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Rússia: Ucrânia ataca banhistas em Sevastopol

A cidade autônoma de Sevastopol, na Península da Crimeia, foi atacada neste domingo (23) por mísseis norte-americanos ATACMS com munição de fragmentação. O alvo foi uma praia lotada, e o ataque deixou quatro mortos (sendo duas crianças) e mais de 150 feridos. Mikhail Podolyak, assessor presidencial ucraniano, tentou justificar o ato dizendo que se tratava de “ocupantes civis”. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos afirmou à Agencia TASS que a utilização de munições de fragmentação em áreas povoadas é contrária aos princípios do direito humanitário.

Socorro a vítimas do ataque ucraniano a praia em Sevastopol, na Crimeia.

No mesmo dia, a República Autônoma do Daguestão sofreu um ataque terrorista que deixou mais de uma dezena de mortos, entre policiais, civis e criminosos – entre os alvos estiveram uma igreja ortodoxa e uma sinagoga. Um padre chamado Nikolay, que era um dos símbolos da convivência entre as religiões na república pertencente a Federação Russa está entre os mortos.

Escultura representando o padre Nikolay, morto no atentado no Daguestão, em meio a rabino e mulá. (Foto: Daniil/Russians With Attitude)

Rússia e Coreia do Norte assinam tratado de parceria estratégica

Vladímir Putin e Kim Jong Un assinaram ontem (19) um tratado de parceria estratégica entre a Rússia e a República Popular Democrática da Coreia. O texto integral do acordo foi publicado hoje pela agência de notícias norte-coreana KCNA. O ponto que causou maior alvoroço foram os artigos relativos à parceria militar, inclusive com o fornecimento de ajuda militar em caso de agressão estrangeira, mas sob a égide do artigo 51 da Carta das Nações Unidas, que prevê o direito à legítima defesa individual ou coletiva em caso de ataque armado, submetendo-se as medidas tomadas às decisões ulteriores do Conselho de Segurança – não há, contudo, obrigação em tomar parte de combates. O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, contudo, chamou o tratado de “pacto de defesa mútua”.

Encontro das delegações russa e coreana, dia 19 de junho de 2024 (Foto: KCNA).

Também chamam a atenção, embora não tenham repercutido tanto quanto a parceria militar, pontos como o objetivo declarado de estabelecer uma ordem mundial multipolar justa (artigo 6), a cooperação em segurança alimentar, energética e informacional (artigo 9 – muito necessárias à Coreia do Norte, que conta com poucas terras agricultáveis), a luta contra sanções unilaterais (artigo 16), a defesa de uma governança global da Internet que respeite a soberania dos estados, e até o combate ao financiamento da proliferação de armas de destruição em massa (artigo 17 – embora a Coreia do Norte tenha recentemente desenvolvido armamento nuclear).

O que diz o tratado

Veja abaixo o resumo do tratado:

  • Artigo 1: estabelece uma relação estratégica e abrangente entre as partes, baseada nas obrigações dos signatários no direito próprio e internacional, de acordo com os princípios internacionais, incluindo o respeito mútuo pela soberania dos dois estados, a integridade territorial, a não ingerência em assuntos internos.
  • Artigo 2: os dois países, por meio do diálogo e de conversações, inclusive no mais alto nível, trocam opiniões sobre as questões de relações bilaterais e a agenda internacional de interesse mútuo, fortalecendo a coordenação e interação entre ambos em plataformas internacionais.
  • Artigo 3: os dois lados cooperam entre si para garantir regional e internacionalmente a paz e a segurança duradouras.
  • Artigo 4: se uma das partes for submetida a um ataque armado de qualquer Estado ou de vários estados e assim se encontrar em estado de guerra, a outra parte imediatamente fornecerá assistência militar e não-militar com todos os meios a sua disposição, em conformidade com o artigo 51 da Carta da ONU.
  • Artigo 5: Coreia e Rússia se comprometem a não celebrar acordos com outros estados que destinados a violar a soberania, a segurança, a integridade interritorial, o direito à livre escolha e desenvolvimento do sistema político, social, econômico e cultural um do outro, nem participar de tais ações. Também os territórios dos dois países não poderão ser utilizados para esses fins.
  • Artigo 6: as duas partes apoiarão as medidas e políticas pacíficas uma da outra destinadas a proteger a soberania estatal, garantindo sua segurança e estabilidade, defendendo seu direito ao desenvolvimento, além de cooperar ativamente entre si na execução de políticas com a finalidade de uma ordem mundial multipolar justa.
  • Artigo 7: Coreia do Norte e Rússia cooperarão entre si nas Nações Unidas e suas agências especializadas nas matérias de interesse comum e de segurança das partes, além de apoiar a adesão de cada uma a organizações internacionais e regionais relevantes.
  • Artigo 8: os países criam mecanismos para atividades conjuntas destinadas a reforçar as capacidades de defesa no interesse de prevenir a guerra e promover a paz e a segurança regional e internacional.
  • Artigo 9: ambos interagem para enfrentar conjuntamente os desafios e ameaças em áreas de importância estratégica, incluindo segurança alimentar, energética e de tecnologia da informação e comunicação (TIC), alterações climáticas , saúde e cadeias de abastecimento.
  • Artigo 10: Rússia e Coreia promovem a expansão e o desenvolvimento da cooperação nos domínios econômico-comercial, de investimento, e técnico-científico. Promovem o aumento do comércio e criam condições favoráveis para a cooperação, prestam assistência às zonas econômicas especiais/livres uma da outra. Incentivam o intercâmbio e a cooperação em áreas da ciência e da tecnologia tais como o espaço, a biologia, a energia nuclear pacífica, a inteligência artificial, a tecnologia da informação e outras.
  • Artigo 11: as partes realizarão eventos para promover as relações bilaterais, incluindo missões empresariais, conferências, exposições, feiras etc.
  • Artigo 12: os dois países reforaçam o intercâmbio e a cooperação nos domínios da agricultura, educação, saúde, esportes, cultura, turismo e outros e interagirão na área da proteção ambiental e alívio de desastres naturais.
  • Artigo 13: as partes cooperam no reconhecimento mútuo de normas e outras aplicações técnicas.
  • Artigo 14: cada parte protege os direitos e interesses dos cidadãos e pessoas jurídicas da outra parte que se encontrarem em seu território. As partes cooperarão em matéria civil e criminal, incluindo na extradição de pessoas e devolução de bens.
  • Artigo 15: são aprofundados os contatos entre as entidades estatais de ambas as partes.
  • Artigo 16: Rússia e Coreia do Norte se opõem às sanções unilaterais, incluindo as de natureza extraterritorial, considerando-as contrárias à Carta das Nações Unidas e às normas do direito internacional. As partes coordenam esforços e interagem para apoiar iniciativas que visam à eliminação da prática da utilização de tais medidas. Tais medidas, prossegue o artigo, não serão aplicadas direta ou indiretamente por uma parte às pessoas naturais ou jurídicas da outra, além do quê, os países empreendem esforços para mitigar os riscos e os impactos de medidas assim adotadas por outros países.
  • Artigo 17: os países cooperam na luta contra o terrorismo internacional, extremismo, crime organizado transacional, tráfico de seres humanos, tomada de reféns, migração ilegal, fluxos financeiros ilícitos, legalização de produtos do crime, financiamento do terrorismo, financiamento da proliferação de armas de destruição em massa, ameaças à aviação civil e à navegação marítima, contrabando, tráfico de drogas, armas, bens culturais e históricos.
  • Artigo 18: estabelece a interação no domínio da segurança internacional da informação e a contribuição dos dois estados para a formação de um sistema para prover essa segurança, inclusive através de documentos universais juridicamente vinculantes. O estados, segundo a Coreia do Norte e a Rússia, devem ter direitos iguais na gestão da Internet e contra a utilização maliciosa das TIC com a finalidade de prejudicar a dignidade e a reputação de estados soberanos e usurpar seus direitos, considerando “inaceitáveis quaisquer tentativas de limitar o direito soberano de regular e garantir a segurança dos segmentos nacionais da rede global”.
  • Artigo 19: Rússia e Coreia do Norte promovem intercâmbios literários, o uso da língua coreana na Rússia e da língua russa na Coreia, o conhecimento mútuo e a comunicação de seus povos.
  • Artigo 20: os dois países cooperam em matéria midiática, na promoção global de informação objetiva sobre eles e na criação de condições favoráveis para a interação dos meios de comunicação nacionais.
  • Artigo 21: as partes trabalham para ampliar o escopo da cooperação por meio de acordos setoriais em áreas não previstas nesse tratado.
  • Artigo 22: estabelece a vigência desse tratado a partir da troca dos instrumentos de ratificação entre Rússia e Coreia do Norte e estabelece que então cessará a vigência do acordo celebrado no ano 2000.
  • Artigo 23: trata da vigência do acordo por tempo indeterminado.

(Foto em destaque: Vladímir Putin e Kim Jong Un. KCNA)

Rússia x Ucrânia: Putin expõe exigências russas

Putin explicitou ontem (14/6) as condições russas para a paz – enquanto a Ucrânia exige a devolução dos territórios conquistados pela Rússia, inclusive as repúblicas de Lugansk, Donetsk e Crimeia, a Rússia exige a retirada das tropas ucranianas da totalidade das repúblicas do Donbass e das regiões de Kherson e Zaporojia, mesmo aquelas partes onde tropas da Federação Russa nunca estiveram.

Após o fracasso das negociações na Bielorrúsia e na Turquia – que levaram à retirada das tropas russas da região de Kiev, mas não foram concluídas com a assinatura de um acordo – e da proibição de negociações com Putin pelas autoridades ucranianas, o governo de Kiev elaborou um “plano de paz” que deveria ser aceito integralmente pela Rússia para por um fim à guerra. Entre os pontos principais estava a retirada russa de todo o território ucraniano do final de 1991, quando foi dissolvida a União Soviética – isso incluiria as repúblicas da Crimeia, Donetsk e Lugansk, que votaram para obter autonomia e lutaram para se tornarem parte da Rússia.

Exigências ucranianas

Os principais pontos do plano de paz ucraniano são:

  • Retirada das tropas russas das fronteiras ucranianas de 1991.
  • Restauração da soberania da Ucrânia nas fronteiras de 1991 (portanto, o fim das repúblicas da Crimeia, Donetsk e Lugansk).
  • Retorno da central nuclear de Zaparojia ao controle ucraniano.
  • Garantia da exportação de cereais ucranianos.
  • Limitações às vendas de recursos energéticos russos e ajuda à reconstrução dos recursos energéticos ucranianos destruídos na guerra.
  • Troca total de prisioneiros de guerra e retorno das crianças ucranianas retiradas da região de combates.
  • Criação de um tribunal especial para julgar crimes de guerra russos.
  • Desminagem e reparação de instalações de tratamento de água.
  • Garantias de segurança pela OTAN.

Exigências russas

As principais exigências da Rússia são:

  • Retirada das tropas ucranianas das regiões de Lugansk, Donetsk, Zaporojia e Kherson, segundo os limites territoriais dessas regiões em 1991.
  • Neutralidade e não-alinhamento da Ucrânia nas relações internacionais.
  • Status não-nuclear da Ucrânia.
  • Desmilitarização ucraniana.
  • Desnazificação ucraniana.
Mapa com as áreas atualmente ocupadas pela Rússia (amarelo) e as que teriam de ser desocupadas pela Ucrânia (vermelho) segundo as exigências de Vladímir Putin.

Putin acrescentou que, realizada a retirada de tropas e o abandono da pretensão de ingressar na OTAN, a Rússia imediatamente cessaria as hostilidades e daria início às negociações de paz.

Opinião de Visão Católica

Ambos os lados expõem como inegociáveis pontos que jamais serão aceitos pelo outro, especialmente as exigências territoriais. Por um lado, as repúblicas da Crimeia, Donetsk e Lugansk votaram para obter autonomia de Kiev e pegaram em armas para se opor às forças neonazistas que haviam derrubado o governo eleito em 2014. Por outro, a Federação Russa não controla hoje uma parte significativa do território que exige da Ucrânia – na verdade, suas tropas jamais chegaram à cidade de Zaporojia, capital da região homônima. Ainda que argumentem que houve referendos, uma parte significativa dessa região não se pronunciou pela incorporação à Rússia – independentemente da legalidade das votações.

Claro que propostas de paz devem ser discutidas, e as demandas de cada lado deveriam ser o ponto de partida das negociações. Contudo, Zelenski e Putin apresentam suas propostas como um verdadeiro ultimato, cuja não-aceitação resultaria em graves prejuízos para a outra parte. O caminho para a paz deveria passar por reconhecer os direitos de todas as pessoas que habitam a região, inclusive à liberdade linguística, cultural e religiosa, além de proibir e punir manifestações nazistas ou neonazistas, mesmo aquelas que foram elevadas ao status de identidade nacional na Ucrânia pós-soviética.

Lavrov: F-16 para a Ucrânia são sinal no campo nuclear

Em entrevista à agência de notícias russa RIA Novosti, o ministro de negócios estrangeiros russo, Sergey Lavrov, afirmou que a entrega de caças F-16 para a Ucrânia são uma “ação sinalizadora” da OTAN no campo nuclear. Segundo ele, ao entregar caças F-16 a Organização do Tratado do Atlântico Norte dá a conhecer à Rússia que os Estados Unidos e a Aliança estão “prontos literalmente para tudo”. Os exercícios com armas nucleares não-estratégicas conduzidos pela Rússia e pela Bielorrússia, continuou, deveriam trazer os oponentes à razão. Entrementes, a Dinamarca avisou que os F-16 que entregará à Ucrânia poderão ser usados para ataques em território russo.

A Federação Russa já se pronunciou diversas vezes nesse sentido, visto que esses caças são os mesmos estacionados na Alemanha e na Turquia para utilizar armas nucleares norte-americanas. Em entrevista anterior, Lavrov afirmou que países da União Europeia, especialmente a Polônia e os países bálticos, “cumprem no terreno a tarefa que os Estados Unidos estabeleceram: enfraquecer a Rússia e dar-lhe uma derrota estratégica” – acrescentando: “nos círculos de cientistas políticos do ocidente, já se fala em descolonizar a Rússia”.

Opinião de Visão Católica

Como diz insistentemente o papa Francisco, “o uso de armas nucleares, assim como sua posse, é imoral“. Criar uma falsa segurança através de um equilíbrio de terror dificulta o verdadeiro diálogo. A solução para o conflito na Ucrânia, portanto, não virá do uso de portadores em potencial de armas nucleares, nem de exercícios para seu uso, mas sim de um verdadeiro diálogo que leve em consideração o sofrimento da população local, seja russa, seja ucraniana, e da construção da confiança e cooperação entre os países – não apenas a Federação Russa e a Ucrânia, mas também aqueles atores geopolíticos que interferem na situação, especialmente a OTAN e a União Europeia.

(Imagem em destaque: RIA Novosti)

Navalny morreu de causas naturais, diz representante

A secretária de imprensa de Alexei Navalny, opositor russo de extrema-direita, afirmou que a investigação médica indicou que a morte dele no último dia 16 decorreu de causas naturais.

O político estava preso desde 17 de janeiro de 2021, tendo sido transferido em dezembro do ano passado para uma prisão na região de Iamália-Nenétsia, no Ártico. Sua condenação mais recente, em agosto de 2023, teve como fundamento o financiamento de atividades extremistas e a tentativa de reabilitar a ideologia nazista.

Embora fosse adulado pela imprensa ocidental e exibido como uma vítima do governo de Vladímir Putin, Navalny jamais renegou suas raízes na extrema-direita e a xenofobia, voltada especialmente contra os imigrantes do Cáucaso e os muçulmanos.

Vídeo mostrando Navalny manifestando seu apoio a marcha com neonazistas na Rússia.

(Foto em destaque por Mitya Aleshkovskiy)

Resumo diário: 17/02/2024

Guerra na Ucrânia: Rússia conquista Avdeevka

Após quase 10 anos de combate, incluindo 7 de cessar-fogo usado pela Ucrânia para construir fortificações, a cidade de Avdeevka (vizinha de Donetsk) foi tomada pelos russos. Leia mais aqui em Visão Católica.

Governo federal aumenta arrecadação com foco em grandes devedores

Focando a cobrança judicial em grandes devedores e negociando dívidas de contribuintes que comprovadamente não têm condições de pagar o montante cobrado, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional arrecadou 48 bilhões de reais, uma alta de 23,5%. A ação também racionaliza a cobrança de dívidas menores, que passam a usar procedimentos extrajudiciais, como o protesto em cartório, para tornar o processo mais eficiente – antes, o custo do processo judicial poderia ser maior que a própria dívida. Leia mais na Folha de S. Paulo.

Igrejas Católica e Copta celebram juntas os 21 mártires da Líbia

Na última quinta-feira (15), pela primeira vez a Igreja Católica e a Igreja Copta Ortodoxa celebraram juntas a memória dos 21 mártires coptas assassinados pelo Estado Islâmico na Líbia, há nove anos. Em 11 de maio de 2023, o patriarca de Alexandria, Tawadros II, entregou ao papa Francisco relíquias dos mártires, as quais foram agora expostas para a veneração dos fiéis. Correspondendo ao “ecumenismo de sangue” (termo cunhado por Francisco para expressar o sofrimento comum a cristãos de diferentes igrejas) pela primeira vez a Igreja Católica incluiu no Martirológio Romano santos pertencentes a uma Igreja que não está em comunhão com Roma. Leia mais (incluindo uma entrevista com egiptólogo e orientalista Christian Cannuyer) em Vatican News.

Bispos tentam negociar trégua entre narcotraficantes no México

Os quatro bispos do estado mexicano de Guerrero “buscamos o diálogo com os líderes que poderiam contribuir para que tivéssemos paz, mas ainda há interesses em ação nas mentes e nos corações de cada um deles, e não tivemos sucesso, mas não vamos parar de estabelecer esses diálogos”, disse dom Leopoldo Gonzáles, arcebispo de Acapulco. O presidente Andres Manuel Lopez Obrador se disse a favor da mediação da Igreja, ainda que reforçando que a responsabilidade pela paz e tranquilidade é do Estado. Leia mais em Vatican News.

Nigéria: Dicastério para a Evangelização expressa solidariedade diante de sequestros

Com sequestros fora de controle na Nigéria (3.964 casos desde maio de 2023, incluindo sequestros em massa na capital), o secretário do Dicastério para a Evangelização para a primeira evangelização, arcebispo Fortunato Nwachukwu, expressou sua solidariedade aos “bispos, o clero e os religiosos, seminaristas, membros devotos da Igreja, todos os cristãos e pessoas de boa vontade em toda a nação”. O bispo também instou o governo da Nigéria a enfrentar essa situação e, além de proteger vidas humanas e propriedades, com o apoio da igreja “buscar maneiras de reposicionar a nação no caminho do crescimento econômico, da estabilidade política e da coesão religiosa”. Leia mais em Vatican News.

(Ilustração em destaque: Leandro Arndt)

Guerra na Ucrânia: Rússia conquista Avdeevka

Após quase 10 anos de combate, incluindo 7 de cessar-fogo usado pela Ucrânia para construir fortificações, a cidade de Avdeevka (vizinha de Donetsk) foi tomada pelos russos. A liderança ucraniana anunciou ontem a retirada de tropas da localidade, embora muitos prisioneiros tenham sido feitos e muitos tenham morrido na tentativa de defendê-la após a Rússia tomar todos os caminhos de saída. Nas palavras do jornalista Bruno Amaral de Carvalho, que acompanha os acontecimentos desde Donetsk:

Incapaz de conter o avanço das tropas russas e prestes a ficar sob cerco, a Ucrânia acaba de anunciar a retirada das suas tropas de Avdeevka. A queda desta cidade nos arredores de Donetsk é uma perda estratégica para as forças ucranianas que deixam de ter uma posição importante a apenas 24 quilómetros da maior cidade do Donbass. Desde 2014 que as forças ucranianas disparavam com artilharia pesada sobre Donetsk. Com a derrota em Pesky, Maryinka e Avdeevka, a Ucrânia perdeu as suas três principais praças fortes na zona. Que as forças ucranianas abandonem assim uma cidade é também uma mudança táctica que é reflexo da falta de homens na linha da frente. Entretanto Zelensky queixou-se da falta de armamento por culpa do Ocidente.

Ainda não há números oficiais sobre a quantidade de prisioneiros feita pela Federação Russa no local, que era defendido pela 110ª Brigada Mecanizada da Ucrânia, a qual nos últimos dias recebeu reforços da 3ª Brigada de Assalto da Guarda Nacional Ucraniana (o infame Batalhão de Azov, uma formação neonazista). Diversos relatos de soldados ucranianos feridos abandonados à própria sorte por Kiev chegaram às redes sociais.

(Foto em destaque: Telegram de Bruno Amaral de Carvalho.)

Ucrânia afunda corveta russa

Com o uso de veículos navais de superfície não tripulados, a Ucrânia conseguiu afundar a corveta Ivanovets, da classe Molnya, na lagoa Donuzlav, na Crimeia. Vídeo divulgado pelo serviço de inteligência ucraniano hoje mostra o uso de uma grande quantidade de veículos atacantes contra a corveta, que tenta destruí-los com canhões, mas inutilmente. Danos logo abaixo do compartimento de mísseis levaram à explosão e ao afundamento do navio.

Vídeo ucraniano mostra o afundamento da corveta Ivanovets (fonte: Administração-Geral de Inteligência – GUR).

Ataques anteriores usavam apenas uns poucos veículos não tripulados para cada alvo e, embora houvesse ocasionalmente danos às embarcações russas, não costumavam levar ao afundamento delas. O ataque de hoje inovou ao usar um grande número de veículos atacantes contra um único alvo e mudar o local do ataque, distanciando-se cerca de 90 Km da baía de Sevastopol. A defesa russa contra eles consiste basicamente no uso de canhões, que apresentam dificuldades em atingir essas embarcações altamente manobráveis.

Rússia: míssil dos EUA derrubou avião com prisioneiros

A Rússia divulgou vídeo de seu Comitê Investigativo analisando destroços de um míssil do sistema Patriot, fornecido pelos EUA e seus aliados à Ucrânia, no local da tragédia com o avião Il-76 que transportava prisioneiros de guerra que seriam trocados no último dia 24 de janeiro por prisioneiros russos. O avião transportava 6 tripulantes, 3 policiais militares e 65 prisioneiros. Foram encontrados 116 fragmentos dos mísseis disparados contra o avião, que caiu próximo a Belgorod, na Rússia.

Investigadores russos junto a fragmentos de míssil do sistema Patriot no local do abate do avião Il-76.

O país também divulgou que conseguiu identificar restos mortais de todas as 74 vítimas. Os remanescentes consistem em 670 fragmentos de corpos, que foram identificados por análise de DNA. O lado russo afirma que a Ucrânia havia sido informada sobre o transporte, mas mesmo assim disparou 2 mísseis Patriot a partir da região de Kharkov, do outro lado da fronteira.

Logo que a notícia começou a se espalhar, manchetes foram redigidas na Ucrânia afirmando que “foi trabalho nosso”, “abate do Il-76 em Belgorod foi trabalho das Forças Armadas da Ucrânia”. Quando a Rússia divulgou que o avião transportava prisioneiros de guerra, porém, as manchetes foram alteradas para “caiu um avião” e “transportava mísseis” (do que não há evidência até o momento).

Estônia instala barreiras antitanque na fronteira com a Rússia

Barreiras antitanque conhecidas como “dentes de dragão” sendo instaladas na ponte que liga a Estônia à Rússia entre as cidades de Narva e Ivangorod.

Em mais um agravamento da tensão na fronteira noroeste da Rússia, esta noite a Estônia instalou barreiras antitanque na ponte que liga os dois países entre Narva e Ivangorod. A medida, que transmite aos habitantes locais a ideia de um suposto perigo iminente de invasão russa, veio logo após a Finlândia, recém-admitida à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), anunciar o fechamento de todas as passagens na fronteira com a Rússia, exceto a de Raja-Jooseppi.

Ambas as medidas vêm após um prolongado agravamento das tensões na região, que incluem o banimento da língua russa nas escolas da Lituânia, a respeito do qual o Alto Comissário das Nações Unidas sobre Direitos Humanos expressou sua preocupação: “O governo da Lituânia tem a obrigação, no direito internacional e em instrumentos regionais, de proteger e sustentar os direitos linguísticos das comunidades minoritárias no país, sem discriminação”. Desde o ano passado, uma lei local determinou a expulsão de pessoas apátridas ou com cidadania russa ou bielorrussa que não fossem aprovadas em um exame de proficiência da língua lituana – sendo que muitos desses apenas haviam permanecido no local onde residiam após a desintegração da União Soviética (somente os lituanos étnicos foram admitidos como cidadãos do país nessa ocasião, independente da república onde residiam na URSS).

Opinião de Visão Católica

O fim da União Soviética viu o florescimento de nacionalismos extremos nas antigas repúblicas soviéticas do leste europeu – os únicos países que até agora conseguiram controlar o fenômeno foram a Rússia e a Bielorrússia. Esses nacionalismos são direcionados contra o inimigo óbvio que foi criado: a Federação Russa, herdeira do Império Russo e da União Soviética. O fenômeno é tão grave que até mesmo os colaboradores locais do nazismo são exaltados na Ucrânia e na Lituânia, com marchas dos remanescentes das SS nazistas nesta e a glorificação de pessoas como Stepan Bandera e das organizações colaboracionistas naquela. Recentemente, um membro ucraniano das SS foi ovacionado de pé no parlamento canadense durante a visita do presidente ucraniano, Vladimir Zelenski – o Canadá abriga uma importante comunidade de ucranianos exilados após a Segunda Guerra Mundial.

O caminho para evitar conflitos passa não pela exacerbação das tensões e diferenças, nem pela perseguição de minorias étnicas ou linguísticas, mas sim pelo desarmamento e pela cooperação entre os povos, com o reconhecimento do direito de cada um deles ao desenvolvimento e à soberania. A Isso não é nenhum ensinamento novo, mas parte da Carta Encíclica Pacem in terris, do papa João XXIII, que ensina:

110. Costuma-se justificar essa corrida ao armamento aduzindo o motivo de que, nas circunstâncias atuais, não se assegura a paz senão com o equilíbrio de forças: se uma comunidade política se arma, faz com que também outras comunidades políticas porfiem em aumentar o próprio armamento. […]

112. Eis por que a justiça, a reta razão e o sentido da dignidade humana terminantemente exigem que se pare com essa corrida ao poderio militar, que o material de guerra, instalado em várias nações, se vá reduzindo duma parte e doutra, simultaneamente, que sejam banidas as armas atômicas; e, finalmente, que se chegue a um acordo para a gradual diminuição dos armamentos, na base de garantias mútuas e eficazes. […]

113. Todos devem estar convencidos de que nem a renúncia à competição militar, nem a redução dos armamentos, nem a sua completa eliminação, que seria o principal, de modo nenhum se pode levar a efeito tudo isto, se não se proceder a um desarmamento integral, que atinja o próprio espírito, isto é, se não trabalharem todos em concórdia e sinceridade, para afastar o medo e a psicose de uma possível guerra. Mas isto requer que, em vez do critério de equilíbrio em armamentos que hoje mantém a paz, se abrace o princípio segundo o qual a verdadeira paz entre os povos não se baseia em tal equilíbrio, mas sim e exclusivamente na confiança mútua. Nós pensamos que se trata de objetivo possível, por tratar-se de causa que não só se impõe pelos princípios da reta razão, mas que é sumamente desejável e fecunda de preciosos resultados.