ACI distorce fala de Lula sobre aborto

A agência de notícias ACI Digital (antes chamada Agência Católica de Imprensa) distorceu, na última sexta-feira (25 de março) a fala do ex-presidente Lula em uma entrevista à rádio Super Notícia, de Belo Horizonte. O entrevistador comparou a propaganda dita “conservadora” que elegeu Bolsonaro com pautas chamadas “progressistas” em outros países da América Latina, incluindo a legalização do aborto. Lula respondeu que essa pauta não compete à Presidência da República, e sim a Congresso Nacional e ao Poder Judiciário – o papel do presidente é apenas cuidar das questões de saúde pública relacionadas às decisões dos outros poderes.

Apesar de reconhecer que Lula é contra o aborto, a ACI Digital selecionou trechos da fala que dariam a entender que a atual proibição com exceções seria reduzida a “questão de saúde pública”. “Cabe ao Estado dar a essas pessoas capacidade de tratamento digno, esse é o papel do Estado”, disse Lula, no que todo católico deve concordar – independente do que a pessoa tenha feito antes de precisar de precisar de assistência à saúde.

Veja o vídeo original:

(Foto em destaque: ex-presidente Lula discursa na abertura da conferência anual da Organização das Nações Unidas sobre Alimentação. Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

Ucrânia: Rússia anuncia objetivos cumpridos, Kiev apresenta propostas

Hoje (29), o ministro da defesa russo, Sergey Shoygu anunciou que seu país concluiu a primeira fase da guerra na Ucrânia, e que passará a focar seus esforços na região de Donbas. Logo em seguida, porém, as negociações de paz que ocorriam na Turquia foram interrompidas pelo lado russo. Depois disso, a Ucrânia apresentou suas propostas:

  • A Ucrânia não participaria de nenhum bloco com outras nações, e permaneceria como Estado não-nuclear.
  • Haveria garantias estritas e vinculantes de países incluindo o Reino unido, a China, os EUA, a Turquia, a França, o Canadá, a Itália, a Polônia e Israel, que concordariam em proteger essa Ucrânia neutra em caso de ataque. Exceto no Donbas e na Crimeia.
  • A Ucrânia não ingressaria em nenhuma aliança militar, e exercícios militares internacionais requereriam o consentimento dos estados garantidores.
  • A situação da Crimeia seria decidida após 15 anos de consultas.
  • O futuro das regiões autonomistas no Donbas seria decidido à parte pelos presidentes da Ucrânia e da Rússia.

Contudo, a Ucrânia condicionou a assinatura de um acordo ao retorno prévio das forças às posições ocupadas no dia 23 de fevereiro, antes da invasão russa.

Quanto ao pronunciamento de Sergey Shoygu, ele afirmou que “o potencial de combate das Forças Armadas da Ucrânia foi significativamente reduzido, o que permite concentrar as principais atenções e os principais esforços na consecução do objetivo principal: a libertação do Donbass”. A partir de agora, haveria a redução da presença de tropas russas no entorno de Kiev e Tchernigiv, cidades próximas à Bielorrússia.

As perdas ucranianas anunciadas hoje pela Rússia foram:

  • 123 de 152 aviões;
  • 77 de 149 helicópteros;
  • 152 de 180 equipamentos de defesa antiaérea de médio e longo alcance.

(Foto em destaque: Sergey Shoygu. Ministério da Defesa da Rússia.)

Iêmen: nova escalada da guerra

A guerra no Iêmen, país da península arábica, sofreu uma nova escalada – a denúncia é do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterrez. “O secretário-geral está profundamente consternado com as notícias de bombardeios na cidade de Hudaydah e de seus portos, que proveem ajuda humanitária crítica para a vida da população iemenita”, disse a porta-voz do secretário-geral, Stéphane Dujarric.

Na sexta-feira, as forças xiitas Houthis (também conhecidas como Ansar Allah), apoiadas pelo Irã, bombardearam instalações civis e energéticas na Arábia Saudita, que apoia as forças sunitas – as imagens da coluna de fumaça subindo de uma refinaria próxima ao autódromo da corrida de Fórmula 1 deste fim de semana correram o mundo. Ontem, foi a vez de a coalizão apoiada pelos sauditas retaliarem com os ataques mencionados e também contra o porto de Salif e a capital, Sanaa. Estes ataques mataram oito civis, sendo cinco crianças e duas mulheres. Esses ataques danificaram o complexo residencial que abriga o pessoal das Nações Unidas na capital do país.

O chefe das Nações Unidas conclamou a uma investigação dos incidentes, à contenção das partes, à redução imediata das tensões, ao cessar-fogo e à obediência à lei humanitária internacional, além de se chegar urgentemente a uma resolução negociada do conflito, que já chega a seu oitavo ano.

(Foto em destaque: Menino de pé dentro de um edifício danificado no Iêmen. Giles Clarke/UNOCHA.)

DataSUS: diretor leva dados da saúde para a Amazon e vai junto com eles

Em abril de 2020, o Ministério da Saúde e a Embratel firmaram um acordo para levar os dados do Sistema Único de Saúde (SUS) para servidores de Internet da Amazon, empresa do oligarca norte-americano Jeff Bezos. Assim, informações de saúde de quase todos os brasileiros passaram para o controle de uma das maiores empresas dos EUA, contratada do Departamento de Defesa desse país, e que tem entre seus serviços o que diz ser “o mais amplo e profundo serviço de aprendizado de máquina e inteligência artificial”. Ocorre que o diretor responsável pela contratação, Jacson Barros, saiu do DataSUS direto para a Amazon, um caso de conflito de interesses que gera dúvidas sobre a lisura da escolha da corporação estadunidense – a informação é do jornal Brasil de Fato.

Embora a Amazon seja contratada por diversas empresas privadas para manter seus dados e hospedar seus sistemas eletrônicos, o governo federal tem duas grandes empresas na área: o Serpro e a Dataprev. Apesar de serem empresas estratégicas e lidarem com dados sensíveis do governo e da população, ambas vêm sofrendo com orçamento insuficiente e têm sido ignoradas em contratações públicas, além de terem sido expostas na vitrine do governo para vender tudo o que resta dos sistemas eletrônicos e dados públicos brasileiros: em 2019 foram incluídas na lista de empresas públicas a serem privatizadas.

(Foto em destaque: ex-diretor do DataSUS, Jacson Barros – Ministério da Saúde)

Ucrânia e Rússia mais perto de um acordo

Segundo afirmado hoje pelo presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan – que vem atuando como mediador entre seus homólogos russo e ucraniano –, Rússia e Ucrânia estariam mais próximos de um acordo. O jornalista Ragip Soylu, há algum entendimento sobre quatro dos seis tópicos sobre a mesa: OTAN, desarmamento parcial, segurança coletiva e língua russa. Contudo, dois assuntos seguem em aberto: Crimeia e Donbas.

A Crimeia, pertencente à Rússia desde que o canato tártaro subsidiário do Império Turco-Otomano foi derrotado no final do século XVIII e defendida na Segunda Guerra da Crimeia contra os turco-otomanos apoiados por França, Inglaterra, Sardenha e Áustria – isso logo antes de importantes mudanças sociais ocorridas no Império Russo, como o fim da servidão em 1861. Em 1954, contudo, o ucraniano Nikita Khruschev, ex-presidente da República Socialista Soviética da Ucrânia e então secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, transferiu a República Socialista Soviética Autônoma da Crimeia do território russo para o território ucraniano em nome da “amizade entre os povos”.

Entre 1961 e 1971, foi construído o Canal da Crimeia, que levava água do rio Dniepr (que corta a Ucrânia ao meio) até o limite oriental da Península da Crimeia. Contudo, em 2014, após a reanexação da Crimeia pela Rússia, a Ucrânia construiu um dique a 16Km da fronteira, o qual impediu o fluxo da água até a Crimeia, impondo um estado de grande escassez hídrica na região. Esse dique foi explodido em 26 de fevereiro deste ano e a água voltou a fluir para a península. É de se esperar, portanto, que a Rússia resista em devolver esse território.

Já a região do Donbas, que em sua maioria fala a língua russa (proibida no ensino e nos atos de governo ucranianos desde 2019), foi reconhecida pela Rússia como independente da Ucrânia no último dia 21 de fevereiro, após quase oito anos de guerra civil e o fracasso dos acordos de Minsk – as elites políticas da região centro-ocidental da Ucrânia sempre barraram a autonomia territorial dos oblasti de Donetsk e Lugansk prevista nos acordos.

Atualização

Segundo o ministro de negócios estrangeiros da Ucrânia, Dmitro Kuleba, não há acordo para o uso do russo como segunda língua oficial na Ucrânia. “A única língua estatal na Ucrânia é e será o ucraniano.”

(Imagem em destaque: dique no Canal da Crimeia é explodido pela Rússia na guerra contra a Ucrânia)