O testamento do papa Francisco: paz e simplicidade

O papa Francisco retornou hoje à casa do Pai. Durante as festividades da Passagem do Senhor, fez também sua passagem para a vida eterna. Ele deixou um breve testamento que contém as instruções para o seu sepultamento: na terra, próximo à imagem da Virgem Maria, Protetora do Povo Romano, a qual ele tanto venerava, com uma lápide simples custeada por benfeitor já designado, apenas com a inscrição de seu nome papal: Franciscus. Ao final do testamento, assinado em 29 de junho de 2022, uma prece e um oferecimento:

O Senhor dê a merecida recompensa àqueles que me quiseram bem e continuam a rezar por mim. O sofrimento que se fez presente na última parte da minha vida ofereço ao Senhor pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos.

(Testamento do papa Francisco)

Papa Francisco: parem a guerra!

O papa Francisco, no Ângelus do último domingo, novamente instou os países a pararem as guerras: elas são uma ilusão! A guerra jamais traz a paz!

Papa Francisco: amor x darwinismo social

Na sede do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, em evento para comemorar os 10 anos do primeiro Encontro Mundial dos Movimentos Populares, o papa Francisco afirmou: se perdermos o amor como categoria teológica, ética e política, ficarão apenas o individualismo, a acumulação e a eliminação dos mais fracos! O darwinismo social, a lei do mais forte, da indiferença e da crueldade é diabólico. Sem o amor, não somos nada.

Ouso dizer: se Deus é amor, o amor é tudo, e nossa sociedade deve ser edificada sobre a base do amor. Sem essa base, nenhuma sociedade, nenhuma economia, nenhuma relação é boa.

Stedile cita Casaldáliga em encontro com papa Francisco: ‘malditas sejam todas as cercas’

João Pedro Stedile, liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), discursou neste sábado (18) para o papa Francisco em evento realizado na cidade de Verona, na Itália. O encontro teve a participação de representantes da sociedade civil, movimentos e associações engajados na construção da paz e contou com a presença de 12,5 mil pessoas.

Em sua fala, Stedile citou o bispo Pedro Casaldáliga, que teve atuação de destaque na defesa dos direitos humanos, em especial das populações marginalizadas. “Malditas sejam todas as cercas. Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e de amar”, discursou Stedile. Na mesma cerimônia, o papa Francisco abençoou a bandeira do MST.

No mesmo evento, Maoz Inon, de Israel, e Aziz Sarah, da Palestina, deram seus depoimentos a favor da paz. Os pais de Inon foram mortos no ataque de 7 de outubro do Hamas ao território israelense, enquanto Sarah perdeu o irmão no conflito subsequente, que já matou cerca de 35 mil pessoas em território palestino, a maioria mulheres e crianças

“A nossa dor e tristeza nos uniram para dialogar para criar um futuro melhor”, disse Sarah. Sob muitos aplausos, papa Francisco, mesmo com dificuldades de locomoção, levantou da cadeira de rodas e os abraçou. Ele lamentou a guerra. “Diante do sofrimento destes irmãos, que é o sofrimento de dois povos, não há palavras”, disse Francisco. “Que levem o nosso desejo e a vontade de trabalhar pela paz desses dois povos”, completou.

(Brasil de Fato)

Resumo diário: 25/02/2024

Papa no Ângelus: pela diplomacia e a paz

No segundo aniversário da intervenção russa na guerra da Ucrânia, o papa Francisco pediu para que sejam criadas condições para uma solução diplomática do conflito que proporcione uma paz justa e duradoura. Também lembrou da Palestina, de Israel, da República Democrática do Congo e da Nigéria, que sofrem com a guerra e a violência. Ao solidarizar-se com a população da Mongólia, que vivencia uma onda de frio, afirmou que esta onda é consequência das mudanças climáticas, as quais classificou como um problema social global.

Assista à transmissão no YouTube da Vatican News:

Bolsonaro reconhece minuta de decreto golpista

Em discurso para apoiadores na avenida Paulista, Jair Bolsonaro reconheceu a existência de uma minuta de decreto para derrubar a eleição de Lula em 2022, decretar estado de sítio e intervir no Tribunal Superior Eleitoral. Leia mais na revista Fórum.

Manifestação contra Netanyahu em Tel Aviv

Milhares de pessoas se reuniram posta protestar contra o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu em Tel Aviv. Além de exigir a renúncia do político, instavam à negociação com o Hamas para obter a libertação dos reféns que o grupo palestino mantém desde outubro do ano passado.  Leia mais na revista Fórum.

Províncias argentinas ameaçam cortar fornecimento de petróleo e gás

Diante do corte de repasses federais a províncias argentinas, governadores do sul do país ameaçam cortar o fornecimento de petróleo e gás. O ultimato foi dado pelo governador de Chubut, Ignacio Torres, no que foi apoiado por colegas. Leia mais no Brasil de Fato.

Cessar-fogo e troca de reféns na Faixa de Gaza

Com mediação do Egito e do Qatar, Israel e Hamas chegaram hoje (22) a um acordo por um cessar-fogo de quatro dias na Faixa de Gaza e a troca de reféns – 50 israelenses e 150 palestinos, todos eles menores de idade ou mulheres. O mais jovem refém do Hamas é um bebê de apenas nove meses e Israel libertará adolescentes a partir de 14 anos.

Hoje o papa Francisco recebeu delegações de ambos os lados – “isso já não é guerra, é terrorismo”, disse ele na audiência geral. “Rezem pela paz”, exortou ele. “Rezemos pelo povo palestino, rezemos pelo povo israelense, para que venha a paz”, convocou.

O Hamas divulgou detalhes do acordo, que envolve:

  1. Cessar-fogo bilateral, com a cessação de todas as ações militares pelo exército ocupante em todas as áreas da Faixa de Gaza, e a cessação dos movimentos de seus veículos militares penetrando na Faixa de Gaza.
  2. A chegada de centenas de caminhões de ajuda humanitária, médica e de combustível à Faixa de Gaza, tanto no norte como no sul.
  3. A soltura de 50 mulheres e crianças israelenses com idade inferior a 19 anos em troca da soltura de 150 mulheres e crianças presas pela potência ocupante (Israel), igualmente com idade inferior a 19 anos, todas em ordem de idade.
  4. Parar todo o tráfego aéreo (aviões e aeronaves não-tripuladas) no sul da região por quatro dias.
  5. Parar todo o tráfego aéreo na parte norte da Faixa de Gaza por seis horas diárias, das 10h às 16h.
  6. O compromisso, pela potência ocupante de não atacar, nem prender ninguém em todas as áreas da Faixa de Gaza durante a trégua.
  7. Garantia de movimento do norte para o sul pela rua Saladino.
Audiência geral do papa Francisco hoje (22/11/2023)

(Foto em destaque: Agência Wafa)

Resumo diário 05/08/2019

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Governo pede, e Câmara deixa caducar MP da isenção da conta de luz

A pedido do governo Jair Bolsonaro, a Câmara dos Deputados deixou caducar a medida provisória que isentava famílias de baixa renda da conta de energia elétrica por causa da pandemia de COVID-19 – com isso, a medida perde o efeito. O relator da medida havia inserido dispositivos que, se aprovados, ampliariam o prazo de isenção, impediriam a interrupção do fornecimento por inadimplência e proibiriam o reajuste de tarifas até o fim da calamidade pública.

Papa inicia série de audiências sobre a doutrina social da Igreja

O papa Francisco iniciou hoje (5) uma série de catequeses sobre a doutrina social da Igreja nas audiências gerais de quartas-feiras. Sob o tema “curar o mundo” nesse tempo de pandemia, ele reafirmou os princípios de ação que a Igreja oferece aos povos, autoridades e governantes deste mundo:

Cito os principais, que estão intimamente ligados entre si: o princípio da dignidade da pessoa, o princípio do bem comum, o princípio da opção preferencial pelos pobres, o princípio do destino universal dos bens, o princípio da solidariedade, da subsidiariedade, o princípio do cuidado de nossa Casa comum. Estes princípios ajudam os líderes, os responsáveis pela sociedade, a levar adiante o crescimento e também, como neste caso de uma pandemia, a cura do tecido pessoal e social. Todos estes princípios expressam, de diferentes maneiras, as virtudes da fé, da esperança e do amor.

STF suspende veto que desobrigava do uso de máscaras em presídios

O Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu os vetos do presidente Jair Bolsonaro a dispositivos da lei nº 14.019/2020 que tornavam obrigatório o uso de máscaras de proteção em presídios e estabelecimentos socioeducativos, além da afixação de cartazes sobre o uso correto das máscaras e o número máximo de pessoas permitidas simultaneamente nos estabelecimentos privados de acesso público (empresas, templos religiosos e associações, por exemplo). Essa decisão suspendeu apenas os vetos realizados após a sanção da lei, os quais foram considerados intempestivos pelo ministro Gilmar Mendes.

STF confirma liminar sobre enfrentamento da COVID-19 em terras indígenas

O plenário do Supremo Tribunal Federal confirmou a decisão do ministro Luís Roberto Barroso que obrigou o governo federal a tomar medidas de enfrentamento à pandemia em terras indígenas. A decisão foi tomada pela unanimidade dos ministros. Conforme noticiado antes em Visão Católica, a decisão obriga o governo federal a proteger a saúde de índios que vivem em terras não demarcadas, retirar os invasores das terras indígenas (TIs), criar uma sala de situação específica para monitorar a pandemia na população indígena, e criar um plano de enfrentamento da doença específico para os indígenas.

(Foto em destaque: torres de energia elétrica de alta tensão. Jaelson Lucas/AEN.)

Resumo diário 20/07/2020

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Câmara aprova auxílio à agricultura familiar

A Câmara dos Deputados aprovou hoje a criação de um auxílio emergencial aos agricultores familiares impedidos de vender sua produção devido à pandemia de COVID-19. O projeto de lei nº 735/2020 é de autoria do deputado Enio Verri (PT-PR) e o substitutivo, que detalhou as condições do socorro é do deputado Zé Silva (Solidariedade-MG).

Segundo o relator, a agricultura familiar não pode esperar. “Temos de garantir que os invisíveis se tornem visíveis”. A justificativa do projeto ressalta a importância da agricultura familiar para o abastecimento da população brasileira: ” a agricultura familiar responde por 82,26% dos estabelecimentos que produzem hortaliças, 79,93% dos que produzem lavouras temporárias, tendo significativa participação na produção pecuária, lavouras permanentes, pesca e produção florestal de florestas nativas”

CIMI denuncia ameaça de genocídio de indígenas

Ressaltando a situação dos povos indígenas isolados no entorno da Terra Indígena Eu-Wau-Wau, aonde recentemente se deslocaram, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) denuncia a invasão dos territórios dos povos originários. “É crescente o número de invasores nos territórios habitados por indígenas isolados”, afirma o CIMI. Em abril deste ano, um índio Uru-Eu-Wau-Wau empenhado na vigilância da terra indígena foi assassinado – essa TI é alvo da ação de madeireiros, grileiros e garimpeiros. Situação semelhante ocorre em outras TIs, como as Yanomami, do Vale do Javari, Arariboia, Mamoadate, Munduruku, Kayapó e Ituna-Itaitá. O contato com os invasores propicia o alastramento da COVID-19 em uma população vulnerável a infecções respiratórias (os índios). Mesmo assim, o governo federal não tem nenhum plano ou protocolo para a retirada dos invasores, nem para a proteção dos indígenas.

Ângelus: papa pede paz entre Armênia e Azerbaijão

Enclave armênio de Nagorna-Karabakh, no Azerbaijão. Fonte: wikimedia.org. Domínio público.

Ontem (19), o papa Francisco se dirigiu especialmente às populações que vivem em situação de conflito, renovando o apelo a um cessar-fogo global e imediato para garantir a assistência humanitária às pessoas atingidas pelo coronavírus. De modo particular, o papa tratou do conflito entre Armênia e Azerbaijão acerca do domínio de um enclave de maioria armênia dentro do Azerbaijão. Hoje, na região, um antigo oblast autônomo soviético, está vigente um cessar-fogo, mas não foi alcançada uma paz duradoura. A guerra, que durou de 1988 a 1994, deixou 30 mil mortos. Escaramuças iniciadas no domingo retrasado deixaram 17 vítimas fatais e motivaram uma mobilização surpresa de 150 mil soldados russos – a Rússia faz fronteira com o Azerbaijão e é aliada da Armênia.

Síria: reaberta catedral maronita de Alepo

Catedral maronita de Alepo, Síria, após ataque jihadista e depois de reconstruída. Fonte: Vatican News.

Foi novamente consagrada hoje a catedral maronita de Santo Elias, em Alepo, no Noroeste da Síria. Construída em 1873, foi seriamente danificada pelos jihadistas apoiados pela Turquia e pelos Estados Unidos da América em 2013. A restauração foi possibilitada pela contribuição da organização eclesiástica Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), que doou 400 mil euros. “A reabertura da Catedral do ponto de vista simbólico representa uma mensagem para os paroquianos e cristãos de Aleppo, e do mundo, ainda presentes no país, apesar de estarmos diminuindo em número”, disse o arcebispo maronita de Alepo, Dom Joseph Tobij. Mesmo no auge da guerra, e até durante o cerco dos rebeldes islamitas à cidade, a Igreja Católica jamais abandonou o povo de Aleppo, fossem cristãos ou muçulmanos, árabes, assírios, siríacos ou curdos.

Resumo diário 12/07/2020

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Hagia Sofia se torna mesquita

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, decretou nula a decisão do coronel Ataturk, pai do moderno Estado turco, que em 1934 transformou a antiga catedral de Hagia Sofia (Santa Sabedoria), de mesquita em museu. Para o patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu, Santa Sofia, localizada junto ao estreito do Bósforo, era um local “no qual Oriente e Ocidente se abraçam”. Com isso, a basílica volta a ser uma mesquita, e as orações muçulmanas voltarão a ser realizadas lá daqui a duas sextas-feiras. A decisão foi lamentada hoje pelo papa Francisco na oração do Ângelus: “penso em Santa Sofia e fico muito triste”. O diretor-geral da Unesco, Audrey Azoulay, expressou seu profundo pesar pela decisão das autoridades turcas:

Hagia Sofia é uma obra-prima arquitetônica e um testemunho único das interações entre Europa e Ásia ao longo dos séculos. Seu status como museu reflete a natureza universal dessa herança, e faz dela um símbolo poderoso pelo diálogo.

Exterior de Santa Sofia. Foto: Antti-T.-Nissinen.

Esse ato parece ir na direção de exaltar a relação da atual Turquia com o antigo Império Turco-Otomano, extinto em 1923 com o fim do califado otomano. A Turquia sob Erdogan vem intervindo em territórios antes pertencentes ao califado, como a Síria e a Líbia, e ele mesmo foi bem direto ao falar dessa continuidade: “a essência é a mesma, a alma é a mesma, muitas instituições também são as mesmas”.

Bolsonaro denunciado na ONU por vetos às medidas de proteção de indígenas durante a pandemia

Organizações ligadas aos povos indígenas, entre elas a Comissão Episcopal Pastoral para a Amazônia, da CNBB, a Rede Eclesial Pan-amazônica (REPAM), a Red Iglesias y Minería e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) denunciou os recentes vetos do presidente da República às medidas de proteção aos povos indígena, aos quilombolas, aos pescadores artesanais e às comunidades tradicionais. Nota do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) reafirmou “o preconceito, o ódio e a violência do atual governo” em relação a esses grupos. O posicionamento das entidades, que ocorreu após a apresentação de estudo sobre mudanças climáticas na 44ª sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, ressaltou ainda a paralisação das demarcações de terras indígenas e o desmonte das regulações ambientais.

Comunidades tradicionais vencem grileiros multinacionais na justiça

O condomínio Cachoeira do Estrondo, no oeste da Bahia, sofreu uma derrota emblemática para as comunidades tradicionais da região: 43 mil hectares do terreno foram considerados de posse coletiva das 120 famílias geraizeiras de Formosa do Rio Preto. Contudo, o histórico de violência associado à apropriação ilegal da área ainda provoca apreensão: agentes armados dos grileiros atuavam com apoio da polícia local, e chegaram mesmo a roubar gado dos ocupantes tradicionais. Há 11 anos, 91 trabalhadores foram libertados de condições análogas à escravidão em duas fazendas do condomínio. Entre os condôminos estão gigantes do agronegócio, como a Bunge e a Cargill. Para a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a decisão é “um marco na luta contra o agronegócio”.

(Foto em destaque: interior de Santa Sofia exibindo caracteres cristãos e islâmicos de seu uso. Sudharsan.Narayanan)

Hagia Sofia se torna mesquita

Interior de Santa Sofia, exibindo os caracteres cristãos e islâmicos de sua história. Foto: Sudharsan.Narayanan.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, decretou nula a decisão do coronel Ataturk, pai do moderno Estado turco, que em 1934 transformou a antiga catedral de Hagia Sofia (Santa Sabedoria), de mesquita em museu. Para o patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu, Santa Sofia, localizada junto ao estreito do Bósforo, era um local “no qual Oriente e Ocidente se abraçam”. Com isso, a basílica volta a ser uma mesquita, e as orações muçulmanas voltarão a ser realizadas lá daqui a duas sextas-feiras. A decisão foi lamentada hoje pelo papa Francisco na oração do Ângelus: “penso em Santa Sofia e fico muito triste”. O diretor-geral da Unesco, Audrey Azoulay, expressou seu profundo pesar pela decisão das autoridades turcas:

Hagia Sofia é uma obra-prima arquitetônica e um testemunho único das interações entre Europa e Ásia ao longo dos séculos. Seu status como museu reflete a natureza universal dessa herança, e faz dela um símbolo poderoso pelo diálogo.

O escritório da ONU para Educação, Ciência e Cultura também afirmou que” a participação inclusiva e equitativa das comunidades envolvidas é necessária para proteger essa herança e ressalta sua singularidade e seu significado”. A Unesco apelou ao diálogo sem demora, o que é inerente ao espírito da Convenção do Patrimônio Mundial.

Períodos de expansão do Império Turco-Otomano. Fonte: Nedim Ardoğa/Wikimedia.

A transformação da catedral ortodoxa em mesquita ocorreu após a conquista de Constantinopla pelo Império Turco-Otomano em 1453. Constantinopla, também chamada Bizâncio, era até então uma cidade cristã, capital do Império Romano do Oriente (ou Império Bizantino). Seu patriarca é o principal patriarca ortodoxo. Desde então até o século XIX, o Império Turco-Otomano foi o principal fantasma a assombrar a Europa cristã, tendo sido contido a duras penas pelo Império Austro-Húngaro e, finalmente, derrotada pelo Império Russo na Guerra da Crimeia (1853-1856) e, ao final da I Guerra Mundial (1914-1918), esfacelou-se, perdendo territórios que ainda mantinha no Oriente Médio – pouco antes, havia perdido seus territórios nos Bálcãs e na Líbia. Sua última conquista foi a província de Hatay, em 1939, que pertenceu à colônia francesa na Síria após a guerra.

Galeria em Santa Sofia. Foto: Serdar Gurbuz.

Hoje, o que se vê é a expansão da influência turca através do apoio a militantes islamitas em lugares como a Síria e a Líbia, além de um discurso nacionalista que bem poderia plagiar o slogan de Donald Trump: “make Turkey great again”. Na Síria, os turcos impediram que forças curdas e do governo sírio conquistassem parte do território do Estado Islâmico da fronteira entre os dois países até a cidade síria de Al Bab, submeteram a província de Afrin (que estava então sob domínio curdo) e também partes setentrionais das províncias de Raqqa e Hasakah, além de protegerem os rebeldes islamitas em Idlib, o que vai desde a antiga Al Qaeda na Síria (atual Hayat Tahrir al Sham – HTS) ao grupos afiliados ao Estado Islâmico. Na Líbia, entraram na guerra civil apoiando o governo de Tripoli contra o Exército Nacional Líbio (LNA) – chegaram a enviar rebeldes da Síria para a Líbia. Aqui em Visão Católica, a Turquia tem sido tema rotineiro das notícias graças a essas intervenções pró-islamitas.

Também não faltam exaltações ao califado otomano, e Erdogan tem até reforçado as ligações da atual Turquia com o antigo império: “a essência é a mesma, a alma é a mesma, muitas instituições também são as mesmas”, disse ele, referindo-se ao império islâmico. O califado, cabe lembrar, é uma instituição de governo islâmico que se estende a toda a “comunidade” muçulmana (ummah) em bases religiosas. A presente reconversão de Hagia Sofia de museu em mesquita parece reforçar essa ligação. Durante os anos finais desse mesmo Império Turco-Otomano ocorreu o genocídio de cristãos armênios e assírios, que a Turquia teima em não reconhecer – e até se faz de vítima quando autoridades mundo afora reafirmam essa realidade.

(Foto em destaque: exterior de Santa Sofia por Antti T. Nissinen)