Dilexi te: diário de leitura

O papa Leão XIV publicou este mês seu primeiro documento doutrinal: a exortação apostólica Dilexi te sobre o amor aos pobres. Aproveito a ocasião para voltar a colocar teologia neste blog através de um diário de leitura dessa exortação, muito cheia de significados para ser resumida. Será um diário de leitura vagaroso, nas possibilidades da minha rotina, mas que espero chegue ao fim. Tenho a impressão de que a Dilexi te será leitura valiosa para o povo brasileiro no ano que já se aproxima, 2026, ano de eleição para presidente, governadores, deputados e senadores.

Afinal, não se trata de palavras soltas, de uma fé desprovida de contato com a realidade – ao contrário, trata-se sim de uma exortação a mergulhar de coração no mundo para nele ser um imitador de Cristo ao se tornar próximo dos pobres. E agir. Agir não apenas com uma esmola ocasional, dada torcendo o nariz na tentativa de aliviar a consciência, mas de agir por mudanças efetivas nas condições de vida das pessoas mais necessitadas.

Logo no número 3, o papa já mostra suas intenções: o objetivo do documento, uma continuidade da encíclica Dilexit nos, do papa Francisco, é que “todos os cristãos possam perceber a forte ligação existente entre o amor de Cristo e o seu chamamento a tornarmo-nos próximos dos pobres”. A identificação do Cristo com o pobre, diz Leão citando Francisco, revela os sentimentos e opções mais profundos do coração de Cristo, sentimentos e opções aos quais todo santo se configurar.

Enquanto não começa pra valer a leitura, vale a pena dar uma olhada na reportagem do Vatican News sobre a nova exortação: Dilexi te”, Leão XIV: não se pode separar a fé do amor pelos pobres!

(Foto destacada: crucifixo do papa Leão XIV. Ricardo Stuckert/PR)

Minha entrevista com Luiz Fux

Eu detesto entrevistas. Eu sou uma pessoa direta, que gosta de ir logo ao que interessa. Pra que antepasto se posso ir direto para o almoço? Pra que almoço, se posso ir logo pra sobremesa? Ficar ouvindo ou lendo gente conversando sem parar, enrolando para chegar ao que realmente interessa e até mesmo bons jornalistas tentando pegar um fio solto no discurso alheio para puxar e desfazer inteira a roupa nova do rei? Não é a minha praia.

Eu seria um péssimo entrevistador. Mas, se tivesse que entrevistar o ministro do STF Luiz Fux, entre vosselências e datavênias ficaria mais ou menos assim:

Senhor ministro, muitos alegam que há contradições na sua carreira: ter sido indicado por um grupo político e votar por absolver seu inimigo figadal, por exemplo. O que o senhor diria para essas pessoas?
Veja bem, não há contradição nenhuma na minha carreira, embora não se possa dizer o mesmo daqueles que me nomearam e esperavam que agora eu atuasse diferente. Fui o mesmo desde o princípio.

Vamos ver, então: o senhor advogou para a Shell, foi nomeado ministro do STJ pelo FHC, depois chegou ao STF pela caneta da Dilma.
Justamente! Advoguei para a Shell, fui nomeado pelo FHC… Parece que você conhece bem minha história.

Não haveria conflito de interesses entre um ex-advogado da Shell e a defesa do bem público que é o meio ambiente, tão necessária nos dias atuais?
Não, não vejo conflito de interesses. Meu interesse é um só, os temas que o STF julga é que mudam.

E ser nomeado pelo sociólogo e presidente nas horas vagas Fernando Henrique Cardoso, o príncipe da dependência, para uma das cortes superiores do Brasil, o Superior Tribunal de Justiça, responsável por julgar a legalidade de decretos, atos administrativos, decisões de outros tribunais…
Não vejo contradição aí. Eu fui nomeado pela pessoa que ficou conhecida por defender que o único caminho para a América Latina se desenvolver era ser dependente dos Estados Unidos, aquele mesmo que Lula afirmou ter deixado uma “herança terrível” para o Brasil. Contraditório é quem pensa que chegando ao STF eu seria outra pessoa somente porque a assinatura na minha nova nomeação era outra.

Mas, além disso, você votou absolver Bolsonaro e para condenar outros envolvidos no 8 de janeiro, como a mulher que pichou a estátua da justiça, apesar de no mesmo voto ter dito que não poderia julgá-la – o único, aliás, da Primeira Turma do STF a fazê-lo.
Sim, sem dúvida: fiquei conhecido por condenar ladrão de galinha. Mas, essa mulher cometeu um erro fatal e foi por isso que votei por condená-la pelo crime de deterioração do patrimônio tombado: ela escreveu com batom na Estátua da Justiça – deveria ter colocado orelhas do Mickey!

Inimigo número 1

— Trono do Leão, aqui é Águia Atômica. Estamos nos aproximando do local.

— Águia Atômica, as coordenadas exatas serão passadas por data link. A aeronave vai travar no alvo automaticamente e com absoluta precisão.

— Vamos aniquilar alguns civis novamente? Ou destruir um hospital? Doha fica mais longe do que a gente costuma ir.

— Águia Atômica, apenas prossiga até o local e o comando de missão irá transmitir as coordenadas para você. Não é necessário verificar o que vai ser destruído. Temos certeza absoluta do local.

— Trono do Leão, Águia Atômica ciente. Entro em contato ao chegar na localização determinada.

Em voo supersônico, a Águia Atômica chega em apenas 2 minutos ao local designado. O caça furtivo não foi detectado e se aproxima com rapidez do alvo, que acaba de ser transmitido por satélite pelo data link do avião.

— Trono do Leão, recebemos o alvo.

— Muito bem, Águia Atômica. Atire a bomba guiada assim que o sistema indicar.

— Ciente, Trono do Leão.

A Águia Atômica continua pressionando o botão para falar, enquanto o Trono do Leão tenta transmitir o comando de atirar.

— Trono do Leão, é a Águia Atômica. Alvo travado, aparecendo na tela. A câmera está captando uma pomba.

— Águia Atômica, atire.

— Trono do Leão, a câmera está mostrando uma pomba com, com, com… um ramo de oliveira no bico!?!

— Águia Atômica, atire.

— Numa pomba? Cadê os civis, os hospitais, as mesquitas, as igrejas? Uma pomba?

— Águia Atômica, atire. Esse é o maior inimigo do nosso país.

— Uma pombinha com um ramo de oliveira na boca? Não devia ser um campo de refugiados, uma escola?

— Águia Atômica, atire. A pomba da paz é o inimigo número 1 de Israel!

(Imagem destacada: Doha após bombardeio de Israel contra delegação de negociadores de paz do Hamas.)


A notícia

Israel bombardeou delegação de negociadores do Hamas em Doha, no Catar.

Absurdo demais pra ser ficção

— Alô!

— Alô!

— Pedro, que história é essa?

— Como assim?

— Eu te peço um documentário, e você me vem com essa ficção sem pé, nem cabeça?

— Mas…

— Deixa eu te explicar: ficção não é uma coisa qualquer.

— Fernando…

— Tem que ter uma identificação, um apelo.

— Sim, mas…

— Sabe, tem que tocar a realidade do expectador. Um filme de ficção…

— Fernando!

— Pedro, não insiste, ficção tem que ter uma conexão, tem que parecer real.

— Eu sei!

— Verossimilhança, que chama.

— Mas…

— Se você coloca qualquer coisa que aparece na sua cabeça, o expectador não vai passar nem 5 minutos assistindo esse longa-metragem que você me entregou.

— Fernando!

— Você me vem com essa ficção de patriota com bandeira dos Estados Unidos e de Israel, de cristão dizendo que judeu segue Jesus?

— Fernando, isso não é um longa de ficção. É um documentário! E você nem viu até a parte em que o patriotário pede pro Trump intervir no Brasil.

Pelo país, neste domingo (7), Grito dos Excluídos ecoa democracia, soberania e defesa da natureza

Neste domingo, Sete de Setembro, o tradicional Grito dos Excluídos e Excluídas tomou as ruas de dezenas de cidades do Brasil em sua 31º edição. Sob o lema “Cuidar da Casa Comum e da Democracia é luta de todo dia”, os atos reuniram movimentos populares, pastorais, povos e comunidades tradicionais, juventudes e militantes em defesa da democracia, meio ambiente e soberania nacional. De acordo com a Secretaria Nacional do Grito, as mobilizações foram realizadas em 25 estados e no Distrito Federal. Apenas o Tocantins não registrou atividades.

edição deste ano relaciona diretamente as crises socioeconômicas e ambientais, como pautas entrelaçadas por justiça social. “O Grito mudou a cara do país nessa data e este ano em que vivemos tempos de grandes desafios: a investida do capital financeiro e da extrema direita, o avanço do imperialismo contra a soberania nacional, a devastação ambiental… nos conclama a cuidar da Casa Comum e da Democracia”, explica Dani Hohn, da organização do Grito.

“O sentido mais profundo do grito é dar caráter popular ao 7 de setembro, à Semana da Pátria, nessa data que historicamente é comemorada pelas Forças Armadas e a polícia”, diz Sandra Quintela, da Rede de Brio Sul e da Coordenação Nacional do Grito dos Excluídos.

“Em segundo lugar, destacar a presença massiva hoje nas ruas, em todo o Brasil, gritando que o Brasil é do povo brasileiro e que precisamos de uma nova independência, onde a soberania popular esteja no centro das pautas de luta do nosso país”, completa, ela,

Uma das mensagens mais recorrentes pelo país foi a de “Sem anistia”, reforçando a expressão coletiva contra a anistia aos condenados pela tentativa de golpe de Estado no Brasil. Se aprovado, o projeto de anistia beneficiaria Jair Bolsonaro (PL), que pode ser condenado a até 40 anos de prisão. O julgamento, iniciado em 2 de setembro, deve ser concluído no próximo dia 12.

Outro destaque deste ano foi a articulação com o Plebiscito Popular 2025, que recolhe votos em todo o país sobre a redução da jornada de trabalho sem cortes de salário, o fim da escala 6×1 e a taxação dos super-ricos. Para a organização, essa consulta popular reafirma a necessidade de construir uma democracia enraizada na participação direta da população.

Em São Paulo, organizadores calculam que 30 mil pessoas compareceram ao ato, na manhã deste domingo na Praça da República, no centro da cidade. A mobilização contou com a presença de ministros do governo Lula, como Luiz Marinho, do Emprego e do Trabalho, e Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, além de deputados federais como Guilherme Boulos (Psol-SP) e Kiko Celeguim, presidente do PT paulista, e a deputada estadual Ediane Maria (Psol).

Os movimentos populares também marcaram presença na Praça da República. O integrante da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Gilmar Mauro, avaliou que a manifestação da esquerda representa a retomada do processo de mobilização popular no país.

“Nós enfrentamos ditadura, governos de direita, pandemia e golpe, e seguimos de pé. A luta de classes não começou conosco nem vai terminar, mas depende da militância para conquistar a soberania plena e verdadeira democracia”, destacou Mauro, convocando o protagonismo popular em algumas das pautas em jogo. “O fundamental é voltarmos às ruas com bandeiras que são decisivas: a defesa da soberania, a taxação dos super-ricos, a justiça tributária, a redução da jornada de trabalho 6×1 e, obviamente, o repúdio à anistia”.

Raimundo Bonfim, coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP), um dos organizadores da manifestação, destacou a importância do ato diante de pautas por justiça social na distribuição da riqueza. “Na luta de classes pela taxação dos super-ricos, pela isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, pela redução da jornada de trabalho. Essa é a luta que cresce a partir da indignação contra os privilégios e contra uma maioria do Congresso que é antipovo e antidemocrática”, afirmou.

De acordo com a organização, neste ano o Grito reafirma seu caráter de processo político-pedagógico e cultural permanente e processual. Com marchas, debates, vigílias inter-religiosas e expressões artísticas, o movimento segue proclamando que a independência só terá sentido com justiça social, soberania e cuidado com a vida. O Grito dos Excluídos nasceu no Brasil em 1995, durante a 2ª Semana Social Brasileira, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em 1993 e 1994, e inspirado pela Campanha da Fraternidade de 1995: “Fraternidade e Excluídos”. O primeiro ato, em 7 de setembro de 1995, teve como lema “A vida em primeiro lugar” e ecoou em 170 localidades.

Editado por: Daniel Lamir

(Publicado originalmente no Brasil de Fato. Foto em destaque: Ato dos Excluídos em Porto Alegre/Jorge Leão.)

Os impostos na Doutrina Social da Igreja

Com a recente derrota do governo na questão da elevação do Imposto sobre Operações Financeiras e da ampliação da incidência desse imposto, é um bom momento para revisitar o que diz a Igreja Católica sobre o papel dos impostos na sociedade.

É claro que podemos recorrer simplesmente à conhecida frase de Jesus, “Dai a César o que é de César” (Mt 22,21), mas a Igreja, em seu cuidado pastoral, desenvolveu de forma mais clara e concreta para nossos tempos o ensinamento sobre os impostos e seu papel. O lugar onde encontramos mais diretamente esse ensinamento é o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, mais especificamente em seu número 355:

A arrecadação fiscal e a despesa pública assumem uma importância econômica crucial para qualquer comunidade civil e política: o objetivo para o qual há de tender é uma finança pública capaz de se propor como instrumento de desenvolvimento e de solidariedade. Uma finança pública eqüitativa, eficiente, eficaz, produz efeitos virtuosos sobre a economia, porque consegue favorecer o crescimento do emprego, amparar as atividades empresariais e as iniciativas sem fins lucrativos, e contribui a aumentar a credibilidade do Estado enquanto garante dos sistemas de previdência e de proteção social destinados em particular a proteger os mais fracos.

As finanças públicas se orientam para o bem comum quando se atêm a alguns princípios fundamentaiso pagamento dos impostos como especificação do dever de solidariedade; racionalidade e eqüidade na imposição dos tributosrigor e integridade na administração e na destinação dos recursos públicos. Ao redistribuir as riquezas, a finança pública deve seguir os princípios da solidariedade, da igualdade, da valorização dos talentos, e prestar grande atenção a amparar as famílias, destinando a tal fim uma adequada quantidade de recursos.

Deixei em negrito alguns trechos, que falam diretamente à sociedade brasileira atual, em que uma parte enorme da população pensa de modo individualista e egoísta, verdadeiros empreendedores do sofrimento alheio.

Primeiro, os impostos – segundo a doutrina católica – servem para manter sistemas de previdência e proteção social, isto é: aposentadorias, auxílio-doença, auxílio acidente de trabalho, bolsa família, benefício de prestação continuada e tantas outras maneiras de auxiliar os menos favorecidos. “Ninguém no mundo de hoje, em que as distâncias já não importam, pode alegar o pretexto de que não conhece as necessidades de seu irmão distante, que a ajuda que deve fornecer não lhe diz respeito”, disse São João XXIII. Cada um que seja mais favorecido que o outro deve ajudá-lo, inclusive por meio dos impostos pagos ao Estado. Quanto mais as empresas de apostas online, que passariam a ter que pagar IOF – um imposto que cada um de nós paga, por exemplo, ao obter um empréstimo consignado.

Segundo, redistribuir riquezas, amparar as famílias: ninguém é a favor da família se milhões de famílias não puderem ter o mínimo – casa, saúde, comida, educação de qualidade. E isso só pode ser garantido com impostos. Que paguem mais os que podem mais (mas que hoje são justamente os que pagam menos, pois obtém suas rendas através de investimentos financeiros isentos de tributação, diferente do salário de cada trabalhador).

Por fim, “uma adequada quantidade de recursos”: não existe uma fórmula mágica para definir qual a carga tributária mais adequada para uma sociedade. Para saber quanto o Estado tem que arrecadar, é preciso ver primeiro as necessidades humanas a suprir e as possibilidades de arrecadar esses recursos, especialmente dos mais favorecidos. Que se estruture, portanto, o sistema tributário para que os mais favorecidos paguem mais: os bilionários, os grandes investidores do mercado financeiro, os sócios de grandes empresas. São esses justamente os que menos pagam imposto no Brasil de hoje, e que o Congresso Nacional quer continuar privilegiando. Deputados e senadores eleitos em 2022 e 2018 muitas vezes prometendo “defender a família”, mas que querem jogar todas as famílias brasileiras na miséria.

Foto destacada: Hugo Motta (Republicanos/PB) no dia em que o Congresso Nacional decidiu derrubar o aumento do IOF e manter a isenção das empresas de bets – Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados.

O testamento do papa Francisco: paz e simplicidade

O papa Francisco retornou hoje à casa do Pai. Durante as festividades da Passagem do Senhor, fez também sua passagem para a vida eterna. Ele deixou um breve testamento que contém as instruções para o seu sepultamento: na terra, próximo à imagem da Virgem Maria, Protetora do Povo Romano, a qual ele tanto venerava, com uma lápide simples custeada por benfeitor já designado, apenas com a inscrição de seu nome papal: Franciscus. Ao final do testamento, assinado em 29 de junho de 2022, uma prece e um oferecimento:

O Senhor dê a merecida recompensa àqueles que me quiseram bem e continuam a rezar por mim. O sofrimento que se fez presente na última parte da minha vida ofereço ao Senhor pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos.

(Testamento do papa Francisco)

Cessar-fogo de Páscoa na Ucrânia

Após o anúncio por Putin, Rússia e Ucrânia estabeleceram um cessar-fogo de Páscoa com início no fim da tarde de ontem (19) e término à meia-noite de hoje para amanhã. Embora haja acusações mútuas de violações do cessar-fogo, ambos os lados estão conseguindo evacuar feridos e remover os corpos de combatentes mortos. Na foto, uma equipe russa retira corpos de seus combatentes da região conhecida como “zona cinzenta”, isto é, a região entre as posições russas e ucranianas. Além disso, houve a troca de 246 prisioneiros de guerra de cada lado, além de 31 ucranianos e 15 russos feridos.

O encontro entre Jesus Cristo e Adão

Neste Sábado Santo, entre a morte e ressurreição do Senhor, a Igreja nos propõe para reflexão uma antiga homilia do século IV sobre o encontro entre Jesus Cristo e Adão na mansão dos mortos. O diálogo se dá sobre a antiga culpa e a salvação, como mais tarde se proclamará na vigília pascal:

Ó pecado de Adão indispensável,
pois o Cristo o dissolve em seu amor;
ó culpa tão feliz que há merecido
a graça de um tão grande redentor.

O texto vem da oração das Leituras na Liturgia das Horas:

A descida do Senhor à mansão dos mortos

Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.

Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.

O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará.

Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: ‘Saí!’; e aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’

Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.

Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até mesmo sepultado debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado.

Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê na minha face as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, tua beleza corrompida.

Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar de teus ombros o peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente as tuas mãos para a árvore do paraíso.

Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti.

Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.

Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”.

(Patrologia Grega 43, 439.451.462-463)

Papa Francisco: parem a guerra!

O papa Francisco, no Ângelus do último domingo, novamente instou os países a pararem as guerras: elas são uma ilusão! A guerra jamais traz a paz!