Cardeal Kurt Koch avalia o Vaticano II

O artigo abaixo, publicado pela agência de notícias católica Zenit, é um interessante contraponto aos que tentam colocar em oposição os Concílios Vaticano II e de Trento (ou mesmo o Vaticano I). Essas pessoas muitas vezes se opõem a toda a tradição sobre a autoridade dos concílios (e, portanto, do papa e dos bispos em comunhão com ele) tentando defender a “tradição” como eles preferem entendê-la. Nos artigos que já publiquei sobre tais concílios, tentei analisar essa questão, mas, ainda que procurasse alguma distinção ao menos na formulação das verdades por eles confirmadas, encontrei somente uma semelhança impressionante.

Veja mais aqui no Caritas in Veritate nos temas Concílio Vaticano II e Concílio de Trento.

Cardeal Kurt Koch avalia o Vaticano II

Precisações favorecem o diálogo com os críticos do concílio

ROMA, segunda-feira, 6 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – Para tentar entender a importância e a oportunidade do Concílio Vaticano II, o cardeal Kurt Koch, presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, conversou com a agência Apic-Kipa, em entrevista reproduzida pelo L’Osservatore Romano neste último 3 de agosto.

Sobre as pessoas que afirmam que o concílio foi um erro, o cardeal observa: “A noção de que um concílio também pode incorrer no erro se enraíza em Martinho Lutero. Considerando só isto, os tradicionalistas deveriam se perguntar onde é que eles se posiconam de fato”.

A respeito das críticas de quem contrapõe o Concílio de Trento ao Vaticano II, o presidente do Pontifício Conselho afirma que “o Vaticano II adotou quatro constituições, nove decretos e três declarações. Em termos puramente formais, podemos ver a diferença entre esses três gêneros. Então já surge um problema quando se considera que o Concílio de Trento (1545-1563) só publicou decretos, mas nenhuma constituição”. E complementa: “Ninguém afirmaria que o Concílio de Trento foi de um nível inferior. Portanto, do ponto de vista meramente formal, podemos encontrar diferenças, mas não podemos realmente aceitar diferenças no caráter do conteúdo desses documentos”.

Quanto às críticas em relação ao ecumenismo, o cardeal Koch salienta que “não é um tema secundário, mas central no concílio, como já lembrou João Paulo II. É por isso que hoje ele tem que ser um tema central na Igreja”.

Ainda neste sentido, Koch enfatiza que o decreto conciliar sobre o ecumenismo, a Unitatis Redintegratio, baseia os seus princípios na constituição dogmática sobre a Igreja, a Lumen Gentium. “Paulo VI ressatou firmemente, na época da promulgação deste decreto, que ele interpreta e explica a constituição dogmática sobre a Igreja”. O cardeal reitera também, no contexto ecumênico, que “a declaração conciliar Nossa Aetate, sobre as relações da Igreja com as religiões não cristãs, em especial com o judaísmo, igualmente se fundamenta na constituição dogmática sobre a Igreja”.

Koch termina a entrevista anunciando que, para 2017, aniversário de quinhentos anos da Reforma, o Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos está preparando um comunicado conjunto com a Federação Luterana Mundial.

Trad.ZENIT

A historicidade da doutrina social da Igreja

Poderíamos talvez resumir os pronunciamentos da Igreja a dois tipos: os dogmáticos e os pastorais. Os primeiros tratam da verdade revelada, portanto imutável como a própria Verdade (Catecismo da Igreja Católica – CIC –, 88-90). Os últimos tratam de conduzir o rebanho de Cristo neste mundo de forma a nutri-lo com o alimento espiritual necessário à longa viagem rumo aos prados celestiais, permanecendo sempre no reto caminho da Verdade (CIC, 888-892). A doutrina social da Igreja se situa principalmente no segundo tipo de pronunciamento, o qual sempre tem como princípio a Verdade, mas como destino uma situação concreta (CIC, 2419 e seguintes). Trata-se de uma exposição mais ou menos contínua de princípios para a avaliação dessas situações, mas também da articulação entre esses princípios e a realidade do momento histórico em questão. Nesse sentido, considero bastante interessante o que escreveu Ildefonso Camacho a esse respeito em seu livro Doutrina Social da Igreja: abordagem histórica (São Paulo: Loyola, 1995. p. 11):

Começarei narrando um episódio, que me ocorreu há mais de quinze anos, para esclarecer o enfoque dado a este livro. Um professor amigo, que ensinava filosofia em um instituto, convidou-me a expor a doutrina da Igreja sobre os sistemas econômicos. Durante o diálogo com os alunos, um deles me perguntou sobre a impossibilidade de um cristão votar no partido socialista. Embasava a sua posição na condenação do socialismo pronunciada por Leão XIII em sua encíclica Rerum Novarum. Tentei explicar-lhe que o julgamento que podemos fazer nos dias atuais sobre o socialismo não poderia ser baseado, sem mais nem menos, naquele texto de 1891, porque entre o socialismo que ali se contempla e o de hoje existem diferenças substanciais. Não era o julgamento que aquele rapaz fazia que me preocupava. Preocupavam-me, antes, as razões em que ele se baseava e o pressuposto de que qualquer afirmação do magistério social adquira um valor permanente, independente da época em que fora pronunciada.

Esse fato mostra o perigo, freqüente entre os crentes, de cair em verdadeiros anacronismos ao empregar os textos da Doutrina Social da Igreja, tirando-os de seu contexto e atribuindo-lhes um caráter universal, à margem dos condicionamentos históricos. Deixar-se levar por esta maneira de interpretar a Doutrina Social é um dos mais perniciosos serviços que já se prestou, e se continua prestando, ao magistério social.

Por isso é que este livro pretende, precisamente, estudar a Doutrina Social da Igreja em um diálogo contínuo com a história. Em um primeiro momento poderá parecer que, por este caminho, renunciaremos a uma síntese de pensamento sistemático e de validade duradoura, para cair na dispersão de estudos isolados, que percorrem documentos e acumulam textos sem qualquer conexão. Esperamos que, ao final destas páginas, a impressão seja a oposta: que o longo caminho que vamos percorrer vá depositando um fundo doutrinal e, sobretudo, uma disposição de fé para enfrentar as situações sempre dinâmicas da vida social, política e econômica.

Fé, razão, humanidade

“A grande tarefa da Igreja permanece a de ligar, uma à outra, a fé e a razão, ou seja, o olhar que ultrapassa o compreensível e a responsabilidade racional. Com efeito, a razão é um dom de Deus e é o que distingue o homem.”

(Papa Bento XVI. Luz do Mundo: o Papa, a Igreja e os sinais dos tempos. São Paulo: Paulinas, 2011. Entrevista com Peter Seewald. p. 102.)

O cético pertinaz (e o materialista obtuso)

O cético pertinaz - Quinho

A charge acima, publicada no Dom Total, certamente ilustra o pensamento de muita gente, cética por ceticismo, não pela verdade. O autodenominado “cético” costuma ser aquela pessoa que, confrontada com as mais fortes evidências, nega-as por negar, em vez de abrir mão de uma posição antiga e errada. Muitas vezes vemos ateus agirem assim, mesmo quando se diz: então me prove que Deus não existe. Confrontados com o forte “indício” da ausência de provas, em vez de dizerem que não podem comprovar a “verdade” que defendem, agarram-se a ela como ao mastro de um navio que naufraga.

Tampouco quando se confronta a ciência material com seu próprio limite epistemológico – o material – o ateu pertinaz é capaz de ceder. Como pode a matéria criar a si mesma? Onde está essa poética original, capaz de fazer tudo surgir do nada? Transformam assim a matéria no deus que eles abominam, mas não percebem a credulidade necessária para serem incrédulos.

A teologia, diferente das demais ciências, dá à matéria a explicação exterior à matéria, ao menos no sentido criador. Essa, digamos, “onipoiese” teológica é a única explicação da matéria, mesmo para aquele que não professa a fé cristã. Aí vemos a utilidade e os limites das ciências materiais, que nos fazem compreender os mecanismos intrínsecos da matéria e, segundo o método materialista, as condições extrínsecas (objetivas) da vida humana. Ou seja, a utilidade do estudo científico do ponto de vista material reside em elucidar a relação do homem com a natureza, mas não é capaz de excluir Deus e o imaterial (ou espiritual).

Nessa pequena, mas profunda certeza reside a possibilidade de diálogo entre católicos e materialistas, inclusive derrubando uma oposição que traz prejuízos a todos. Reconhecer a espiritualidade não impede de estudar e perceber a materialidade, e vice-versa. A observação da natureza pode ser até mesmo um meio para se chegar a Deus (Catecismo da Igreja Católica, 31-35). Deus nos criou da matéria, mas nos deu também a vida espiritual. Sem uma ou sem outra, não poderíamos dominar a natureza como Ele quer (Gn 1 e 2).

Respeito pelos presos

A intenção de oração do papa para este mês de agosto é pelo respeito aos presos. Não é um tema simples, pois em nossa sociedade prevalece o espírito de vingança, e a cada crime surge o clamor por penas severas, chegando até a se exigir a pena de morte. Cada vez que alguém se levanta contra a barbárie prevalecente nos presídios brasileiros, diz-se logo que ele “quer transformar presídio em hotel”, ou que “bandido bom é bandido morto”. Não é, porém, essa atitude que Deus quer de nós.

Caim matou Abel, seu irmão. Cometeu um grave pecado. Quando o Senhor proferiu sua pena, Caim exclamou: “A minha culpa é grande demais para obter perdão! Expulsas-me hoje desta terra; obrigado a ocultar-me longe da tua face, terei de andar fugitivo e vagabundo pela terra, e o primeiro a encontrar-me matar-me-á.” Contudo, Deus, que é Deus da vida, assim respondeu: “Não, se alguém matar Caim, será castigado sete vezes mais.” (Gn 4)

Talvez nada mais fosse preciso dizer, mas o Senhor diz, e assim o apóstolo São Paulo nos exorta: “Não vos vingueis uns dos outros, caríssimos, mas deixai agir a ira de Deus, porque está escrito: A mim a vingança; a mim exercer a justiça, diz o Senhor” (Rm 12,19, citando Dt 32,35).

O respeito à pessoa humana

O Concílio Vaticano II, que este ano completa o jubileu de ouro de sua abertura, assim nos diz sobre a dignidade do ser humano em sua constituição pastoral Gaudium et Spes:

27. Descendo às conseqüências práticas e mais urgentes, o Concílio inculca o respeito ao homem; que cada um respeite o próximo como “outro eu”, sem excetuar nenhum, levando em consideração antes de tudo a sua vida e os meios necessários para mantê-la dignamente, a fim de não imitar aquele rico que não teve nenhum cuidado com o pobre Lázaro.

Sobretudo nos nossos tempos, temos a imperiosa obrigação de nos tornarmos próximos de qualquer homem indistintamente; se ele se nos apresenta, devemos servi-lo ativamente, quer seja um velho abandonado por todos, ou um operário estrangeiro injustamente desprezado, ou um exilado, ou uma criança nascida de uma união ilegítima sofrendo imerecidamente por um pecado que não cometeu, seja um faminto que interpela a nossa consciência recordando a voz do Senhor: “Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos a mim é que fizestes” (Mt 25,40).

Além disso, tudo o que atenta contra a própria vida, como qualquer espécie de homicídios, o genocídio, o aborto, a eutanásia e o próprio suicídio voluntário, tudo o que viola a dignidade humana, como as mutilações, as torturas físicas ou morais e as tentativas de dominação psicológica; tudo o que ofende a dignidade humana, como as condições infra-humanas de vida, os encarceramentos arbitrários, as deportações, a escravidão, a prostituição, o mercado de mulheres e jovens e também as condições degradantes de trabalho, que reduzem os operários a meros instrumentos de lucro, sem respeitar-lhes a personalidade livre e responsável: todas essas práticas e outras semelhantes são efetivamente dignas de censura. Enquanto elas inficionam a civilização humana, desonram mais os que se comportam desta maneira, do que aqueles que padecem tais injúrias. E contradizem sobremaneira a honra do Criador.

Note que “as torturas físicas ou morais e as tentativas de dominação psicológica, […] o encarceramento arbitrário” são expressamente condenadas pelo Concílio, juntamente com todas as práticas semelhantes que atentam contra a dignidade de cada homem ou mulher. Aqueles que estão sujeitos a esses abusos, ainda que culpados de algum crime, são verdadeiras vítimas do que se lhes faz.

Apóstolos, papas, mártires

Lembremos de quantos mártires há entre nós, membros do corpo de Cristo, a Igreja Católica. Todos os apóstolos. Os primeiros papas. Dois séculos de cristãos encarcerados e jogados às feras para a diversão da perversa sociedade romana. Ainda hoje, quantos não perdem a vida em defesa da fé? Muitos desses, se não a grande maioria, passou pelo cárcere antes de enfrentar a morte. Quando São Pedro esteve preso em Jerusalém, não foi ouvindo a oração da Igreja que Deus o libertou? (At 12,1-18) Assim devemos orar por nossos irmãos presos, sejam eles inocentes como Pedro, para que sejam libertados, sejam eles pecadores, para que se convertam.

É certo que esse destino ainda espera muitos homens justos, pois Cristo alerta sua Igreja e a prepara para a perseguição: “eis que vos envio como cordeiro entre lobos” (Lc 10,3). “Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas. Cuidai-vos dos homens. Eles vos levarão aos seus tribunais e sereis açoitados com varas nas suas sinagogas. Sereis por minha causa levados diante dos governadores e dos reis: servireis assim de testemunho para eles e para os pagãos. Quando fordes presos, não vos preocupeis nem pela maneira com que haveis de falar, nem pelo que haveis de dizer: naquele momento vos será inspirado o que haveis de dizer. Porque não sereis vós que falareis, mas é o Espírito de vosso Pai que falará em vós.” (Mt 10,16-20)

Cristo, preso

E qual seria o caminho preparado para o Cordeiro de Deus, se não o do abatedouro? Era preciso que fosse levantado na cruz “para que todo homem que nele crer tenha a vida eterna” (Jo 3,14-15). E isso não aconteceu sem que antes fosse preso e barbaramente torturado.

O Verbo de Deus, que é Deus, encarnado e assim unido à humanidade, “preso, morto e sepultado”, é este o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,1-36; símbolo apostólico; Catecismo da Igreja Católica, 464, 480, 599-623). É tão grande a união de Cristo com a humanidade, que permite a São Paulo dizer (Rm 6,3-11):

Ou ignorais que todos os que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova. Se fomos feitos o mesmo ser com ele por uma morte semelhante à sua, o seremos igualmente por uma comum ressurreição. Sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que seja reduzido à impotência o corpo (outrora) subjugado ao pecado, e já não sejamos escravos do pecado. (Pois quem morreu, libertado está do pecado)

Ora, se morremos com Cristo, cremos que viveremos também com ele, pois sabemos que Cristo, tendo ressurgido dos mortos, já não morre, nem a morte terá mais domínio sobre ele. Morto, ele o foi uma vez por todas pelo pecado: porém, está vivo, continua vivo para Deus! Portanto, vós também considerai-vos mortos ao pecado, porém vivos para Deus, em Cristo Jesus.

“A um desses meus irmãos mais pequeninos”

É claro que nem todo aquele que está preso é inocente como Jesus. Contudo, o próprio Deus se sujeitou à prisão, ao suplício e à morte para nos libertar do pecado. Com Cristo fomos presos, supliciados, mortos e ressuscitados. Vivemos agora uma vida nova. Contudo, não podemos nos esquecer nem dos inocentes, nem dos criminosos na prisão.

“Estava na prisão e viestes até mim. […] todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes. […] na prisão e não me visitastes […] todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.” (Mt 25,36-45) É esse o critério que será usado em nosso julgamento: por amor a Deus, fizemos o bem para os mais frágeis? Ou então os deixamos desprotegidos? Podemos fazer o bem a esses pequeninos irmãos simplesmente dando-lhes condições dignas para pagar por seus crimes, para se educarem e se recuperarem para a vida em sociedade, e, principalmente, para a conversão. Afinal, que foi que disse Nosso Senhor Jesus Cristo ao ladrão arrependido? “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso”. (Lc 23,43)

O Terceiro Reich e o mal

O texto que transcreverei a seguir é quase um tratado de demonologia política. Meu propósito em publicá-lo aqui, porém, não é dizer que a política deva ser abominada, ou que todo mal seria uma questão de influência demoníaca – até porque a humanidade já tem causado muito mal por si só. Contudo, como historiador, nunca consegui explicar adequadamente como os nazistas conseguiram não apenas tomar o poder na Alemanha, mas também impor uma ideologia de ódio absoluto.

É verdade que a Alemanha não se resume, nem se resumiu ao nazismo. Nessa mesma época, vemos heróis e mártires como santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein, doutora em filosofia, judia e convertida do ateísmo para o cristianismo, assassinada em Auschwitz-Birkenau) e muitos outros, alguns famosos, mas muitos anônimos. Ainda assim, o nazismo conseguiu implementar com sucesso um Estado movido a ódio.

É bem verdade que esse fenômeno surgiu numa sociedade imbuída de um antissemitismo atroz e antigo, profundamente enraizado em sua cultura. Contudo, não foram só os semitas as vítimas do nazismo. As primeiras foram os comunistas, depois vieram os ciganos, os homossexuais, os judeus… Enfim, uma política de ódio, e que conquistou, pregando o ódio, um terço dos eleitores alemães.

Esse texto também ilustra algumas questões que certos cristãos insistem em não ver, e assim não distinguir bem entre o mal absoluto e boas intenções que por vezes se desviam até mesmo pela falta de apoio e diálogo mais intenso dos cristãos em geral – além de condições históricas muito difíceis de superar.

Vamos logo ao texto, um trecho de Summa daemoniaca, do padre José Antonio Fortea, teólogo e exorcista na dioecese de Alcalá de Henares, na Espanha. A edição é a de 2010, pela editora Palavra e Prece.

O Terceiro Reich e o mal

Há muitos estudos sobre a Alemanha nacional-socialista, estudos políticos, econômicos, sociais, militares… mas se houver uma análise da realidade que é essencial e inevitável será a análise da religião. Em minha opinião, a Alemanha de Hitler é o exemplo mais claro de como o mal pode estender-se não apenas a indivíduos, mas a toda uma sociedade, e iniciar um processo de degradação moral crescente cada vez mais aberrante. Houve outras sociedades em que o mal assumiu seu poder, mas o Terceiro Reich foi a versão mais completa de toda uma nação mergulhada nas trevas da iniquidade.

É importante deixar claro que, para o mal tomar as rédeas de uma sociedade, sem impedimentos, não é necessário que todos os cidadãos compartilhem desse mal. É suficiente que uma certa porcentagem de cidadãos plenamente em degradação, alcancem o que chamamos de uma massa crítica, cuja força joga a sociedade no abismo. Por exemplo, basta que 25% dos habitantes de uma nação sejam completamente dominados pelo mal, para que essa quarta parte da população convença a outra parte a apoiá-la, e, por sua vez, contamine a outra quarta parte. Nunca uma sociedade vai sucumbir aos 100%. A percentagem de totalmente envenenados por uma doutrina será sempre muito inferior a dos parcialmente intoxicados. E a parte dos que se calarão será consideravelmente maior. Sempre que falamos sobre a Alemanha de Hitler falamos de uma situação geográfica e temporal, e mesmo no auge do nacional-socialismo foram inúmeros os que nunca apoiaram o programa. Deve ser lembrado que, antes de Hitler chegar ao poder, nunca conseguiu atingir mais de 37% dos votos em eleições livres. Mas alcançada a massa crítica, como infelizmente aconteceu: os 63% da população restante (querendo ou não) foram arrastados para o abismo nos anos seguintes.

Feitas essas considerações, acredito que a sociedade de Hitler trouxe consigo um mal muito maior do que trouxe a União Soviética. O marxismo sempre foi uma doutrina mais benigna que o nacional socialismo. Marx sempre foi melhor do que Nietzche. Pelo menos Marx procurou o bem dos pobres, uma sociedade justa. O nacional-socialismo, doutrina verdadeiramente demoníaca, nunca buscou isso. Desde o início, nunca escondeu a sociedade que pretendia no futuro, uma sociedade em que uns povos se submeteriam a outros povos, uma nova ordem na qual as elites dominariam, inclusive, o resto da população alemã. Uma sociedade militarista na qual as camadas mais fracas da população deveriam sucumbir pelo bem de uma nova ordem que foi apresentada a todos. O nacional-socialismo promoveu o ocultismo dentro das SS, começou uma verdadeira idolatria ao Fuhrer, ensinou as pessoas a violar os valores da religião como valores burgueses, rejeitou os Dez Mandamentos como os inconvenientes de uma mentalidade fraca. Se o marxismo trouxe uma opressão terrível, uma espantosa perseguição, do ponto de vista intelectual, o nacional-socialismo era uma doutrina que parecia ter sido tirada do Inferno e ensinada pelos próprios demônios. Na verdade, os campos de concentração não foram outra coisa que simplesmente a construção de infernos em miniatura, onde homens-demônios destruíam o homem moldado à imagem de Deus. O fato de que os uniformes da SS eram todos pretos, que tinha uma caveira sobre seus bonés e uma nova cruz (que não era cristã), em seus braceletes não eram casualidades para os crentes. Os membros das SS, que seriam a elite da Nova Ordem, aprendizes de assassinos, aprendizes de bruxos, inimigos ferozes do cristianismo, estavam debaixo das ordens desse arquidemônio que era Heinrich Himmler. Embora ao ler a biografia desses dois homens, Hitler e Himmler, claramente se descobrirá como o último, todavia, estava abaixo da maldade de seu Führer que exerceu algo parecido a um encantamento, um feitiço que subjugou com os laços da mentira as almas de toda a condição.

Aos olhos de Hitler se concentravam os destinos indubitáveis de uma iniquidade como poucas vezes foi vista. Sua boca tornou-se a boca através da qual o mal falava. Nos filmes ele é visto acariciando uma criança, sorrindo para uma garota que lhe dá um buquê de flores, mas por detrás desse sorriso há um rosto e um olhar para arrogância em vigor, ódio crueldade, raiva, mentiras, a rejeição de Deus, todos os pecados.

Podemos ver uma parte de tudo isso em Stalin, um terrível Pol-Pot, podemos vislumbrar um esboço do Terceiro Reich na Revolução Francesa, em fogo e sangue das colunas de dezenas de milhares de homens enviados para a morte, tudo para a glória de uma França napoleônica. Mas o modelo mais perfeito de domínio do mal encontra-se entre 1933 e 1945 na Alemanha. Um mal que não foi obra de um homem, mas o fruto da loucura coletiva que os homens, infelizmente, construíram.

Esse império perfeito do mal, tudo de “perfeito” que esse império pode se tornar no mundo teve um dos protagonistas mais conhecidos perto das informações de como o Terceiro Reich foi, antes de tudo, uma questão moral, religiosa espiritual.

Peter Padfield, em sua magnífica biografia de Himmler, iniciou seu livro de 840 páginas apresentando o futuro fundador das SS quando pequeno, como coroinha em um santuário na Baviera. E ele escreveu:

Imaginei o jovem Heinrich Himmler quando o coral de crianças se juntava à procissão. Eles vestiam roupas brancas e tinham os olhos muito graves. (…) Quando era um jovem de dezenove anos, havia escrito em seu diário: “Aconteça o que acontecer, Deus sempre te amarei e rezarei e obedecerei e defenderei a Igreja Católica, mesmo caso seja expulso dela”.

A verdade é que logo encontrou outra fé oposta à Igreja, expulsou-se voluntariamente e logo a atacou com todas suas forças, declarando que os sacerdotes eram o maior câncer que um povo podia sofrer.”(1)

A questão é se não haveria uma maneira de evitar essa situação, pois o que aconteceu a um bom menino para que se transformasse num demônio? A resposta é repetida ao longo de dois mil anos nos livros de espiritualidade e moral da Igreja. Talvez essa apelação para os elementos cristãos para compreender o III Reich pode parecer a alguns a deformação destas linhas pelo autor, por se tratar de um padre. Mas, ao contrário, longe de ser um complemento aos elementos que distorce nossa visão objetiva sobre o assunto, envolvendo alguns elementos essenciais para compreender o que realmente tinham em mente os autores da Nova Ordem. E para isso, entre os inúmeros exemplos que poderia oferecer deixo aqui apenas uma amostra.

Em 12 de setembro de 1944, quando a guerra já estava perdida e as tropas se retiraram, Kersten, médico pessoal do Chefe Supremo das SS, “fez um pedido de clemência para um grupo de 27 sacerdotes. No decurso da discussão, Himmler confessou o erro que fizeram os nazistas ao atacar a Igreja. Tornara-se claro que era mais forte do que eles e o partido e perguntou: “quando eu estiver morto, os sacerdotes também rezarão por minha alma?”(2)

Essa questão parecia a maior ironia que a história poderia render. Mas não foi só ele; Canaris no final do regime passava horas rezando em igrejas católicas. Ao contrário, Hitler foi visto ocasionalmente andando furioso e espumando pela boca.(3)

Em 1943, duas semanas após a queda de Stalingrado, o grupo chamado The White Rose imprimiu milhares de panfletos e jogou-os no pátio da Universidade de Munique. A Rosa Branca era um grupo cristão que atuou na universidade como um exemplo dos milhares de heróis alemães que fazia parte da mais nobre ala da Alemanha que nunca apoiou Hitler. Esse grupo escreveu nestes panfletos, as seguintes palavras, que são a mais lúcida síntese que já li sobre o que foi o nacional-socialismo: “Quem contou os mortos, Hitler ou Goebbels? Certamente, nenhum dos dois. (…) A dor atravessa as casas de campo da Pátria-mãe, e ninguém limpou as lágrimas das mães, mas Hitler mente àqueles que ele tomou o seu tesouro mais precioso e que levou a uma morte sem sentido. Todas as palavras que saem da boca de Hitler são mentiras. Quando diz ‘paz’, refere-se à guerra, e se da forma mais sacrílega usa o nome do Todo-Poderoso, refere-se ao poder do mal, o anjo caído, Satanás. Sua boca é a porta fedorenta do Inferno e o seu poder é degradante. Certamente, temos que travar uma batalha contra o terrorismo de Estado nacional-socialista com todos os meios à nossa disposição racional, mas quem ainda abriga qualquer dúvida sobre a existência de poderes demoníacos absolutamente ignorou o fundo metafísico dessa guerra. Por trás do concreto, por trás das percepções materiais, por trás de todas as considerações expositivas e lógicas está escondido o irracional, ou seja, a batalha contra o demônio, contra os emissários do Anticristo.”(4)

Sim, nessa guerra que estava sendo travada na Europa e em outras partes do mundo houve muitas batalhas menores, mas a síntese de tudo, o fundo de tudo, estava na guerra entre o bem e o mal, entre os apoiadores da Árvore da Vida e os seguidores da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. O conteúdo daquele folheto, que resultou na morte após terríveis torturas dos dois irmãos autores do texto, foi a síntese mais lúcida do que estava acontecendo na Europa Central. A raiz de tudo aquilo era a essência moral, o resto eram questões acidentais. Por trás do concreto, por trás dos personagens, por trás das razões menores, estava a luta entre duas visões de mundo: a visão cristã e a visão de um mundo sem Deus nem moral. Em meio a essa luta, não poderia caber meias medidas nem neutralidades, uma das duas visões de mundo e da história prevalecia sobre a outra no Velho Continente. O silêncio seria culpado. A história não perdoaria o silêncio. Graças a Deus, a semente mais perniciosa foi erradicada na base de muito sangue, mas a história teria sido diferente se alguns homens em vários países optassem por ceder, não se opor, não lutar quando já não resta mais nada a não ser lutar. Se os Estados Unidos tivessem se abstido do problema se o Reino Unido tivesse acordado uma “paz honrosa”, se alguns homens influentes optassem por uma via mais confortável, para o bem, a curto prazo; então uma nova mentalidade teria lançado suas raízes na mesma terra que viu erguer catedral atrás de catedral.

Que uma nação civilizada e culta como a Alemanha pré-Hitler, defensora dos valores da razão, cultivadora da herança clássica, de repente, caísse sob a escuridão, nos lembra que qualquer sociedade que se afaste do caminho do bem, a qualquer tempo pode cair aos encantos da iniquidade. O III Reich é um aviso, um lembrete do que aconteceu com eles, pode de novo para nós. Somos muito condescendentes com o mal da sociedade, quando este se torna generalizado. Não percebemos que a cada renúncia ao que é o caminho certo da Lei Natural, estamos um passo mais perto da situação de uma nação enfraquecida na sua consciência, que como um corpo doente, pode sucumbir à doença, em uma nova noite.

(1) Peter Padfield, Himmler, p. 3 (Madri: Editorial La Esfera de Los Livros, 2003).
(2) Peter Padfield, Himmler, p. 678 (os dados foram retirados de A. Besgen, Der stille Befehl, 12.09.1944, Munique, 1960, p. 35).
(3) Peter Padfield, Himmler, p. 642.
(4) Peter Padfield, Himmler, p. 538.

Eucaristia, alimento de amor

Ontem, em sua homilia, o papa Bento XVI nos lembrou das duas dimensões do cuidado de Deus conosco. Para Deus, importa que sejamos plenos (“Todos nós recebemos da sua plenitude graça sobre graça”, testemunhava João Batista – Jo 1,16). Podemos dizer que essa graça é o cuidado do Senhor para que nada nos falte, como nas bodas de Caná, em que Jesus, a pedido de sua santíssima mãe, não deixou que faltasse o vinho da festa, e esse vinho foi o melhor (Jo 2,1-11). E a graça que está sobre essa outra é a graça maior, da nossa salvação, pois “de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3,16)

E o Verbo de Deus, que é Deus, se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,1.14). O “cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29) entre nós habitou para que, por nós levantado na cruz, tenhamos a vida eterna (Jo 3,14-15). Importava que o Filho de Deus fosse também Filho do Homem, para que, tendo nós sido por um homem condenados, por um homem fôssemos salvos (Rm 5). E esse homem não é ninguém menos que o Verbo de Deus, unido ao homem e a seu destino.

Sendo homem, não poderia se esquivar do cuidado com o homem – e é esse cuidado que vemos nas bodas de Caná (Jo 2,1-11) e na multiplicação dos pães (Jo 6,1-14). A Deus importa o bem-estar do homem, inclusive o bem-estar de seu corpo, pois o ser humano não é apenas espiritual. Foi da vontade de Deus que, sendo criaturas também materiais, cuidássemos de sua criação (Gn 1,26-30) e, sendo essa a vontade d’Ele, Ele mesmo cuida de nós para que nada nos falte, nem o material, nem o mais importante, o espiritual (Mt 6,25-34). É esse mesmo cuidado, nas medidas das nossas limitações, que devemos ter com o próximo (Mt 20,25-28). Precisamos carregar também a suave cruz de Cristo (Mt 11,28-30)!

Angelus: “Combater as desigualdades com as armas do amor”

2012-07-29 Rádio Vaticana
Castel Gandolfo (RV) – “Que jamais falte a ninguém o pão necessário para uma vida digna, e sejam abatidas as desigualdades não com as armas da violência, mas com a compartilha e o amor.”
A cena da multiplicação dos pães, extraída do Evangelho de João, serviu de inspiração a Bento XVI para falar da importância da Eucaristia, nosso alimento espiritual, a fiéis, peregrinos e visitantes reunidos no pátio interno da residência de Castel Gandolfo, onde o Papa se encontra neste período de verão europeu.
Comentando o Evangelho deste domingo, o Pontífice explicou que as ações realizadas por Jesus são paralelas às da Última Ceia: “Tomou os pães e, depois de dar graças, distribui-os aos presentes” (Jo 6,11). A insistência sobre o tema do “pão” que é distribuído e no agradecimento evocam a Eucaristia, o Sacrifício de Cristo para a salvação do mundo.
“A Eucaristia é o permanente grande encontro do homem com Deus, em que o Senhor se faz nosso alimento, dá Si mesmo para transformamo-nos Nele.”
Na cena da multiplicação, é sinalizada também a presença de um jovem, que, diante da dificuldade de saciar a fome de tanta gente, compartilha o pouco que tem.
“O milagre não se produz a partir do nada, mas de uma primeira modesta compartilha daquilo que um simples rapaz tinha consigo. Jesus não nos pede o que não temos, mas nos faz ver que, se cada um oferece o pouco que tem, o milagre pode novamente se realizar. Deus é capaz de multiplicar todo nosso pequeno gesto de amor e tornar-nos partícipes do seu dom”, explicou o Papa, acrescentando que Jesus não é um rei terreno que exercita o domínio, mas um rei que serve, que se curva sobre o homem para saciar não somente a fome material, mas sobretudo aquela mais profunda, a de Deus.
“Queridos irmãos e irmãs, peçamos ao Senhor que nos faça redescobrir a importância de nos nutrir do corpo de Cristo, participando fielmente e com grande consciência da Eucaristia, para estar sempre mais intimamente unidos a Ele. Ao mesmo tempo, rezemos para que jamais falte a ninguém o pão necessário para uma vida digna, e sejam abatidas as desigualdades não com as armas da violência, mas com a compartilha e o amor.”
(BF)

Tradição e Escritura

Entre os católicos tradicionalistas (e note bem o “istas”), é comum reclamar que o Concílio Ecumênico Vaticano II teria abandonado a tradição e até mesmo aderido aos “solas” protestantes, especialmente o sola Scriptura – somente a Escritura. Alguns usam como argumento a união Bíblia-tradição expressa na constituição dogmática Dei Verbum. Eles opõem ao ensinamento deuterovaticano a reafirmação da tradição pelo Concílio de Trento. É preciso novamente relembrar a historicidade dele, e, principalmente, o que realmente declarou.

A chamada “contra-reforma”

É comum na historiografia ouvir-se falar da “contra-reforma”, termo ao qual alguns historiadores católicos contrapõem outro, “reforma católica”. Trata-se do movimento da Igreja romana frente aos desafios impostos pelo avanço da reforma protestante no século XVI. O principal acontecimento nesse cenário foi o Concílio de Trento, o qual reafirmou as verdades de fé que os protestantes contestavam – dentre as quais necessariamente deveria constar a tradição como fonte da verdade.

Digo que deveria constar o argumento sobre a tradição, porque os protestantes, para poderem se desvincular da Igreja Católica, precisavam atacar sua autoridade enquanto detentora da tradição evangélica. Como não se poderia contestar a tradicionalidade do ensinamento romano, os novos grupos religiosos contestaram a própria tradição enquanto fonte da verdade, proclamando o “sola Scriptura”. A resposta tridentina (ou seja, do Concílio de Trento) a essa contestação veio já na quarta sessão do primeiro período conciliar, logo após a abertura (primeira sessão), as regras de vida a serem observadas no Concílio (segunda sessão) e a profissão de fé (terceira sessão).

Vejamos tal resposta:

O Sacrossanto, Ecumênico e Geral concílio de Trento, congregado legitimamente no Espírito Santo e presidido pelos três legados da Sé Apostólica, propondo-se sempre por objetivo que exterminados os erros se conserve na Igreja a mesma pureza do Evangelho, que prometido antes na Divina Escritura pelos Profetas, promulgou primeiramente por suas próprias palavras, Jesus Cristo, Filho de Deus e Nosso Senhor, e depois mandou que seus apóstolos a pregassem a toda criatura, como fonte de toda verdade que conduz à nossa salvação, e também é uma regra de costumes, considerando que esta verdade e disciplina estão contidas nos livros escritos e nas traduções não escritas, que recebidas na voz do mesmo Cristo pelos apóstolos ou ainda ensinadas pelos apóstolos, inspirados pelo Espírito Santo, chegaram de mão em mão até nós.

Seguindo o exemplo dos Padres católicos, recebe e venera com igual afeto de piedade e reverência, todos os livros do Velho e do Novo Testamento, pois Deus é o único autor de ambos assim como as mencionadas traduções pertencentes à fé e aos costumes, como as que foram ditadas verbalmente por Jesus Cristo ou pelo Espírito Santo, e conservadas perpetuamente sem interrupção pela Igreja Católica.

Resolveu também unir a este decreto o índice dos Livros Canônicos, para que ninguém possa duvidar quais são aqueles que são reconhecidos por este Sagrado Concílio. […]

Se alguém então não reconhecer como sagrados e canônicos estes livros inteiros, com todas as suas partes, como é de costume desde antigamente na Igreja católica, e se acham na antiga versão latina chamada Vulgata, e os depreciar de pleno conhecimento, e com deliberada vontade as mencionadas traduções, seja excomungado.[…]

Decreta também com a finalidade de conter os ingênuos insolentes, que ninguém, confiando em sua própria sabedoria, se atreva a interpretar a Sagrada Escritura em coisas pertencentes à fé e aos costumes que visam a propagação da doutrina Cristã, violando a Sagrada Escritura para apoiar suas opiniões, contra o sentido que lhe foi dado pela Santa Amada Igreja Católica, à qual é de exclusividade determinar o verdadeiro sentido e interpretação das Sagradas Letras; nem tampouco contra o unânime consentimento dos santos Padres, ainda que em nenhum tempo se venham dar ao conhecimento estas interpretações.

Ou seja, o Concílio de Trento declarou a mesma fonte divina da Bíblia e da tradição católica, guardadas pela Igreja enquanto sucessora dos apóstolos. A tradição e a Escritura, portanto, são fontes ambas do magistério eclesiástico, visto que unidas indissoluvelmente e reveladas divinamente, o que resulta necessariamente que a única fonte do magistério é a divina, dada por dois meios, ditos também fontes: a Bíblia e a tradição.

O Concílio Ecumênico Vaticano II

Vejamos agora o que diz o Vaticano II em uma de suas constituições dogmáticas, a Dei Verbum, sobre a revelação divina (a outra é a Lumen Gentium, sobre a Igreja):

CAPÍTULO II

A TRANSMISSÃO DA REVELAÇÃO DIVINA

Os apóstolos e seus sucessores, transmissores do Evangelho

7. Deus dispôs amorosamente que permanecesse integro e fosse transmitido a todas as gerações tudo quanto tinha revelado para salvação de todos os povos. Por isso, Cristo Senhor, em quem toda a revelação do Deus altíssimo se consuma (cf. II Co 1,20; 3,164,6), mandou aos Apóstolos que pregassem a todos, como fonte de toda a verdade salutar e de toda a disciplina de costumes, o Evangelho prometido antes pelos profetas e por Ele cumprido e promulgado pessoalmente, comunicando-lhes assim os dons divinos. Isto foi realizado com fidelidade, tanto pelos Apóstolos que, na sua pregação oral, exemplos e instituições, transmitiram aquilo que tinham recebido dos lábios, trato e obras de Cristo, e o que tinham aprendido por inspiração do Espírito Santo, como por aqueles Apóstolos e varões apostólicos que, sob a inspiração do mesmo Espírito Santo, escreveram a mensagem da salvação.

Porém, para que o Evangelho fosse perenemente conservado íntegro e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram os Bispos como seus sucessores, «entregando lhes o seu próprio ofício de magistério». Portanto, esta sagrada Tradição e a Sagrada Escritura dos dois Testamentos são como um espelho no qual a Igreja peregrina na terra contempla a Deus, de quem tudo recebe, até ser conduzida a vê-lo face a face tal qual Ele é (cf. I Jo 3,2).

A sagrada Tradição

8. […] Afirmações dos santos Padres testemunham a presença vivificadora desta Tradição, cujas riquezas entram na prática e na vida da Igreja crente e orante. Mediante a mesma Tradição, conhece a Igreja o cânon inteiro dos livros sagrados, e a própria Sagrada Escritura entende-se nela mais profundamente e torna-se incessantemente operante; e assim, Deus, que outrora falou, dialoga sem interrupção com a esposa do seu amado Filho; e o Espírito Santo – por quem ressoa a voz do Evangelho na Igreja e, pela Igreja, no mundo – introduz os crentes na verdade plena e faz com que a palavra de Cristo neles habite em toda a sua riqueza (cf. Col 3,16).

Relação entre a sagrada Tradição e a Sagrada Escritura

9. A sagrada Tradição, portanto, e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim. A Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, para que eles, com a luz do Espírito de verdade, a conservem, a exponham e a difundam fielmente na sua pregação; donde resulta assim que a Igreja não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência.

Relação de uma e outra com a Igreja e com o Magistério eclesiástico

10. A sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só depósito sagrado da palavra de Deus, confiado à Igreja; aderindo a este, todo o Povo santo persevera unido aos seus pastores na doutrina dos Apóstolos e na comunhão, na fracção do pão e na oração (cf. At 2,42), de tal modo que, na conservação, atuação e profissão da fé transmitida, haja uma especial concordância dos pastores e dos fiéis.

Porém, o encargo de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou contida na Tradição, foi confiado só ao magistério vivo da Igreja, cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo. Este magistério não está acima da palavra de Deus, mas sim ao seu serviço, ensinando apenas o que foi transmitido, enquanto, por mandato divino e com a assistência do Espírito Santo, a ouve piamente, a guarda religiosamente e a expõe fielmente, haurindo deste depósito único da fé tudo quanto propõe à fé como divinamente revelado.

É claro, portanto, que a sagrada Tradição, a sagrada Escritura e o magistério da Igreja, segundo o sapientíssimo desígnio de Deus, de tal maneira se unem e se associam que um sem os outros não se mantém, e todos juntos, cada um a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas.

Nessa constituição dogmática do Concílio Vaticano II encontramos, portanto, plena continuidade do Decreto sobre as Escrituras Canônicas do Concílio de Trento. Não é verdadeiro o argumento que procura abalar a autoridade do Vaticano II sob pretexto de uma suposta ruptura com o concílio tridentino. O que o concílio mais recente fez foi, na verdade, atualizar a apresentação dessa doutrina, facilitando a atuação pastoral da Igreja Católica num mundo profundamente modificado – e a ação pastoral, que alguns questionam, nada mais é que fazer retornar para o caminho certo as ovelhas desviadas (Lc 15,3-7) e guiar em segurança todo o rebanho para seu destino, os prados celestiais, a exemplo e em nome de Nosso Bom Pastor Jesus Cristo (Jo 14).

“O marxismo, como era concebido…”

As (ainda) recentes declarações do papa geraram polêmica. A mídia empresarial distorceu-as, como se Bento XVI tivesse dito que o comunismo seria uma doutrina diabólica. Muitos, realmente muitos marxistas caíram no embuste e saíram a criticar o papa sem nem ir atrás da informação original, de que o papa os havia chamado ao diálogo. “Cuba precisa se abrir para o mundo, e o mundo precisa se abrir para Cuba”, disse João Paulo p.p. II. A fala do papa Bento XVI poderia muito bem ser resumida na paráfrase: “O marxismo precisa se abrir para o cristianismo, e o cristianismo precisa se abrir para marxismo”. Muitos responderam ao convite com pedras. Os inimigos sociais destes lhes forneceram as pedras. A Igreja foi mera espectadora.

A crise do socialismo

Não é possível negar que, com a queda do socialismo na Europa, as várias correntes marxistas entraram em crise. O revés foi grande, e o refluxo no número de seus quadros foi gigantesco. Partidos enormes fecharam as portas. Outros, minguaram. Alguns, como o PCdoB, decidiram renovar-se, não abandonaram o essencial do marxismo, mas buscaram compreender o ocorrido e daí tirar conclusões. A conclusão mais clara, desde o primeiro momento foi: não há uma via única para o socialismo. Outra foi se abrir para setores até então evitados, inclusive os amplos segmentos religiosos da sociedade brasileira. Há hoje até um campo específico no formulário de cadastramento do partido para identificar os que atuam em grupos religiosos. Porém, há em muitos militantes, e até mesmo quadros importantes do partido, um antigo ranço antirreligioso, como se o materialismo histórico e científico pudesse provar se existe ou não o que não é material…

Cuba

Se formos a Cuba, perceberemos que também lá o Partido Comunista se abre para novidades, e seu 6.º Congresso é exemplo atualíssimo disso. Também vemos que, desde que o Estado cubano deixou de ser oficialmente ateu, membros do Partido e pessoas proeminentes no Estado cubano praticam publicamente o catolicismo. O mesmo escritório registra que as antigas restrições cubanas à entrada de clérigos estrangeiros e novas ordens religiosas têm sido levantadas. O núncio apostólico registra que há “um novo clima” nas relações entre a Igreja e o governo de Cuba. Em outro documento, os vizinhos do norte criticam a Igreja Católica por não seguir suas posições quanto às terras desapropriadas pela Revolução Cubana (§ 3) (desculpa dos EUA para o bloqueio) e por só contestar o governo cubano quando as políticas deste diferem da doutrina católica (§ 10). Esse mesmo documento reconhece que o número de presbíteros e religiosos em Cuba duplicou em dez anos, e também o governo cubano permite que a Igreja receba fundos estrangeiros para suprir suas necessidades materiais e fazer obras de caridade (§ 2). Para os EUA, a Igreja Católica deveria como que “bloquear” Cuba. A Igreja Católica, porém, pensa o contrário.

Ainda sobre Cuba, e ainda com base nas informações americanas, temos como exemplo o apoio direto de Fidel Castro à inauguração de um convento da Ordem do Santíssimo Salvador de Santa Brígida em Havana. Segundo o documento da embaixada dos EUA no Vaticano a respeito dessa efeméride, a abadessa-geral da ordem, Madre Tekla Famiglietti teria recebido ameaças por parte dos que residem em Miami, os mais ferrenhos opositores do regime cubano. Do governo e, pessoalmente do governante, Fidel Castro, toda ajuda. O documento demonstra bem que aquele país não vê com bons olhos a cooperação entre a Igreja e o governo cubano. Por outro lado, a homilia do Cardeal Sepe durante a inauguração do convento, diz estar “persuadido de que os maravilhosos dias que viram a presença do Vigário de Cristo em Cuba [João Paulo p.p. II], as suas palavras de esperança, de concórdia e de reconciliação continuam a ressoar vigorosamente na mente e no coração de todos vós [cubanos].”

Outrossim, é notável a frase usada em 2002 pelo diretor para assuntos do Caribe da secretaria de Estado do Vaticano, Monsenhor Lingua, ao explicitar para a embaixada americana que a Igreja em Cuba nunca foi perseguida como em países do leste europeu: o “socialismo à antiga” é que teria ameaçado a Igreja Católica na Europa, o que não ocorreu no país caribenho. “A ideologia marxista, como era concebida”, poderíamos dizer…

A epistemologia marxista e os limites do materialismo científico

Já mencionei acima a impossibilidade de o materialismo científico provar a existência ou inexistência do que não é material. Trata-se de uma questão epistemológica básica: o que o método científico materialista estuda? As condições materiais e a ação do homem sobre a natureza material. Especificamente o método marxista, que é materialista e dialético, estuda as influências recíprocas entre natureza e homem do ponto de vista material – homem este que é sujeito sobre a natureza, mas também objeto da natureza. Como tal, está limitado ao conhecimento do que é capaz de medir e teorizar. Tudo o que não é mensurável, é descartado pelo método materialista. Mas, como objeto natural, o homem também está limitado até mesmo no conhecer o mundo material, pois só o conhece através de seus sentidos e dos aparelhos que sua mente concebe e sua habilidade permite. E isso impõe uma dupla limitação, sensível e intelectual. Do ponto de vista religioso, poderíamos dizer que a criatura nunca conhece completamente a criação, apenas o Criador a concebe totalmente, assim como poderíamos dizer que o homem é constituído necessariamente de corpo material e alma espiritual.

Ateísmo militante

Daí devemos chegar à conclusão justa de que o ateísmo não pode ser uma parte integrante do marxismo, embora isso certamente não exclua aos ateus a possibilidade de serem marxistas. O que não pode ocorrer é um agrupamento se dizer marxista e, como tal, militar a favor do ateísmo. Especialmente, não se pode excluir a religiosidade com a descula do marxismo – que não oferece tal desculpa.

É verdade que Marx, Engels, Lênin e muitos outros foram ateus militantes. Viveram tempos conturbados nesse aspecto, especialmente Marx, pois, sendo de origem judia, com família convertida ao protestantismo possivelmente por motivos econômicos, teve toda uma perspectiva de vida barrada pela insensatez falsamente religiosa de alguns.

Entretanto, vemos já em José Carlos Mariátegui, um dos pioneiros do marxismo na América Latina, a defesa sensata do materialismo na ciência, e não do materialismo existencial:

O socialismo, conforme as conclusões do materialismo histórico – que convém não confundir com o materialismo filosófico –, considera as formas eclesiásticas e doutrinas religiosas peculiares e inerentes ao regime econômico-social que as sustém e produz. E se preocupa, portanto, em mudar este, e não aquelas. A mera agitação anticlerical é vista pelo socialismo como um diversionismo liberal burguês.

(MARIÁTEGUI, José Carlos. El factor religioso. In: 7 Ensayos de Interpretación de la Realidad Peruana.)

Se formos nos deter sobre o método histórico aplicado sobre a exegese bíblica modernamente, veremos uma tese muito semelhante no que diz respeito ao papel do “regime econômico-social” no culto e na escrita sagrados.

A justa e eqüitativa distribuição das riquezas materiais

Por fim, é muito proveitoso citar o Cardeal Sepe e assim explicitar o papel do socialismo renovado e o papel da Igreja Católica, valorando positivamente os progressos trazidos pelo socialismo e mantendo a enorme importância do “amor divino, eterno e transcendente, que Jesus Cristo nos revela por intermédio da sua humanidade”:

Sabemos que os progressos sociais e culturais positivos, alcançados por um povo, assim como os louváveis esforços em ordem a uma justa e equitativa distribuição das riquezas materiais, não podem saciar as aspirações mais profundas que residem no coração de cada homem e de cada mulher; é o amor divino, eterno e transcendente, que Jesus Cristo nos revela por intermédio da sua humanidade, o único que é capaz de saciar completamente estes anseios. A Igreja deseja ser, também em Cuba, anunciadora fiel e verdadeira deste Amor.

(Cardeal Sepe. Homilia na Catedral de Havana por ocasião da inauguração da casa da Ordem do Santíssimo Salvador de Santa Brígida. Havana, 2003.)

Nota: esta postagem foi originalmente publicada no meu antigo blog Marxismo Online no dia 4 de julho de 2012.

Amor, comunhão, catolicidade

Desta vez tentarei ser breve e menos formal. Falo sobre os recentes acontecimentos envolvendo a Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), para além da questão litúrgica, já tratada em A sacramentalização do rito.

Meu questionamento é simples: eles tanto falam em promover a “tradição católica”, mas o que fazem? Em 1988, o papa João Paulo II escreveu o importante documento Ecclesia Dei, especificamente acerca de certas atitudes do fundador da FSSPX, Monsenhor Marcel Lefebvre, mais especificamente a ordenação de quatro bispos em “desobediência ao Romano Pontífice em matéria gravíssima e de importância capital para a unidade da Igreja […] Por isso, tal desobediência – que traz consigo uma rejeição prática do Primado romano – constitui um ato cismático“, acrescentando que todos eles (Lefebvre e os quatro bispos por ele ordenados) incorreram na pena canônica de excomunhão (n.º 3).

Prosseguiu o Santo Padre:

4. A raiz deste acto cismático pode localizar-se numa incompleta e contraditória noção de Tradição. Incompleta, porque não tem em suficiente consideração o carácter vivo da Tradição, “que – como é claramente ensinado pelo Concílio Vaticano II – sendo transmitida pelos Apóstolos … progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo. Com efeito, progride a percepção tanto das coisas como das palavras transmitidas, quer mercê da contemplação e estudo dos crentes, que as meditam no seu coração, quer mercê da íntima inteligencia que experimentam das coisas espirituais, quer mercê da pregação daqueles que, com a sucessão do episcopado, receberam o carisma da verdade”.

Mas é sobretudo contraditória uma noção de Tradição que se opõe ao Magistério universal da Igreja, do qual é detentor o Bispo de Roma e o Colégio dos Bispos. Não se pode permanecer fiel à Tradição rompendo o vínculo eclesial com aquele a quem o próprio Cristo, na pessoa do Apostolo Pedro, confiou o ministério da unidade na sua Igreja.

E contra isso se insurgem novamente os Lefebvrianos, apesar dos reiterados convites à unidade. Mais recentemente, eles impuseram “condições” para retornar à plena comunhão com a Igreja Católica, dentre elas liberdade para “acusar e até corrigir os promotores dos erros do modernismo, liberalismo, [Concílio] Vaticano II e conseqüências”. Entre as “conseqüências” convém salientar uma suposta diminuição da autoridade do papa em vista da promoção da colegialidade dos bispos. O que é isso, senão ir contra a tradição viva da igreja? O que é falar de tradição rompendo com a tradição viva da Igreja? O que é falar de “diminuição da autoridade do papa” impondo condições ao papa?

Compreendendo o Ecclesia Dei, alguns católicos mais apegados às antigas formas do rito romano fundaram a Fraternidade Sacerdotal São Pedro (FSSP), que preserva as formas anteriores ao Concílio Vaticano II, mas conserva também a unidade com a Igreja Católica, a qual se insere e tem de agir num mundo que não congelou em 1962, ano da última edição do missal antigo.

As divergências entre a FSSPX e o Vaticano não se resolverão com a imposição de um determinado modo de ser Igreja, de participar da diversidade de dons do mesmo Espírito (I Co 12,4). Sábias são as palavras do beato João Paulo II:

5. […] Todavia, é preciso que todos os Pastores e os demais fiéis tomem nova consciência, não só da legitimidade mas também da riqueza que representa para a Igreja a diversidade de carismas e de tradições de espiritualidade e de apostolado, o que constitui a beleza da unidade na variedade: daquela “sintonia” que, sob o impulso do Espírito Santo, a Igreja terrestre eleva ao céu.

São palavras que devemos ter sempre em mente, quer tratemos da FSSPX, quer de qualquer grupo dentro da Igreja, sejam tradicionalistas, carismáticos, adeptos da teologia da libertação, ou o que mais houver. Deus é amor (I Jo 4,16), não é?