Um dos objetivos da reformulação do Caritas in Veritate era que eu pudesse escrever artigos e ensaios mais aprofundados sobre história da Igreja. Hoje esse objetivo foi realizado: publiquei o artigo Poder e reforma na Inglaterra. Ele trata de um tema espinhoso, que é a reforma protestante, indicando a ligação com as disputas políticas na época, especialmente na ilha européia. Não que os únicos interesses fossem políticos, mas estes tiveram papel fundamental para que as diferentes doutrinas sobrevivessem e permanecessem até hoje. Para que a unidade dos cristãos seja novamente uma realidade, é preciso investigar as causas da separação, e isso deve ser feito no amor e na verdade para que seja verdadeira comunhão no único Espírito do mesmo Cristo, Filho Unigênito do Pai.
Categoria: Igreja
É dia de festa!
Para o mundo, o sol já se pôs. Para os cristãos, apenas começou o domingo de Pentecostes! É o dia do nascimento da Igreja, que sempre se renova e é sempre atual. Pentecostes acontece agora. Neste momento, a Igreja recebe o Espírito Santo e é chamada a dar testemunho para todo o mundo, até os confins da terra (At 1,8; 2).

Para melhor comemorar, o Caritas in Veritate criou um evento no Facebook: as laudes de Pentecostes, um convite para que todos rezemos, na manhã do dia 8 de junho de 2014, a oração chamada laudes, que é parte da liturgia das horas. Está tudo em um livreto, que pode ser baixado em Evento de Pentecostes 2014. Também foram publicadas as duas primeiras páginas de teologia, desde que o site foi reformulado: O Espírito de Pentecostes e Para rezar as horas, originalmente publicados no livreto mencionado.
Espero você amanhã para esse grande evento!
O decreto n.º 8.243/2014 extinguiria a democracia?
As últimas semanas foram justamente pautadas pelo debate da infame portaria n.º 415/2014, da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde. Simultaneamente, houve a edição do decreto presidencial n.º 8.243/2014, que trata da Política Nacional de Participação Social (PNPS). Trata-se de assunto há muito discutido no governo federal, e que remonta aos tempos de Getúlio Vargas, com a Conferência Nacional de Saúde. Hoje existem conferências as mais diversas, e, até então, muitas vezes sem periodicidade. Existem também muitos conselhos de políticas públicas, criados pelos mais diversos governos, inclusive pelo regime militar. Em geral, pouca voz têm.
Não se trata, portanto, de novidade absoluta. As verbas destinadas à educação, por exemplo, têm que ter seu uso fiscalizado por um conselho municipal composto de representantes do poder público e dos cidadãos. É um conselho praticamente inócuo, porém, pois, se desaprovar as contas dos recursos do FUNDEB no município, este deixará de receber as verbas desse fundo, e estas são fundamentais para o sistema educacional público. Ninguém quer realmente rejeitar a prestação de contas.
Na verdade, a Constituição Federal já prevê, desde 1988, a participação social no exercício do poder público: “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” (art. 1.º, parágrafo único). O erro fundamental nessa proposição é que o poder emana realmente de Deus: “Não terias poder algum sobre mim, se de cima não te fora dado”, disse Jesus Cristo a Pôncio Pilatos (Jo 19,11b; v. Catecismo da Igreja Católica, 1899). Enfim, numa democracia, o poder deve emanar de Deus por meio do povo, para que seja democracia verdadeira.
Os meios de exercício do poder diretamente pelo povo previstos na Constituição são o plebiscito, o referendo e a lei de iniciativa popular (art. 14, I-III). São meios de exercício da “soberania popular”, junto com a eleição dos representantes. Conselhos, conferências, comissões etc. não são meio de exercício de soberania, nem é esse o objetivo do decreto n.º 8.243/2014, e sim “fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias democráticas de diálogo e a atuação conjunta entre a administração pública e a sociedade civil” (art. 1.º, caput).
Trata-se, portanto, de decreto que visa principalmente ao diálogo entre o poder público e a sociedade. Como, porém, se dará esse diálogo? Aí mora o perigo. Um governo democrático irá escolher conselheiros que representem a sociedade. Um governo autoritário, independente do regime político, irá escolher aqueles que representam os interesses do partido no poder. Isso, havendo ou não a transparência prevista para o funcionamento dos conselhos – a qual, no entanto, dificulta minimamente o uso autoritário. Contando apenas com seus partidários entre os membros dessas instâncias participativas, um mal governante poderá apropriar-se deles e usá-los como ferramenta de legitimação de suas decisões “em nome da sociedade”.
O grande aspecto positivo do decreto fica por conta da institucionalização das chamadas “mesas de diálogo”, que objetivam evitar que tensões sociais se tornem explosivas. O grande “porém” fica na obrigatoriedade de uma diversidade definida a priori como de “etnia, raça, cultura, geração, origem, sexo, orientação sexual, religião e condição social, econômica ou de deficiência” (dec. n.º 8.243/2014, art. 3.º, III), em vez da definição trazida pelo Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 189: “favorecer a participação sobretudo dos menos favorecidos”. A redação do decreto pode vir a distorcer a finalidade das instâncias participativas, pois levaria a uma composição que pouco teria em conta a representatividade social e o favorecimento dos menos favorecidos, mas privilegiaria determinados grupos minoritários conforme o governo em questão. De resto, convém terminar com as palavras da Igreja:
“A participação na vida comunitária não é somente uma das maiores aspirações do cidadão, chamado a exercitar livre e responsavelmente o próprio papel cívico com e pelos outros, mas também uma das pilastras de todos os ordenamentos democráticos, além de ser uma das maiores garantias de permanência da democracia. O governo democrático, com efeito, é definido a partir da atribuição por parte do povo de poderes e funções, que serão exercitados em seu nome, por sua conta e em seu favor; é evidente, portanto, que toda democracia deve ser participativa. Isto implica que os vários sujeitos da comunidade civil, em todos os seus níveis, sejam informados, ouvidos e envolvidos no exercício das funções que ela desempenha.” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 190).
São José Operário
Hoje, dia do trabalho, é dia de refletir sobre o mistério do homem participando da criação de Deus. É nesse dia que celebramos a memória de S. José, esposo da Virgem Maria, sob o aspecto do trabalhador. Interessante refletir sobre o hino das laudes:
Anuncia a aurora do dia,
chama todos ao trabalho;
como outrora em Nazaré,
já se escutam serra e malho.Salve, ó chefe de família!
Que mistério tão profundo
ver que ensinas teu ofício
a quem fez e salva o mundo!Habitando agora o alto
com a Esposa e o Salvador,
vem e assiste aqui na terra
todo pobre e sofredor!Ganhe o pobre um bom salário,
e feliz seja em seu lar;
gozem todos de saúde
com modéstia e bem-estar.São José, roga por nós
à Trindade que é um só Deus;
encaminha os nossos passos,
guia a todos para os céus.
Quando Deus criou o mundo, disse ao homem: “Frutificai – disse ele – e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.” (Gn 1,28b-c) Aliás, “o Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden, para cultivar o solo e o guardar.” (Gn 2,15) Sem o homem, a terra seria vazia e estéril (Gn 2,5). Quando, porém, o homem e a mulher pecaram, o trabalho, que deveria ser participação alegre e suave na obra divina, se tornou penoso, e o objeto do trabalho, como que um inimigo diante do homem (Gn 3,17-19).
O trabalho, pois, deve ser digna participação na obra divina, e tudo aquilo que o torna penoso é participação no pecado. A importância do trabalho é tamanha que o próprio Deus quis se tornar um trabalhador. Os governos e empregadores devem se esforçar ao máximo para que os trabalhadores tenham dignas condições de vida e de trabalho, e os trabalhadores devem procurar tais condições com alegria e altivez, pois tomam parte da obra de Deus. Neste ano de eleições, esse é um dos aspectos que devemos considerar ao escolher nossos candidatos, ao lado da defesa da vida, do nascituro, da infância, do meio ambiente, da dignidade da condição humana em geral, assim como da liberdade de consciência e de religião, para que possamos sempre professar nossa fé com liberdade e em público.
Para finalizar, deixo aqui as preces e a oração do dia (chamada coleta) para as laudes de hoje:
Oremos humildemente ao Senhor, de quem procede toda perfeição e santidade dos justos; e digamos:
R. Santificai-nos Senhor, segundo a vossa justiça!
Senhor Deus, que chamastes os nossos pais na fé para caminharem na vossa presença com um coração perfeito, fazei que, seguindo os seus passos, alcancemos a perfeição de acordo com a vossa vontade.
R. Santificai-nos Senhor, segundo a vossa justiça!
Vós, que escolhestes São José, homem justo, para cuidar de vosso Filho na infância e juventude, fazei que sirvamos em nossos irmãos e irmãs o Corpo místico de Cristo.
R. Santificai-nos Senhor, segundo a vossa justiça!
Vós, que destes a terra aos seres humanos para que a povoassem e dominassem, ensinai-nos a trabalhar corajosamente neste mundo, buscando sempre a vossa glória.
R. Santificai-nos Senhor, segundo a vossa justiça!
Pai de todos nós, lembrai-vos da obra de vossas mãos, e dai a todos trabalho e condições de vida digna.
R. Santificai-nos Senhor, segundo a vossa justiça!E agora, obedientes à vontade de nosso Senhor Jesus Cristo,ousamos dizer:
Pai nosso que estais nos céus,
santificado seja o vosso nome;
venha a nós o vosso reino,
seja feita a vossa vontade,
assim na terra como no céu;
o pão nosso de cada dia nos dai hoje;
perdoai-nos as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido,
e não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do mal.Oremos:
Ó Deus, criador do universo, que destes aos homens a lei do trabalho, concedei-nos, pelo exemplo e a proteção de São José, cumprir as nossas tarefas e alcançar os prêmios prometidos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
Cristo ressuscitou! Aleluia!
Irmãos caríssimos, Cristo ressuscitou! Cantemos com toda a Igreja: aleluia, aleluia! Proclamemos em alta voz: o crucificado, aquele que o mundo desprezou, hoje vive e reina eternamente em sua glória!
Não pude, ainda, colocar no ar a nova versão do Caritas in Veritate – faltam apenas alguns ajustes. Entretanto, deixo-vos a mensagem Urbi et orbi do papa Francisco por ocasião desta Páscoa, na qual nos pede para rezar por muitos povos que precisam também viver suas páscoas, suas passagens da escravidão para a liberdade, da morte para a vida. Uma feliz Páscoa a todos!
Mensagem Urbi et Orbi do Santo Padre Francisco – Páscoa de 2014
Amados irmãos e irmãs, boa e santa Páscoa!
Ressoa na Igreja espalhada por todo o mundo o anúncio do anjo às mulheres: «Não tenhais medo. Sei que buscais Jesus, o crucificado; não está aqui, pois ressuscitou (…). Vinde, vede o lugar onde jazia» ( Mt 28, 5-6).
Mensagem “Urbi et orbi” do papa Francisco por ocasião da Páscoa de 2014
Por isso, nós dizemos a todos: «Vinde e vede». Em cada situação humana, marcada pela fragilidade, o pecado e a morte, a Boa Nova não é apenas uma palavra, mas é um testemunho de amor gratuito e fiel: é sair de si mesmo para ir ao encontro do outro, é permanecer junto de quem a vida feriu, é partilhar com quem não tem o necessário, é ficar ao lado de quem está doente, é idoso ou excluído… « Vinde e vede»: o Amor é mais forte, o Amor dá vida, o Amor faz florescer a esperança no deserto.
Com esta jubilosa certeza no coração, hoje voltamo-nos para Vós, Senhor ressuscitado!
Ajudai-nos a procurar-Vos para que todos possamos encontrar-Vos, saber que temos um Pai e não nos sentimos órfãos; que podemos amar-Vos e adorar-Vos.
Ajudai-nos a vencer a chaga da fome, agravada pelos conflitos e por um desperdício imenso de que muitas vezes somos cúmplices.
Tornai-nos capazes de proteger os indefesos, sobretudo as crianças, as mulheres e os idosos, por vezes objecto de exploração e de abandono.
Fazei que possamos cuidar dos irmãos atingidos pela epidemia de ébola na Guiné Conacri, Serra Leoa e Libéria, e daqueles que são afectados por tantas outras doenças, que se difundem também pela negligência e a pobreza extrema.
Consolai quantos hoje não podem celebrar a Páscoa com os seus entes queridos porque foram arrancados injustamente dos seus carinhos, como as numerosas pessoas, sacerdotes e leigos, que foram sequestradas em diferentes partes do mundo.
Confortai aqueles que deixaram as suas terras emigrando para lugares onde possam esperar um futuro melhor, viver a própria vida com dignidade e, não raro, professar livremente a sua fé.
Pedimo-Vos, Jesus glorioso, que façais cessar toda a guerra, toda a hostilidade grande ou pequena, antiga ou recente!
Suplicamo-Vos, em particular, pela Síria, a amada Síria, para que quantos sofrem as consequências do conflito possam receber a ajuda humanitária necessária e as partes em causa cessem de usar a força para semear morte, sobretudo contra a população inerme, mas tenham a audácia de negociar a paz, há tanto tempo esperada.
Jesus glorioso, pedimo-vos que conforteis as vítimas das violências fratricidas no Iraque e sustenteis as esperanças suscitadas pela retomada das negociações entre israelitas e palestinianos.
Imploramo-Vos que se ponha fim aos combates na República Centro-Africana e que cessem os hediondos ataques terroristas em algumas zonas da Nigéria e as violências no Sudão do Sul.
Pedimos-Vos que os ânimos se inclinem para a reconciliação e a concórdia fraterna na Venezuela.
Pela vossa Ressurreição, que este ano celebramos juntamente com as Igrejas que seguem o calendário juliano, vos pedimos que ilumine e inspire as iniciativas de pacificação na Ucrânia, para que todas as partes interessadas, apoiadas pela Comunidade internacional, possam empreender todo esforço para impedir a violência e construir, num espírito de unidade e diálogo, o futuro do País.Que eles como irmãos possam cantar Хрhctос Воскрес.
Pedimo-Vos, Senhor, por todos os povos da terra: Vós que vencestes a morte, dai-nos a vossa vida, dai-nos a vossa paz! Queridos irmãos e irmãs, feliz Páscoa!
Saudação
Queridos irmãos e irmãs,
Renovo os meus votos de feliz Páscoa a todos vós reunidos nesta Praça, vindos de todas as partes do mundo. Estendo as minhas felicitações pascais a todos que, de diversos países, estão conectados através dos meios de comunicação social. Levai às vossa famílias e às vossas comunidades o feliz anúncio que Cristo nossa paz e nossa esperança ressuscitou!
Obrigado pela vossa presença, pela vossa oração e pelo vosso testemunho de fé. Um pensamento particular e de reconhecimento pelo dom das belíssimas flores, oriundas dos Países Baixos. Feliz Páscoa para todos!
Igreja peregrina
Faz tempo que não escrevo aqui, e não há tempo melhor para voltar – em plena Jornada Mundial da Juventude, da qual não posso participar pessoalmente, mas que tento acompanhar pela Rede Vida. Muito se fala sobre peregrinos nestes dias, incluindo o próprio papa Francisco, que se fez peregrino ao Rio de Janeiro e a Aparecida. Hoje (ainda) é dia de São Tiago, apóstolo, irmão de João. Nascido em Betsaida, foi o primeiro a governar a Igreja em Jerusalém e também o primeiro apóstolo a testemunhar a fé com a morte a mando de Herodes Agripa.
As laudes de hoje traziam a leitura da carta aos Efésios:
Já não sois mais estrangeiros nem migrantes, mas concidadãos dos santos. Sois da família de Deus. Vós fostes integrados no edifício que tem como fundamento os apóstolos e os profetas, e o próprio Jesus Cristo como pedra principal. É nele que toda a construção se ajusta e se eleva para formar um templo santo no Senhor. E vós também sois integrados nesta construção, para vos tornardes morada de Deus pelo Espírito. (Ef 2,19-22)
O que esse texto diz é simples: onde quer que estejamos, estamos em nossa terra, pois não somos mais do mundo (Jo 17,16), e sim “concidadãos dos santos”, isto é, cidadãos do Reino de Deus. Vivemos desde já essa realidade (Jo 17,13.20-24), de forma que contamos com o auxílio de nossos irmãos que já não estão nesse mundo, ao qual também nós não pertencemos, o qual deixaremos um dia para nos juntar plenamente à felicidade celeste.
Já não há migrante, já não há estrangeiro, já não há quem seja natural deste mundo, pois nossa natureza, renovada pelo Batismo (2Cor 5,17), é agora de partícipes da natureza divina (2Pd 1,4; v. Rm 6,2-14). A Igreja toda é peregrina e, onde quer que esteja – onde quer que esteja cada um de seus membros -, estará sempre no Reino de Deus, e jamais pertencerá a este mundo dominado pelas trevas (Ef 6,12). Somos do céu, ainda que estejamos hoje no mundo. Não nos contentamos com este mundo, mas somos testemunhas da realidade futura, que já vivemos com nossa cidadania celeste.
O papa Francisco I
A essa hora, muitas palavras já foram ditas sobre o novo papa, Francisco I. Alguns o elogiaram, outros já o criticaram. Muito também já falaram sobre o que ele representa para a Igreja, conforme a vontade de cada um que comenta. Peço licença para fazer uma breve observação dos fatos desde o último pontificado.
O papa emérito, Bento XVI, desde o princípio tentou abrir a Igreja para o mundo, no sentido de não esconder as dificuldades que ela vive, a cada dia, desde quando foi fundada por Jesus Cristo. Liberou o acesso aos documentos do arquivo vaticano até o pontificado de Pio XI, submeteu-se a entrevista televisiva, submeteu-se também à entrevista que se tornou o livro Luz do Mundo, onde tratou dos temas mais polêmicos, endureceu o tratamento dado aos que abusam de menores. Tudo isso provou uma grande humildade, transmitida a toda a Igreja, ainda que nem todos os membros do corpo de Cristo o tenham seguido no mesmo ritmo.
Porém, a maior renovação, o maior gesto de humildade de Bento XVI, foi sua renúncia. Não se apegou a um cargo proeminente, a ser o vigário de Cristo, mas demonstrou ser verdadeiramente o servo dos servos de Deus. Aí é que vemos uma grande continuidade no novo papa, Francisco I. Não apenas no nome escolhido, que nos remete a S. Francisco de Assis (embora também possa remeter a S. Francisco Xavier ou a S. Francisco de Sales). É verdade, S. Francisco foi um grande exemplo de humildade, tendo deixado para trás uma grande fortuna para abraçar a pobreza evangélica, reformando profundamente a Igreja com seu exemplo. Ele também intercedeu e pediu a intercessão pelo seu predecessor. Em seguida, pediu que o povo rezasse por ele, e curvou-se perante o povo, para receber a bênção de Deus. Também se identificou decididamente com o povo romano, que ele guia como bispo daquela cidade, e com o povo de todo o mundo, que ele guia como sucessor de Pedro e pastor universal.
Vemos, nos gestos, nas palavras e no silêncio de Francisco I a humildade do servo dos servos de Deus, escancarada numa personalidade que já se demonstra cativante, mas também escondida em gestos que praticava em Buenos Aires, como preparar as próprias refeições, ou usar o transporte público. Se Cristo se humilhou, tornando-se homem e sofrendo a morte mais terrível na cruz (Fl 2,5-11), o vigário de Cristo deve seguir o mesmo caminho. É este caminho que o papa Francisco parece estar desde já trilhando.
Mulheres, exemplo
Neste dia das mulheres, gostaria de celebrar três dos mais belos exemplares desse gênero. Toda mulher que vive bem sua condição feminina é um exemplo para os homens, pois lhes são complementares (Gn 2,18-24). Ao olhar para uma mulher, um homem deveria moderar seus apetites de caçador e aprender com sua ternura e os cuidados da mulher para com os seus. A situação que vemos, da mulher subjugada pelo homem, é coisa do pecado, não é vontade de Deus (Gn 3,1-20).
A Virgem Maria
O primeiro exemplo que gostaria de recordar, como não poderia deixar de ser, é o da Virgem Maria, mãe de Deus. Quando ela disse ao anjo do Senhor “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38), ela assumiu para si uma grande carga. A concepção sobrenatural do Filho de Deus implicava para ela um grande risco de apedrejamento, coisa que seu esposo, São José, quis evitar rejeitando-a secretamente – somente a intervenção divina, esclarecendo que Jesus foi feito pelo Espírito Santo (v. Mt 1,18-25) garantiu que se cumprisse a profecia:
Um renovo sairá do tronco de Jessé,
e um rebento brotará de suas raízes.
Sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de Sabedoria e entendimento,
Espírito de prudência e de coragem,
Espírito de ciência e de temor do Senhor.
Sua alegria se encontrará no temor do Senhor.
Ele não julgará pelas aparências,
e não decidirá pelo que ouvir dizer;
mas julgará os fracos com equidade,
fará justiça aos pobres da terra,
ferirá o homem impetuoso com uma sentença de sua boca,
e com o sopro dos seus lábios fará morrer o ímpio.
A justiça será como o cinto de seus rins,
e a lealdade circundará seu flancos. [Is 11,1-5]
E também:
porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado;
a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama:
Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz.
Seu império será grande e a paz sem fim sobre o trono de Davi e em seu reino.
Ele o firmará e o manterá pelo direito e pela justiça, desde agora e para sempre. Eis o que fará o zelo do Senhor dos exércitos. [Is 9,5s]
O “sim” de Maria a Deus foi, portanto, um grande peso sobre seus ombros, que somente sua virtude poderia suportar, afinal, não gerou um filho para si, mas para o mundo. “Na verdade, [ó Deus,] fizestes grandes coisas por toda a terra e estendestes a vossa misericórdia a todas as gerações, quando, olhando a humildade de vossa Serva, nos destes, por ela, o Salvador da humanidade, vosso Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso” (Missal Romano – MR -, prefácio da Virgem Maria, II). A Virgem teve de amar com um amor semelhante ao de Deus: “com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Em seu “sim”, Maria assumiu para si as dores de seu filho, assegurou par si mesma uma espada a transpassar sua alma (Lc 2,35).
Acolhendo a vossa Palavra no coração sem mancha, mereceu concebê-lo no seio virginal e, ao dar à luz o Fundador, acalentou a Igreja que nascia. Recebendo aos pés da cruz o testamento da caridade divina, assumiu todos os seres humanos como filhos e filhas, renascidos para a vida eterna, pela morte de Cristo.
Ao esperar com os Apóstolos o Espírito Santo, unindo suas súplicas às preces dos discípulos, tornou-se modelo da Igreja orante.
Arrebatada à glória dos céus, acompanha até hoje com amor de mãe a Igreja que caminha na terra, guiando-lhe os passos para a pátria, até que venha o dia glorioso do Senhor. [MR, prefácio da Virgem Maria, III]
Santa Gianna Beretta Molla
Santa Gianna, médica pediatra, nascida na Itália, queria vir com seu irmão, Pe. Alberto, também médico, fundar um hospital em Grajaú, no Maranhão – onde aliás, foi reconhecido um de seus milagres, salvando a vida de uma criança gestada desde os três meses sem líquido amniótico. Essa dedicação aos nascituros já seria esperada de uma santa pediatra, mas não foi só isso que ela fez.
Ainda em vida, aos 38 anos (em 1961), engravidou de sua quarta filha, que viria a se chamar Gianna Emanuela. Durante a gestação, foi diagnosticada com um fibroma no útero, tendo apenas três opções: a retirada do útero com a consequente morte da filha, o abortamento provocado, ou uma cirurgia arriscada para manter a gestação. Optou pela última, dando à luz uma menina aos 21 de abril de 1962, vindo a falecer sete dias depois. Morreu por amor à filha. Essa opção não deveria ser estranha – que pai ou mãe amoroso, ao perder um filho, não disse ao Senhor: “leva-me, mas preserva a vida desta criança”? É uma decisão difícil, mas mais difícil é a terrível espada que transpassa o coração de quem perde um filho. Santa Gianna Beretta Molla se deu para que sua filha vivesse.
Santa Teresa Benedita da Cruz (Santa Edith Stein)
Outra formidável flor do ramo de Jessé, Edith Theresa Hedwing Stein, judia e ateia, primeira mulher a doutorar-se em filosofia na Alemanha, converteu-se ao cristianismo após ler a autobiografia de Santa Teresa d’Ávila (S. Teresa de Jesus), Livro da Vida. Já então experimentou sua primeira provação, pois foi rejeitada pela família, que não aceitava sua fé cristã. Na universidade, a discípula de Husserl, fundador da fenomenologia, tinha uma carreira promissora, que foi interrompida pouco após a acensão dos nazistas ao poder.
Tendo sido impedida de lecionar, pôde realizar seu sonho de entrar para o Carmelo Descalço, o que ocorreu em 1933, adotando o nome de Teresa Benedita da Cruz. Com permissão de seus superiores, não deixou de estudar e de escrever, bem como de se preocupar com o destino do povo alemão. Escreveu ainda naquele ano uma carta ao papa Pio XI, suplicando a palavra da Igreja contra as atrocidades do regime nazista. Tal palavra veio a ser pronunciada em 1937, na encíclica Mit Brennender Sorge.
Durante a guerra, recrudesceu a perseguição aos judeus a tal ponto que a Ordem Carmelita Descalça determinou sua transferência para um convento na Holanda. Mas, em 1942, a conferência episcopal holandesa denunciou o racismo dos nazistas, o que foi usado como pretexto para que a perseguição alcançasse os judeus convertidos ao catolicismo, entre eles, a santa e sua irmã. Levada para o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, dedicou-se a cuidar dos outros presos. Seus cuidados chegaram ao ponto de dar sua vida para salvar uma criança.
Brilhante filósofa e brilhante cristã, aceitou sofrer para o bem de muitos:
Desde já, aceito a morte que Deus me destinou, enfrentando-a com alegria, em perfeita submissão à sua santíssima vontade. Peço ao Senhor que aceite minha vida e minha morte para sua glória e louvor, por todas as necessidades […] da Igreja […] e para que o Senhor seja aceito pelos seus [os judeus], e seu Reino venha em glória, pela salvação da Alemanha e pela paz no mundo; enfim, pelos meus parentes, vivos e falecidos, e por todos os que Deus me deu: que nenhum deles se perca. [STEIN, Edith. Na força da cruz. 3. ed. rev. e atual. Vargem Grande Paulista: Cidade Nova, 2008. p. 97.]
A renúncia do papa Bento XVI
É provável que vocês já saibam – o papa Bento XVI renunciou a seu cargo à frente da diocese de Roma e da Igreja cristã. Não é uma situação nova, pois outros papas antes dele já haviam feito o mesmo, mas, claro, é uma notícia que nos pega desprevenidos. Quantos não terão pensado: o que poderá ter acontecido para levar o papa a renunciar? Aparentemente, o que o levou a tal gesto foi a grande consciência que tem da Igreja e do seu papel como condutor dela – é o que transparece do texto de sua renúncia, reproduzido abaixo.
O exemplo do papa
O gesto de Bento XVI é um exemplo de imitação do Cristo, Nosso Senhor. Sim, porque ele não se apegou a ser o vigário de Cristo, o sucessor de Pedro na árdua tarefa de dirigir a Igreja cristã. Em Fl 2,5-11, vemos como Jesus não se apegou a ser igual ao Pai, mas se deu em sacrifício definitivo pela remissão de nossos pecados (Hb 10,11-18). O papa não se apegou a um cargo, mas humildemente o deixou ao perceber que não tinha mais saúde para continuar a exercê-lo, dando lugar a seu sucessor e, aos eleitores do novo papa, tempo para refletir a respeito das qualidades necessárias ao próximo sucessor do apóstolo Pedro e pedir a Deus que os ilumine.
E quem não se apegaria a um cargo a cujo ocupante o Senhor garantiu a vitória sobre as forças infernais (Mt 16,18s)? Quem não se apegaria a um cargo a cujo ocupante o Senhor incumbiu de confirmar na fé os seus irmãos (Lc 22,32)? Quem não se apegaria a um cargo cujo ocupante tenha por dever conduzir e governar todos os cristãos (Jo 21,15-17)? O papa Bento XVI não se apegou a esse cargo. Com humildade, ele, que é um grande teólogo, com vasta experiência em universidades e na Comissão para a Doutrina da Fé, e que não abdicou de ser teólogo para ser papa, não tentou por um decreto resolver as diferenças entre as várias correntes teológicas. Ele que, como chefe visível da Igreja constituída por Jesus Cristo, poderia fechar as portas às igrejas e grupos que se separaram, não se apegou a seu poder, e esteve sempre aberto ao diálogo. Ele poderia se aferrar ao poder temporal e espiritual do bispo de Roma, mas abdicou desse poder em favor de outrem, alguém que melhor possa exercê-lo, pois a idade já não lhe o permite.
Momento de oração
O momento não é para dúvidas, angústias ou sofrimento. Ao contrário, é de confiança e entrega a Deus. É um momento de oração, por Bento XVI, pelo conclave que se reunirá no próximo mês, e pelo papa que será eleito. Devemos primeiro agradecer ao Senhor pela benção que foi o pontificado beneditino. Num tempo em que há tanto mal a dominar esse mundo tenebroso (Ef 6,12), nos fez lembrar daquele monge que, há cerca de 1.600 anos, nos legou um grande exemplo de vida virtuosa, de confiança em Deus e de luta contra as trevas, deixando-nos inclusive a poderosa oração que leva seu nome, além da regra de vida monástica que serviu de base para os mosteiros que preservaram valiosos manuscritos antigos e foram a base para a grande renovação da Igreja há cerca de mil anos.
Esse período após o anúncio da renúncia, a ser efetivada no final do mês, e que incluirá em março a realização do conclave para eleição do novo papa e os primeiros dias do pontificado deste, não à toa coincide com a quaresma, quando buscamos a conversão a Deus e lembramos a vitória de Jesus Cristo sobre a tentação. É um período de penitência, mas também é um período de abandono de tudo aquilo que nos afasta de Deus. E, este ano, será um período em que a Igreja inteira deverá se unir em oração para que Deus ilumine, abençoe e proteja Bento XVI, os cardeais eleitores e o novo papa.
Não falta proteção a nós, que somos o corpo de Cristo (Ef 5,21ss). Recorramos a nossa mãe, Maria Santíssima, e a São Miguel Arcanjo, príncipe e protetor da Igreja de Cristo (Dn 12,1), pedindo sua intercessão para que Deus esteja com todos nós e conduza sua Igreja. Amém.
São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede nosso refúgio contra a maldade e as ciladas do demônio. Ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos, e vós, príncipe da milícia celeste, pela virtude divina, precipitai no inferno a Satanás e a todos os espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas.
São Miguel Arcanjo, defendei-nos e protegei-nos. Amém!
A renúncia do papa Bento XVI
Caríssimos Irmãos,
Convoquei-vos para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.
Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus.
Vaticano, 10 de Fevereiro de 2013.
BENEDICTUS PP XVI
Pelos migrantes – intenção geral do papa para fevereiro
Para que as famílias de migrantes sejam amparadas e acompanhadas em suas dificuldades, sobretudo as mães.
Quem quer que tenha vivido a grande distância de sua terra sabe as dificuldades para se adaptar a uma nova cultura, um novo clima, e mesmo a uma nova paisagem. São grandes as saudades dos que ficaram, e grande é a vontade de voltar. Muitos vão à procura de emprego, outros vão estudar, e ainda outros fogem de situações calamitosas em seus locais de origem.
A Igreja não é indiferente a isso. Aliás, não foram poucos os santos – inclusive entre os Padres da Igreja – que viveram exilados ou saíram de suas terras em busca de algo melhor. No próximo dia 8, por exemplo, comemora-se Santa Josefina Bakhita, primeiro feita escrava, mas que, tendo recebido a liberdade legal, resolveu emigrar junto de seus patrões, quando estes retornaram para a Itália. Lá, conheceu a liberdade integral, que Deus lhe concedeu.
Outro caso famoso, é o de Santo Agostinho. O então futuro bispo de Hipona foi à Itália em busca da Verdade. Na época, apesar das constantes preces de sua mãe, Santa Mônica, ele era adepto da heresia dos maniqueus, que imaginavam um princípio bom (Deus) das coisas espirituais, e um princípio mal (demônio) das coisas materiais. Como sua alma não se aquietava, viajou à procura de Deus, chegando a Milão, onde encontrou Santo Ambrósio. Convertido, foi batizado pelo bispo milanês, junto com seu filho e alguns amigos, começando então a viagem de regresso a sua terra. Santa Mônica, que sonhava retornar à África antes de morrer, tendo então a paz em sua alma, pois seu filho se convertera à fé cristã, aceitou tranquilamente a morte em Óstia, cidade em que fica o porto que serve Roma. Faleceu e foi sepultada na Itália. Agostinho e o filho retornaram à África, onde aquele se tornou bispo, não em sua cidade natal, Tagaste, mas em Hipona.
Porém, somos todos desterrados, somos os “degredados filhos de Eva”, como dizemos na Salve Rainha. Nossa pátria é a Jerusalém Celeste, revelada em seu brilho e glória no final do Apocalipse. Mas, há aqueles que nem o conforto da familiaridade com a cultura e com o ambiente, ou então a proximidade da família e dos amigos têm. Rezemos por nós, mas rezemos especialmente pelos duplamente desterrados: os que não estão nem na Jerusalém Celeste – na glória do Senhor -, nem na terra que têm como sua neste mundo.
Salve Rainha, mãe de misericórdia,
Vida e esperança nossa, salve!
A vós bradamos os degredados filhos de Eva,
A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.
Eia, pois, advogada nossa!
Os vossos olhos misericordiosos a nós volvei
E depois deste desterro mostrai-nos Jesus,
Bendito fruto do vosso ventre,
Ó clemente, ó piedosa, ó doce, sempre virgem Maria!Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
Amém!
