kiev e Tchernigiv, cidades próximas à Bielorrússia.

As perdas ucranianas anunciadas hoje pela Rússia foram:

  • 123 de 152 aviões;
  • 77 de 149 helicópteros;
  • 152 de 180 equipamentos de defesa antiaérea de médio e longo alcance.

(Foto em destaque: Sergey Shoygu. Ministério da Defesa da Rússia.)

Ucrânia e Rússia mais perto de um acordo

Segundo afirmado hoje pelo presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan – que vem atuando como mediador entre seus homólogos russo e ucraniano –, Rússia e Ucrânia estariam mais próximos de um acordo. O jornalista Ragip Soylu, há algum entendimento sobre quatro dos seis tópicos sobre a mesa: OTAN, desarmamento parcial, segurança coletiva e língua russa. Contudo, dois assuntos seguem em aberto: Crimeia e Donbas.

A Crimeia, pertencente à Rússia desde que o canato tártaro subsidiário do Império Turco-Otomano foi derrotado no final do século XVIII e defendida na Segunda Guerra da Crimeia contra os turco-otomanos apoiados por França, Inglaterra, Sardenha e Áustria – isso logo antes de importantes mudanças sociais ocorridas no Império Russo, como o fim da servidão em 1861. Em 1954, contudo, o ucraniano Nikita Khruschev, ex-presidente da República Socialista Soviética da Ucrânia e então secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, transferiu a República Socialista Soviética Autônoma da Crimeia do território russo para o território ucraniano em nome da “amizade entre os povos”.

Entre 1961 e 1971, foi construído o Canal da Crimeia, que levava água do rio Dniepr (que corta a Ucrânia ao meio) até o limite oriental da Península da Crimeia. Contudo, em 2014, após a reanexação da Crimeia pela Rússia, a Ucrânia construiu um dique a 16Km da fronteira, o qual impediu o fluxo da água até a Crimeia, impondo um estado de grande escassez hídrica na região. Esse dique foi explodido em 26 de fevereiro deste ano e a água voltou a fluir para a península. É de se esperar, portanto, que a Rússia resista em devolver esse território.

Já a região do Donbas, que em sua maioria fala a língua russa (proibida no ensino e nos atos de governo ucranianos desde 2019), foi reconhecida pela Rússia como independente da Ucrânia no último dia 21 de fevereiro, após quase oito anos de guerra civil e o fracasso dos acordos de Minsk – as elites políticas da região centro-ocidental da Ucrânia sempre barraram a autonomia territorial dos oblasti de Donetsk e Lugansk prevista nos acordos.

Atualização

Segundo o ministro de negócios estrangeiros da Ucrânia, Dmitro Kuleba, não há acordo para o uso do russo como segunda língua oficial na Ucrânia. “A única língua estatal na Ucrânia é e será o ucraniano.”

(Imagem em destaque: dique no Canal da Crimeia é explodido pela Rússia na guerra contra a Ucrânia)

Resumo diário 05/03/2020

Segue o resumo das notícias mais interessantes do dia:

Cessar-fogo na Síria

Rússia e Turquia assinaram hoje um acordo de cessar-fogo para a província síria de Idlib, onde o governo local liberou vastas áreas antes dominadas pelos rebeldes islamitas apoiados pela Turquia. O acordo prevê a manutenção da linha de contato atual e a criação de um corredor seguro na rodovia M4, que liga Saraqib a Latakia. O governo sírio já havia liberado a rodovia M5, que liga a capital, Damasco, a Alepo, passando por Saraqib. O acordo pode ser visto como a derrota das pretensões turcas de fazer o governo sírio recuar e ceder toda a província de Idlib para os jihadistas que o governo turco apoia. Nenhuma das reivindicações turcas foi aceita pela Rússia, a qual conseguiu consolidar as conquistas militares do aliado sírio.

Abaixo, em inglês, o texto do acordo:

(Foto em destaque: presidentes da Turquia e da Federação Russa se cumprimentam em reunião para celebrar acordo de cessar-fogo em Idlib, Síria. Fonte: Kremlin.ru.)

URGENTE: mísseis lançados da Turquia contra base aérea russa na Síria

O governo da Turquia reagiu muito mal hoje à morte de dezenas de soldados hoje na Síria. Eles agem dando cobertura de artilharia a terroristas islamitas contra o governo sírio, que é apoiado pela Rússia e pelo Irã.

Redes sociais foram bloqueadas logo que a notícia começou a se espalhar. O site da agência governamental de notícias síria SANA está fora do ar há mais de quatro horas. Mísseis e projéteis de artilharia foram lançados contra as cidades de Latakia (onde estão as bases naval e área da Rússia) e Hama. A Turquia também disse que não reterá mais os refugiados sírios que quiserem ir para a Europa, retaliando assim seus aliados da OTAN que não estão demonstrando apoio na guerra contra a Síria.

Se a situação não for contida logo, uma guerra entre um membro da OTAN (A Turquia) e a Rússia pede espocar a qualquer momento.

Ao mesmo tempo, após liberar 60 localidades no oeste da província de Hama no sul da região dominada pela jihadistas apoiados pela Turquia, o Exército Árabe Sírio finalmente começou um contra-ataque em Saraqeb, que acabara de ser perdida para rebeldes e turcos.

Resumo diário 21/02/2020

Segue o resumo das notícias mais interessantes de hoje:

Petroleiros suspendem greve na Petrobras

Após conseguirem levar a Petrobras à mesa de negociação, os petroleiros decidiram suspender a greve que já durava 20 dias — a segunda greve mais longa na empresa. A decisão cumpre o que foi determinado pela justiça trabalhista, adiando o processo de demissão dos funcionários da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados em Araucária (PR). Quase 400 funcionários da Petrobras e cerca de 600 terceirizados podem ser prejudicados pelo pretendido fechamento da unidade.

Parlamento português decide legalizar a eutanásia

O legislativo português decidiu legalizar a eutanásia, mas a decisão final ainda não foi tomada. O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, que é católico e pró-vida, pode vetar o projeto, que certamente irá parar nos tribunais se virar lei. Se a medida entrar em vigor, pessoas com doenças e lesões incuráveis e definitivas, que causem sofrimento duradouro e insuportável, poderão solicitar que sejam mortas. Essas pessoas, em vez de procurarem a esperança e a união com Cristo crucificado, poderão simplesmente procurar a morte. Resta ainda saber o que será tido como “insuportável”, pois isso varia não somente entre indivíduos, mas também ao longo da vida de cada um. A Igreja Católica tem se mobilizado contra a eutanásia, e a Ordem dos Médicos diz que a eutanásia fere a ética médica.

Aumenta a tensão na Síria

A Turquia apoiou ontem uma investida de seus milicianos islamitas contra o exército sírio. Inicialmente, conseguiram romper as defesas da Síria em Nairab, na província de Idlib. Em resposta, a aviação russa contra-atacou, destruindo um tanque, seis veículos de transporte de tropas e cinco caminhonetes, matando dois militares turcos.

Ainda ontem, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan solicitou que os Estados Unidos posicionem suas defesas antimísseis na fronteira turca com a Síria, mas ainda não obteve resposta. Ele também conversou com os chefes de governo da França e da Alemanha, tentando obter apoio para uma guerra contra a Síria, levando consigo a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Hoje, um caça F-16 turco entrou no espaço aéreo sírio em uma região dominada pela turquia. Um avião do exército russo seguiu em sua direção, e o avião turco se evadiu.

Campanha de desinformação para legalizar o aborto em El Salvador

Um artigo da Revista Internacional de Direitos Humanos (RIDH) revela a existência de uma campanha internacional de desinformação para forçar a legalização do aborto e do infanticídio em El Salvador. A publicação revela que foram tratados como “aborto” casos em que bebês recém-nascidos foram assassinados por seus progenitores, levando à consequente persecução penal. Os casos haviam sido levados ao Comitê Interamericano de Direitos Humanos, na tentativa de que a corte internacional determinasse a descriminalização do aborto. Para os autores do artigo, até mesmo a legalização do infanticídio estaria entre os objetivos das ações.

(Foto em destaque: SU-24 da Rússia. Fonte: Alexander Mishin.)

Aumenta a tensão na Síria

A Turquia apoiou ontem (20) uma investida de seus milicianos islamitas contra o exército sírio. Inicialmente, conseguiram romper as defesas da Síria em Nairab, na província de Idlib. Em resposta, a aviação russa contra-atacou, destruindo um tanque, seis veículos de transporte de tropas e cinco caminhonetes, matando dois militares turcos.

Ainda ontem, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan solicitou que os Estados Unidos posicionem suas defesas antimísseis na fronteira turca com a Síria, mas ainda não obteve resposta. Ele também conversou com os chefes de governo da França e da Alemanha, tentando obter apoio para uma guerra contra a Síria, levando consigo a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). O presidente turco disse que o problema da Turquia em Idlib “é com Damasco”, não com a Rússia, tentando dar um chega-pra-lá na potência eurasiática aliada do governo sírio.

Hoje, um caça F-16 turco entrou no espaço aéreo sírio em uma região dominada pela turquia. Um avião do exército russo seguiu em sua direção, e o avião turco se evadiu. Aparentemente, tratou-se de um teste da defesa área da Síria em preparação para uma guerra aberta.

(Com informações de liveuamap.com e Sputnik. Foto em destaque: SU-24 da Rússia. Fonte: Alexander Mishin.)

Resumo diário 17/02/2020

Segue o resumo das notícias mais interessantes do dia:

Antropólogo bolsonarista é preso em terra indígena

O antropólogo bolsonarista Edward Luz tentou ontem impor suposta ordem do ministro do meio-ambiente, Ricardo Salles, a fiscais do Ibama. Foi preso. No entanto, o episódio demonstra como a civilização brasileira vem sendo substituída pela “justiça” sendo exercida por indivíduos voluntariosos. O vídeo abaixo retrata o incidente:

Suposto plano terrorista contra ministros do STF

A jornalista Mônica Bergamo divulgou que a Polícia Federal teria alertado o Supremo Tribunal Federal (STF) . A célula terrorista seria chamada “Unidade Realengo Marcelo do Valle”. Marcelo Valle é o nome de uma pessoa condenada por terrorismo que teria influenciado o autor da chacina conhecida como “Massacre do Realengo”, acontecida em uma escola municipal do Rio de Janeiro em 2011. Se quiser conhecer mais sobre grupos como esse, leia reportagem do Jornal GGN.

Carro de deputado federal atingido por tiros

O carro do deputado federal Loester Trutis (PSL-MS) teria sido atingido por tiros ontem a caminho de Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul. O incidente, apesar de grave, apenas acarretou o cancelamento da agenda do parlamentar.

Vala comum descoberta na Síria

O governo sírio descobriu uma vala comum utilizada por terroristas a leste da capital, Damasco. Os corpos encontrados estavam com as mãos amarradas e, na maioria, com tiros na cabeça, indicando execução. Eram militares e civis. A região foi dominada por terroristas de 2011 a 2018 — do início da guerra civil ao momento em que o Exército Árabe Sírio liberou o entorno da capital.

Rússia e Turquia não chegam a acordo sobre cessar-fogo na Síria

A Rússia e a Turquia não chegaram a um acordo sobre um cessar-fogo na região de Idlib. O governo turco de Recep Tayyip Erdogan insiste que o governo sírio abra mão do extenso território que liberou dos terroristas islamitas apoiados pela Turquia. O porta-voz do presidente da Federação Russa, Dmitry Peskov, afirmou que seu país apoia o governo sírio na luta contra o terrorismo. Os representantes russos no diálogo teriam demandado que as negociações fossem elevadas ao nível presidencial.

Alepo, Síria: Rodovia e aeroporto voltam a funcionar

A rodovia que liga Alepo a Tel Rifat (e deveria levar à fronteira com a Turquia) foi liberada pelo governo sírio no mesmo dia em que o governo anunciou que o aeroporto internacional de Alepo voltaria a funcionar. A conquista de territórios a oeste e a noroeste da cidade que antes eram ocupados por jihadistas apoiados pela Turquia garantiu a segurança do uso de ambas as estruturas. A estrada até sábado estava parcialmente nas mãos dos militantes salafistas. A última porção da estrada, que passa por Azaz, a norte de Tel Rifat, se encontra sob domínio da Turquia e de seus terroristas salafistas. O front a oeste de Alepo se encontra agora a 20Km do centro da cidade, a meio caminho da fronteira turco-síria.

(Imagem em destaque: Dmitry Peskov, porta-voz do presidente da Federação Russa. Fonte: SANA.)

Resumo diário 16/02/2020

Segue o resumo das notícias mais interessantes do dia:

Na Rússia, só papai e mamãe

O presidente russo, Vladimir Putin, apoia a proposta da deputada Olga Batalina, do partido Rússia Unida, de inserir na constituição russa a família natural. Nada de “progenitor 1” e “progenitor 2”, como existe nos documentos de muitos países (inclusive o Brasil).

Ataque a faca durante missa em Moscou

Dois fiéis ficaram feridos após um homem invadir a missa e atacar fiéis na igreja dedicada a São Nicolau na capital russa. O agressor foi detido pelos fiéis até a chegada da polícia. Ainda não se conhece a motivação dele.

Desbaratado grupo terrorista de extrema direita na Alemanha

Na sexta-feira (15), a polícia alemã realizou uma operação para desbaratar uma rede terrorista de extrema direita que contava com um ex-policial entre seus membros. A operação atingiu tanto a parte operacional, quanto de apoio financeiro e logístico da organização.

Caminhoneiros apoiam greve dos petroleiros

A greve dos funcionários da Petrobras contra o desmanche e demissões na empresa, que já dura 16 e atinge 117 unidades da empresa, ganhou apoio da Associação Nacional dos Transportadores Autônomos do Brasil (ANTB). Segundo o presidente da associação de caminhoneiros, o preço dos combustíveis “precisa ser discugtido com toda a sociedade, que é afetada em todos os setores […]. E se nós temos o petróleo e a Petrobras, não é possível mais aceitarmos essa cobrança inadequada na bomba”.

Síria: exército avança a oeste de Alepo

O Exército Árabe da Síria (nome das forças armadas do governo sírio) avançou hoje a leste e norte de Alepo, segunda maior cidade do país, com uma importante comunidade cristã. Quase toda a cidade já havia sido liberada pelo governo com ajuda da Rússia e pelas Forças Democráticas da Síria (que depois entregaram a área ao governo).

Região dos principais combates na Síria. Em verde forte, os territórios liberados hoje pelo governo. Situação às 13h de Brasília.

Ontem, foram abertas novas frentes ao noroeste de Alepo e ao Sul de Idlib. Enquanto isso, o governo da Turquia continua ameaçando um grande ataque contra a Síria se o governo local não parar a guerra contra os terroristas islamitas. O governo turco vem fornecendo blindados, artilharia e mísseis anti-aéreos para os terroristas, o que vem impedindo o uso de helicópteros pelo governo.

(Imagem destacada: petroleiros em greve. Fonte: Federação Única dos Petroleiros.)

EUA e Rússia reduzem armamento nuclear

Como prevê o chamado Novo START – Tratado de Redução de Armas Estratégicas –, Estados Unidos e Rússia reduziram o número de ogivas nucleares prontas para uso e de veículos capazes de utilizá-las. Contudo, cada lado ainda dispões de 700 mísseis intercontinentais e bombardeiros estratégicos ativos, 1.550 ogivas nucleares instaladas, e 800 mísseis intercontinentais e bombardeiros estratégicos no total. Os números equivalem a dois terços do tratado START original e 90% do tratado SORT, que vigorou entre um e outro.

Destruição causada pela bomba atômica lançada pelos Estados Unidos sobre Hiroshima. Foto: Laboratório Nacional de Los Álamos (EUA).

Embora a redução do armamento nuclear seja bem vinda, o Novo START deixa de fora o armamento chamado “tático” e países como China, França e Reino Unido – reconhecidos como “estados nucleares” pelo Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Ao todo, são nove os países detentores de armamento nuclear, além de cinco os que hospedam armas nucleares de outros países, todos da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte, liderada pelos EUA). Nenhum desses países assinou o Tratado de Proibição de Armas Nucleares, aprovado aos 7 de julho de 2017 pelas Nações Unidas.

(Foto em destaque: explosão de bomba de hidrogênio. Fonte: Pixabay.)

Guerra no Oriente Médio recrudesce

A guerra no Oriente Médio (especialmente na Síria) tem recrudescido. No início deste mês, com o início de uma ofensiva do governo sírio para tomar a cidade de Alepo, dezenas de milhares de habitantes fugiram rumo à Turquia, encontrando a fronteira fechada pelos turcos. Um pouco antes, haviam fracassado as negociações de paz, diante da recusa de participação pelos rebeldes. No último sábado (13), doze picapes armadas com metralhadoras pesadas entraram na Síria a partir da Turquia, em uma operação para entrega de suprimentos aos rebeldes – a Síria denunciou a presença de militares turcos, o que foi negado pela Turquia. Também Turquia e Rússia trocam acusações mútuas desde a derrubada de um avião russo que atacava rebeldes na Síria. A região onde o avião foi abatido é povoada por população turcomana, que a Turquia diz estar sendo massacrada (e ameaça agir). No dia 15, mais um hospital da organização Médicos Sem Fronteiras foi bombardeado. As forças envolvidas na guerra trocam acusações entre si (EUA acusam a Rússia e a Síria, que acusam os EUA). No mesmo dia, aviões turcos invadiram o espaço aéreo grego sobre o mar Egeu, perto de ilhas cuja soberania é disputada entre os dois países. Desde julho de 2015, a Turquia vem bombardeando as forças curdas, que combatem com sucesso o Estado Islâmico, com a desculpa de combater terroristas após atentados que vitimaram a população curda e seus aliados internos na Turquia. Os bombardeios foram intensificados desde o sábado (13) – e, na reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas da segunda-feira (15), a Turquia foi fortemente criticada pela Rússia, pelo Chipre e pela Síria. Na reunião do dia seguinte (terça, 16), a Turquia foi instada a retirar suas tropas do território iraquiano, “cuja presença mina a soberania do Iraque”. Essa atuação turca contra os curdos, assim como a facilidade que os rebeldes (inclusive o Estado Islâmico) têm para cruzar a fronteira turca com armamentos e tropas leva facilmente à conclusão de que, no fim das contas, a Turquia (sede do último califado) apóia o Estado Islâmico (que proclamou um novo califado). No Iêmen, 14 militares foram mortos por um suicida do Estado Islâmico ontem (17). A situação iemenita, em que Arábia Saudita e Irã, como expoentes do sunismo e do xiismo, se confrontam, contando ainda com a presença da Al Qaeda e do Estado Islâmico, também foi alvo de discussão no conselho de segurança no dia 16. Em Ancara, capital turca, ao menos 5 pessoas morreram e 10 ficaram feridas ontem (17) em uma explosão que teria como alvo instalações militares.

Na Síria, embora nenhum lado possa se declarar inocente de crimes contra a humanidade, chama a atenção a declaração do vigário apostólico de Alepo dos Latinos, dom Georges Abou Khazen, alertando sobre a “‘frente moderada’, que, por ser considerada ‘moderada’, é protegida, defendida e armada [pelos EUA e aliados]. Na realidade, eles não são diferentes em nada dos outros jihadistas [Estado Islâmico e Frente Al Nusra], a não ser no nome”.

Opinião de Visão Católica

Esse extenso relatório demonstra o acerto do papa Francisco e do patriarca Kiril em sua preocupação com a possibilidade de o conflito se tornar uma nova guerra mundial. Na declaração conjunta que firmaram no último dia 12, exortam à busca de uma convivência pacífica e do diálogo inter-religioso. Pedem o auxílio para os cristãos perseguidos e a ação da comunidade internacional. Pedem pela libertação dos metropolitas de Alepo, Paulo e João Ibrahim, e suplicam aos céus para que o Criador proteja sua criação da destruição.

Eis o trecho mais significativo com relação a isso:

7. Determinados a realizar tudo o que seja necessário para superar as divergências históricas que herdámos, queremos unir os nossos esforços para testemunhar o Evangelho de Cristo e o património comum da Igreja do primeiro milénio, respondendo em conjunto aos desafios do mundo contemporâneo. Ortodoxos e católicos devem aprender a dar um testemunho concorde da verdade, em áreas onde isso seja possível e necessário. A civilização humana entrou num período de mudança epocal. A nossa consciência cristã e a nossa responsabilidade pastoral não nos permitem ficar inertes perante os desafios que requerem uma resposta comum.

8. O nosso olhar dirige-se, em primeiro lugar, para as regiões do mundo onde os cristãos são vítimas de perseguição. Em muitos países do Médio Oriente e do Norte de África, os nossos irmãos e irmãs em Cristo vêem exterminadas as suas famílias, aldeias e cidades inteiras. As suas igrejas são barbaramente devastadas e saqueadas; os seus objectos sagrados profanados, os seus monumentos destruídos. Na Síria, no Iraque e noutros países do Médio Oriente, constatamos, com amargura, o êxodo maciço dos cristãos da terra onde começou a espalhar-se a nossa fé e onde eles viveram, desde o tempo dos apóstolos, em conjunto com outras comunidades religiosas.

9. Pedimos a acção urgente da comunidade internacional para prevenir nova expulsão dos cristãos do Médio Oriente. Ao levantar a voz em defesa dos cristãos perseguidos, queremos expressar a nossa compaixão pelas tribulações sofridas pelos fiéis doutras tradições religiosas, também eles vítimas da guerra civil, do caos e da violência terrorista.

10. Na Síria e no Iraque, a violência já causou milhares de vítimas, deixando milhões de pessoas sem casa nem meios de subsistência. Exortamos a comunidade internacional a unir-se para pôr termo à violência e ao terrorismo e, ao mesmo tempo, a contribuir através do diálogo para um rápido restabelecimento da paz civil. É essencial garantir uma ajuda humanitária em larga escala às populações martirizadas e a tantos refugiados nos países vizinhos.

Pedimos a quantos possam influir sobre o destino das pessoas raptadas, entre as quais se contam os Metropolitas de Alepo, Paulo e João Ibrahim, sequestrados no mês de Abril de 2013, que façam tudo o que é necessário para a sua rápida libertação.

11. Elevamos as nossas súplicas a Cristo, Salvador do mundo, pelo restabelecimento da paz no Médio Oriente, que é «fruto da justiça» (Is 32, 17), a fim de que se reforce a convivência fraterna entre as várias populações, as Igrejas e as religiões lá presentes, pelo regresso dos refugiados às suas casas, a cura dos feridos e o repouso da alma dos inocentes que morreram.

Com um ardente apelo, dirigimo-nos a todas as partes que possam estar envolvidas nos conflitos pedindo-lhes que dêem prova de boa vontade e se sentem à mesa das negociações. Ao mesmo tempo, é preciso que a comunidade internacional faça todos os esforços possíveis para pôr fim ao terrorismo valendo-se de acções comuns, conjuntas e coordenadas. Apelamos a todos os países envolvidos na luta contra o terrorismo, para que actuem de maneira responsável e prudente. Exortamos todos os cristãos e todos os crentes em Deus a suplicarem, fervorosamente, ao Criador providente do mundo que proteja a sua criação da destruição e não permita uma nova guerra mundial. Para que a paz seja duradoura e esperançosa, são necessários esforços específicos tendentes a redescobrir os valores comuns que nos unem, fundados no Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.

12. Curvamo-nos perante o martírio daqueles que, à custa da própria vida, testemunham a verdade do Evangelho, preferindo a morte à apostasia de Cristo. Acreditamos que estes mártires do nosso tempo, pertencentes a várias Igrejas mas unidos por uma tribulação comum, são um penhor da unidade dos cristãos. É a vós, que sofreis por Cristo, que se dirige a palavra do Apóstolo: «Caríssimos, (…) alegrai-vos, pois assim como participais dos padecimentos de Cristo, assim também rejubilareis de alegria na altura da revelação da sua glória» (1 Ped 4, 12-13).

13. Nesta época preocupante, é indispensável o diálogo inter-religioso. As diferenças na compreensão das verdades religiosas não devem impedir que pessoas de crenças diversas vivam em paz e harmonia. Nas circunstâncias actuais, os líderes religiosos têm a responsabilidade particular de educar os seus fiéis num espírito respeitador das convicções daqueles que pertencem a outras tradições religiosas. São absolutamente inaceitáveis as tentativas de justificar acções criminosas com slôganes religiosos. Nenhum crime pode ser cometido em nome de Deus, «porque Deus não é um Deus de desordem, mas de paz» (1 Cor 14, 33)

(Imagem em destaque: tanques em frente a mesquita em Azaz, ao norte de Alepo, Síria. Foto: Christiaan Triebert.)