Em preparação para as eleições realizadas no fim de semana, a Nigéria, com apoio de tropas do Chade e do Níger, conseguiu retomar 80% a 90% das áreas anteriormente dominadas pela milícia fundamentalista Boko Haram, aliada local do Estado Islâmico (que também vem sofrendo derrotas na região que controla).
Padre Patrick Tor Alumuku informou à Fides que “a ofensiva militar foi preparada nos últimos meses graças aos fornecimentos de armas provenientes da África do Sul, depois que os países ocidentais, em especial os Estados Unidos, se recusaram a vender armas à Nigéria”. A isso ele acrescentou:
Na Nigéria, em todo caso, se os nossos militares tinham a capacidade de expulsar Boko Haram, pergunta-se o motivo pelo qual se esperou dois anos para fazê-lo, provocando sofrimentos à população, e somente agora se passou à ação, nas vésperas das eleições.
Mas, com os olhos no futuro, o padre Evaristus Bassey, diretor executivo da Cáritas Nigéria, tem esperança: “Agora que o exército nigeriano está liberando as áreas ocupadas por Boko Haram existe esperança de que os desalojados retornem às suas casas, mas será preciso tempo porque a destruição é enorme”.
(Com informações da Agência Fides. Foto de destaque: militares nigerianos — Michael Larson/US Navy)
A paz “não é só ausência de conflitos ou resultado de algum compromisso político, ou fatalismo resignado”. Ela comporta uma “canseira diária, corajosa e autêntica para favorecer a reconciliação, promover experiências de partilha, lançar pontes de diálogo, servir os mais débeis e os excluídos”; numa palavra, “consiste em construir uma cultura do encontro”.
Escreve o Papa Francisco numa carta enviada aos bispos da Nigéria, o povoadíssimo país africano hoje vítima de um terrorismo cada vez mais desapiedado e feroz, alimentado por “novas e violentas formas de extremismo e de fundamentalismo, com base étnica, social e religiosa”.
“Muitos nigerianos – denuncia o Pontífice – foram mortos, feridos e mutilados, sequestrados e privados de tudo: dos próprios familiares, da sua terra, dos meios de subsistência, da sua dignidade, dos seus direitos. Muitos já não podem regressar às suas casas”. No alvo dos extremistas acabam “tanto cristãos como muçulmanos”, irmanados “por um trágico fim perpetrado por pessoas que se proclamam religiosas, mas que abusam da religião para fazer dela uma ideologia a submeter aos próprios interesses de violência e de morte”.
Francisco garante a sua proximidade aos bispos e aos fiéis que sofrem, agradecendo-lhes “porque no meio de tantas provações e sofrimentos, a Igreja na Nigéria não cessa de testemunhar o acolhimento, a misericórdia e o perdão”. O Papa recorda em particular “os sacerdotes, os religiosos e as religiosas, os missionários e os catequistas que, mesmo entre indizíveis sacrifícios, não abandonaram o próprio rebanho, mas permaneceram ao seu serviço, bons e fiéis anunciadores do Evangelho”. A eles, acrescenta, “gostaria de expressar a minha proximidade e dizer: não vos canseis de praticar o bem!”.
O reconhecimento do Pontífice abrange também as muitas pessoas “de todas as extrações sociais, culturais e religiosas que, com grande determinação, se comprometem concretamente contra qualquer forma de violência e a favor de um porvir mais seguro e mais justo para todos”. Um exemplo – define-o com as palavras de Bento XVI – do “poder do Espírito que transforma os corações das vítimas e dos seus carnífices para restabelecer a fraternidade”. Em conclusão, o apelo aos prelados nigerianos: “Com perseverança e sem desânimo ide em frente pelo caminho da paz! Acompanhai as vítimas! Socorrei os pobres! Educai os jovens! Tornai-vos promotores de uma sociedade mais justa e solidária!”.
Visão Católica
As palavras do papa Francisco têm força própria. Não podemos nunca esquecer-nos de que são dirigidas, por meio dos bispos, ao povo nigeriano. Mas, numa situação em que um conflito social emerge no Brasil — graças a Deus não chegamos a uma situação de guerra —, devemos dar ouvidos ao que ele diz aos nigerianos, e refletir no que pode significar para nossa realidade:
A paz “não é só ausência de conflitos ou resultado de algum compromisso político, ou fatalismo resignado”. Ela comporta uma “canseira diária, corajosa e autêntica para favorecer a reconciliação, promover experiências de partilha, lançar pontes de diálogo, servir os mais débeis e os excluídos”; numa palavra, “consiste em construir uma cultura do encontro”.
“Socorrei os pobres! Educai os jovens! Tornai-vos promotores de uma sociedade mais justa e solidária!”
(Foto de destaque: Wikimedia — vítimas do Boko Haram)