O testamento do papa Francisco: paz e simplicidade

O papa Francisco retornou hoje à casa do Pai. Durante as festividades da Passagem do Senhor, fez também sua passagem para a vida eterna. Ele deixou um breve testamento que contém as instruções para o seu sepultamento: na terra, próximo à imagem da Virgem Maria, Protetora do Povo Romano, a qual ele tanto venerava, com uma lápide simples custeada por benfeitor já designado, apenas com a inscrição de seu nome papal: Franciscus. Ao final do testamento, assinado em 29 de junho de 2022, uma prece e um oferecimento:

O Senhor dê a merecida recompensa àqueles que me quiseram bem e continuam a rezar por mim. O sofrimento que se fez presente na última parte da minha vida ofereço ao Senhor pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos.

(Testamento do papa Francisco)

Cessar-fogo de Páscoa na Ucrânia

Após o anúncio por Putin, Rússia e Ucrânia estabeleceram um cessar-fogo de Páscoa com início no fim da tarde de ontem (19) e término à meia-noite de hoje para amanhã. Embora haja acusações mútuas de violações do cessar-fogo, ambos os lados estão conseguindo evacuar feridos e remover os corpos de combatentes mortos. Na foto, uma equipe russa retira corpos de seus combatentes da região conhecida como “zona cinzenta”, isto é, a região entre as posições russas e ucranianas. Além disso, houve a troca de 246 prisioneiros de guerra de cada lado, além de 31 ucranianos e 15 russos feridos.

O encontro entre Jesus Cristo e Adão

Neste Sábado Santo, entre a morte e ressurreição do Senhor, a Igreja nos propõe para reflexão uma antiga homilia do século IV sobre o encontro entre Jesus Cristo e Adão na mansão dos mortos. O diálogo se dá sobre a antiga culpa e a salvação, como mais tarde se proclamará na vigília pascal:

Ó pecado de Adão indispensável,
pois o Cristo o dissolve em seu amor;
ó culpa tão feliz que há merecido
a graça de um tão grande redentor.

O texto vem da oração das Leituras na Liturgia das Horas:

A descida do Senhor à mansão dos mortos

Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.

Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.

O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará.

Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: ‘Saí!’; e aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’

Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.

Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até mesmo sepultado debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado.

Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê na minha face as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, tua beleza corrompida.

Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar de teus ombros o peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente as tuas mãos para a árvore do paraíso.

Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti.

Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.

Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”.

(Patrologia Grega 43, 439.451.462-463)