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Julian Assange: condenado pelos EUA, mas livre

Em uma virada surpreendente, o jornalista australiano Julian Assange deixou nesta segunda-feira (24) a prisão de segurança máxima Belmarsh, em Londres, onde foi mantido por 1901 dias em uma cela solitária, rumo às Ilhas Marianas, uma colônia norte-americana no pacífico. Hoje, foi condenado por um tribunal dos EUA após confessar-se culpado de conspirar para violar segredos relativos à “segurança nacional” daquele país. Contudo, o juiz o sentenciou ao tempo já cumprido na prisão britância, o que resultou na soltura de Assange, que hoje mesmo retornou à Austrália, onde foi recebido por apoiadores e pela mídia.

Julian Assange saindo preso da Embaixada do Equador em Londres (2019).

Ontem fez 12 anos que Julian foi recebido na Embaixada do Equador em Londres, onde obteve o status de refugiado, mas de onde o Reino Unido não o deixava sair, ou seria preso devido a uma ordem internacional de captura emitida pela Suécia, com base em uma investigação de suposta violência sexual – havia o medo de que, preso e enviado para a Suécia, os Estados Unidos pedissem sua extradição. Quando mudanças políticas no país sul-americano levaram a sua expulsão da embaixada em 2019, foi preso pela polícia britânica e submetido ao mais duro tratamento, em contínuo confinamento solitário, mesmo após a acusação ser arquivada no mesmo ano.

Stella Assange e Kristinn Hrafnsson falam sobre a soltura de Julian Assange.

A saída de Julian Assange da prisão de Belmarsh ocorreu após um acordo com autoridades dos Estados Unidos, segundo o qual ele teria que ir até o território norte-americano das Ilhas Marianas, onde se confessaria culpado do crime de conspirar para obter segredos relacionados à defesa nacional e seria sentenciado apenas ao período já cumprido na prisão londrina. Foi o que aconteceu: “acredito que o senhor Assange já sofreu consequências significativas, incluindo, como discutimos, seu tempo em Belmarsh […] acreditamos […] que não há necessidade de mais encarceramento e que a sentença pelo tempo já cumprido é apropriada”, disse o procurador – o governo dos EUA indicou, ainda, que nenhuma pessoa foi vítima nesse caso. Em sua confissão, Julian Assange afirmou que acreditava estar protegido pela primeira emenda à Constituição dos EUA, a qual garantiria a livre expressão – essa emenda é usada para defender manifestações neonazistas, mas não para proteger jornalistas que em seu trabalho atentem contra os interesses norte-americanos.

Julian Assange deixa a corte federal dos EUA em Saipan, Ilhas Marianas.

Julian Assange é o fundador da Wikileaks, um site especializado em revelar segredos de organizações poderosas, sejam estados nacionais ou grandes corporações que escondem seus malfeitos atrás da cortina do sigilo fiscal ou de “segurança”. Entre os casos mais famosos divulgados pela organização estão o assassínio de civis em Nova Bagdá, no Iraque, por pilotos militares norte-americanos, caso conhecido como “assassinato colateral” (collateral murder), o vazamento de documentos que indicam a fabricação de um resultado contra a Síria no suposto ataque químico a Duma, o vazamento de telegramas diplomáticos norte-americanos, caso conhecido como Cablegate, e até mesmo que os Estados Unidos grampearam 29 telefones do avião presidencial e de autoridades brasileiras – neste caso, o responsável pelo vazamento, Edward Snowden, precisou procurar refúgio na Rússia para fugir da perseguição norte-americana, e lá obteve cidadania em 2022.

(Foto em destaque: Julian Assange na Embaixada do Equador em Londres. Cancillería de Ecuador/Flickr. CC-BY-SA 2.0)

Rússia: Ucrânia ataca banhistas em Sevastopol

A cidade autônoma de Sevastopol, na Península da Crimeia, foi atacada neste domingo (23) por mísseis norte-americanos ATACMS com munição de fragmentação. O alvo foi uma praia lotada, e o ataque deixou quatro mortos (sendo duas crianças) e mais de 150 feridos. Mikhail Podolyak, assessor presidencial ucraniano, tentou justificar o ato dizendo que se tratava de “ocupantes civis”. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos afirmou à Agencia TASS que a utilização de munições de fragmentação em áreas povoadas é contrária aos princípios do direito humanitário.

Socorro a vítimas do ataque ucraniano a praia em Sevastopol, na Crimeia.

No mesmo dia, a República Autônoma do Daguestão sofreu um ataque terrorista que deixou mais de uma dezena de mortos, entre policiais, civis e criminosos – entre os alvos estiveram uma igreja ortodoxa e uma sinagoga. Um padre chamado Nikolay, que era um dos símbolos da convivência entre as religiões na república pertencente a Federação Russa está entre os mortos.

Escultura representando o padre Nikolay, morto no atentado no Daguestão, em meio a rabino e mulá. (Foto: Daniil/Russians With Attitude)

Massacre israelense na Faixa de Gaza: ao menos 274 civis mortos

Utilizando um cais flutuante montado pelos Estados Unidos e com apoio por ar e terra, as forças armadas israelenses resgataram quatro reféns ontem (8), mas mataram pelo menos 274 civis palestinos. Disfarçados de comboio humanitário, inclusive com um caminhão pintado de branco chegando pelo cais norte-americano, as forças israelenses avançaram atirando em Nuseirat, cometendo novamente crimes de guerra, a saber, “dirigir intencionalmente ataques à população civil em geral ou civis que não participem diretamente nas hostilidades” e . Os ataques aéreos foram dirigidos contra um mercado e um campo de refugiados.

Lavrov: F-16 para a Ucrânia são sinal no campo nuclear

Em entrevista à agência de notícias russa RIA Novosti, o ministro de negócios estrangeiros russo, Sergey Lavrov, afirmou que a entrega de caças F-16 para a Ucrânia são uma “ação sinalizadora” da OTAN no campo nuclear. Segundo ele, ao entregar caças F-16 a Organização do Tratado do Atlântico Norte dá a conhecer à Rússia que os Estados Unidos e a Aliança estão “prontos literalmente para tudo”. Os exercícios com armas nucleares não-estratégicas conduzidos pela Rússia e pela Bielorrússia, continuou, deveriam trazer os oponentes à razão. Entrementes, a Dinamarca avisou que os F-16 que entregará à Ucrânia poderão ser usados para ataques em território russo.

A Federação Russa já se pronunciou diversas vezes nesse sentido, visto que esses caças são os mesmos estacionados na Alemanha e na Turquia para utilizar armas nucleares norte-americanas. Em entrevista anterior, Lavrov afirmou que países da União Europeia, especialmente a Polônia e os países bálticos, “cumprem no terreno a tarefa que os Estados Unidos estabeleceram: enfraquecer a Rússia e dar-lhe uma derrota estratégica” – acrescentando: “nos círculos de cientistas políticos do ocidente, já se fala em descolonizar a Rússia”.

Opinião de Visão Católica

Como diz insistentemente o papa Francisco, “o uso de armas nucleares, assim como sua posse, é imoral“. Criar uma falsa segurança através de um equilíbrio de terror dificulta o verdadeiro diálogo. A solução para o conflito na Ucrânia, portanto, não virá do uso de portadores em potencial de armas nucleares, nem de exercícios para seu uso, mas sim de um verdadeiro diálogo que leve em consideração o sofrimento da população local, seja russa, seja ucraniana, e da construção da confiança e cooperação entre os países – não apenas a Federação Russa e a Ucrânia, mas também aqueles atores geopolíticos que interferem na situação, especialmente a OTAN e a União Europeia.

(Imagem em destaque: RIA Novosti)

Rússia: míssil dos EUA derrubou avião com prisioneiros

A Rússia divulgou vídeo de seu Comitê Investigativo analisando destroços de um míssil do sistema Patriot, fornecido pelos EUA e seus aliados à Ucrânia, no local da tragédia com o avião Il-76 que transportava prisioneiros de guerra que seriam trocados no último dia 24 de janeiro por prisioneiros russos. O avião transportava 6 tripulantes, 3 policiais militares e 65 prisioneiros. Foram encontrados 116 fragmentos dos mísseis disparados contra o avião, que caiu próximo a Belgorod, na Rússia.

Investigadores russos junto a fragmentos de míssil do sistema Patriot no local do abate do avião Il-76.

O país também divulgou que conseguiu identificar restos mortais de todas as 74 vítimas. Os remanescentes consistem em 670 fragmentos de corpos, que foram identificados por análise de DNA. O lado russo afirma que a Ucrânia havia sido informada sobre o transporte, mas mesmo assim disparou 2 mísseis Patriot a partir da região de Kharkov, do outro lado da fronteira.

Logo que a notícia começou a se espalhar, manchetes foram redigidas na Ucrânia afirmando que “foi trabalho nosso”, “abate do Il-76 em Belgorod foi trabalho das Forças Armadas da Ucrânia”. Quando a Rússia divulgou que o avião transportava prisioneiros de guerra, porém, as manchetes foram alteradas para “caiu um avião” e “transportava mísseis” (do que não há evidência até o momento).

Iraque: sai ExxonMobil, entra Petrochina

A Petrochina substituirá a ExxonMobil como principal acionista na operação do campo de petróleo Qurna Ocidental 1, na região de Basra, no Iraque. Trata-se de uma das maiores reservas conhecidas, com capacidade extrativa estimada em 20 bilhões de barris e produção diária de 560 mil barris de petróleo. Com isso, a empresa norte-americana encerra sua operação no Iraque.

Resumo diário 21/07/2020

Leia as notícias mais interessantes de hoje:

Filipinas: bispos preocupados com lei antiterrorismo

A Conferência Episcopal das Filipinas expressaram sua preocupação com a nova lei antiterrorismo, que entrou em vigor no dia 18. A Conferência se pronunciou em carta pastoral, lida em todas as missas do país no dia seguinte. Segundo o Vatican News, a carta salienta os pontos críticos do frágil sistema democrático filipino, como os ativistas serem tachados de “comunistas”, as falsas acusações de “insurreição” feitas contra o clero, a “guerra contra as drogas” que motivou inúmeros assassinatos de jovens pela polícia, a detenção prolongada da senadora da oposição Leila de Lima e o fechamento da emissora ABS-CBN, cuja concessão não foi renovada. A nova lei traz definições vagas de “terrorismo” e “ato terrorista” – contudo, os bispos expressaram sua confiança naqueles que, dentro e fora da administração pública, agem conforme sua consciência e não se deixam curvar pelas pressões no cumprimento de seus deveres.

Após bloqueio governista, Fundeb permanente é aprovado

Após o governo federal apresentar uma nova proposta para o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) aos 45 minutos do segundo tempo, depois de ter praticamente ignorado a discussão do assunto no Congresso Nacional, os deputados aprovaram em primeiro turno a transformação do Fundeb em uma política permanente e com maior financiamento federal. O governo Bolsonaro chegou a tentar obstruir a votação, o que poderia deixar estados e municípios sem dinheiro suficiente para a educação básica em 2021 – o atual Fundeb acaba no final de 2020. Após acordo, a participação da União no fundo (que passaria dos atuais 10% para 20%) aumentou para 23%, sendo 5% destinados pelos municípios à educação infantil. Ontem, 20 governadores de diversos partidos haviam se manifestado favoráveis ao texto apresentado pela deputada federal Professora Dorinha (DEM-GO). A proposta ainda será votada novamente pela Câmara dos Deputados e, depois, em mais dois turnos pelo Senado Federal.

Banco dos BRICS aprova crédito de US$ 1 bilhão para Brasil combater a COVID-19

Embora tenha sido eleito prometendo reverter a política internacional de privilegiar a relação com os países do “sul” econômico, o governo federal obteve ontem do Novo Banco de Desenvolvimento a aprovação de um empréstimo de um bilhão de dólares para combate à pandemia de COVID-19. O banco foi criado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS) em 2014 para fortalecer a relação entre os países e apoiar instituições regionais e multilaterais de desenvolvimento – novamente, em sentido contrário ao discurso do governo Bolsonaro nas relações internacionais. O empréstimo servirá para fortalecer as seguridade social brasileira e mitigar o impacto socioeconômico da pandemia.

Patriarcado caldeu denuncia deportação de iraquianos dos EUA

Em comunicado divulgado ontem (20), o patriarcado caldeu no Iraque definiu a deportação de iraquianos há muito residentes nos Estados Unidos da América como “desumana e imoral”. Os deportados muitas vezes são forçados a se separar de suas famílias ou a levar para o Iraque filhos nascidos nos Estados Unidos e que não falam árabe, criando um novo exílio forçado e expondo as famílias ao risco de isolamento social e à falta de trabalho e meios de subsistência. No início do mês, 1.400 iraquianos perderam uma ação que moviam na Suprema Corte dos Estados Unidos contra a deportação – ação na qual muitos alegavam que a expulsão dos EUA para o Iraque os exporia ao risco de sofrer tortura e perseguição. A ação conta com apoio do governo iraquiano, que tenta com isso retirar o Iraque do chamado “Muslim Ban”, a proibição de entrada nos EUA de pessoas provenientes de países de maioria muçulmana. Tropas norte-americanas até hoje ocupam o Iraque.

(Foto em destaque: Najara Araújo/Câmara dos Deputados.)

Aumenta a tensão na Síria

A Turquia apoiou ontem (20) uma investida de seus milicianos islamitas contra o exército sírio. Inicialmente, conseguiram romper as defesas da Síria em Nairab, na província de Idlib. Em resposta, a aviação russa contra-atacou, destruindo um tanque, seis veículos de transporte de tropas e cinco caminhonetes, matando dois militares turcos.

Ainda ontem, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan solicitou que os Estados Unidos posicionem suas defesas antimísseis na fronteira turca com a Síria, mas ainda não obteve resposta. Ele também conversou com os chefes de governo da França e da Alemanha, tentando obter apoio para uma guerra contra a Síria, levando consigo a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). O presidente turco disse que o problema da Turquia em Idlib “é com Damasco”, não com a Rússia, tentando dar um chega-pra-lá na potência eurasiática aliada do governo sírio.

Hoje, um caça F-16 turco entrou no espaço aéreo sírio em uma região dominada pela turquia. Um avião do exército russo seguiu em sua direção, e o avião turco se evadiu. Aparentemente, tratou-se de um teste da defesa área da Síria em preparação para uma guerra aberta.

(Com informações de liveuamap.com e Sputnik. Foto em destaque: SU-24 da Rússia. Fonte: Alexander Mishin.)

VÍDEO: para entender o conflito EUA x Irã

Como já foi dito no vídeo do dia 1º de janeiro, Estados Unidos e Irã estão em uma escalada de violência recíproca nos territórios do Iraque e da Síria. Esse vídeo ajuda a entender a história por trás desse acontecimento e qual era o papel do general Qassem Suleimani, morto há duas noites, nos conflitos que assolam a Síria e o Iraque.

Que Deus nos dê a sua paz!

Foto em destaque: General Qassem Suleimani (Sayyed Shahab-o- Din Vajedi via Wikimedia Commons).

EUA entregam território sírio à Turquia

Hoje (17), Estados Unidos da América e Turquia anunciaram um acordo que resultaria na retirada de sanções americanas contra o governo turco. Foi anunciado um suposto cessar-fogo na região noroeste da República Árabe da Síria, que já não se confirma devido ao assalto continuado dos turcos à cidade fronteiriça de Ras al Ayn. Os termos do acordo, a respeito do qual não foram consultados nem o governo sírio, nem as Forças Democráticas da Síria (grupo que engloba curdos, siríacos, assírios e árabes), dizem que as forças armadas turcas imporão uma “zona de segurança” na região. Dessa forma, o que ficou do acordo é a concordância dos EUA com a ocupação de todo o norte da Síria pela Turquia. Abaixo, o texto do acordo:

Acordo turco-americano para ocupação do nordeste da Síria. Fonte: Jeff Seldin, correspondente da Voz da América.