O encontro entre Jesus Cristo e Adão

Neste Sábado Santo, entre a morte e ressurreição do Senhor, a Igreja nos propõe para reflexão uma antiga homilia do século IV sobre o encontro entre Jesus Cristo e Adão na mansão dos mortos. O diálogo se dá sobre a antiga culpa e a salvação, como mais tarde se proclamará na vigília pascal:

Ó pecado de Adão indispensável,
pois o Cristo o dissolve em seu amor;
ó culpa tão feliz que há merecido
a graça de um tão grande redentor.

O texto vem da oração das Leituras na Liturgia das Horas:

A descida do Senhor à mansão dos mortos

Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.

Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.

O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará.

Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: ‘Saí!’; e aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’

Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.

Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até mesmo sepultado debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado.

Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê na minha face as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, tua beleza corrompida.

Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar de teus ombros o peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente as tuas mãos para a árvore do paraíso.

Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti.

Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.

Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”.

(Patrologia Grega 43, 439.451.462-463)

Possuímos a inata capacidade de amar

Por mais que em alguns momentos possa ser difícil realizar o bem, ou mesmo evitar o mal, Deus nos deu a capacidade inata e a vocação para amá-lo e ao próximo – e “desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22, 40). A moral, portanto – e mesmo toda a doutrina –, não deve ser exposta ou pensada como uma série de preceitos difíceis e fardos pesados de se carregar (ao contrário, “meu jugo é suave e meu fardo é leve”, disse Jesus – Mt 11, 30). A doutrina cristã e cada ato virtuoso são, em sua origem e seu fim, o Amor:

Toda a finalidade da doutrina e do ensinamento deve ser posta no amor que não acaba. Com efeito, pode-se facilmente expor o que é preciso crer, esperar ou fazer; mas sobretudo é preciso fazer sempre com que apareça o Amor de Nosso Senhor, para que cada um compreenda que cada ato de virtude perfeitamente cristão não tem outra origem senão o Amor, e outro fim senão o Amor.

(Catecismo Romano, prefácio, 10, apud Catecismo da Igreja Católica, 25)

Hoje, no Ofício das Leituras, foi lido um texto de São Basílio Magno a esse respeito. Vale a pena conhecê-lo:

Da Regra mais longa, de São Basílio Magno, bispo

(Resp. 2,1: PG 31,908-910)                      (Séc.IV)

Possuímos inata capacidade de amar

O amor de Deus não é matéria de ensino nem de prescrições. Não aprendemos de outrem a alegrar-nos com a luz, ou a desejar a vida, ou a amar os pais ou educadores. Assim – ou melhor, com muito mais razão –, não se encontra o amor de Deus na disciplina exterior. Mas, quando é criado, o ser vivo, isto é, o homem, a força da razão foi, como semente, inserida nele, uma força que contém em si a capacidade e a inclinação de amar. Logo que entra na escola dos divinos preceitos, o homem toma conhecimento desta força, apressando-se em cultivá-la com ardor, nutri-la com sabedoria e levá-la à perfeição, com o auxílio de Deus.

Sendo assim, queremos provar vosso empenho em atingir este objetivo. Pela graça de Deus e contando com as vossas preces, nós nos esforçaremos, segundo a capacidade dada pelo Espírito Santo, por suscitar a centelha do amor divino escondida em vós.

Antes de mais nada, nós dele recebemos antecipadamente a força e a capacidade de pôr em prática todos os mandamentos que Deus nos deu. Por isso não nos aflijamos como se nos fosse exigido algo de incomum, nem nos tornemos vaidosos pensando que damos mais do que havíamos recebido. Se usarmos bem destas forças, levaremos uma vida virtuosa; no entanto, mal empregadas, cairemos no pecado.

Ora, o pecado se define como o mau uso, o uso contrário à vontade de Deus daquilo que ele nos deu para o bem. Pelo contrário, a virtude, como Deus a quer, é o desenvolvimento destas faculdades que brotam da consciência reta, segundo o preceito do Senhor.

O mesmo diremos da caridade. Ao recebermos o mandamento de amar a Deus, já possuímos capacidade de amar, plantada em nós desde a primeira criação. Não há necessidade de provas externas: cada qual por si e em si mesmo pode descobri-la. De fato, nós desejamos, naturalmente, as coisas boas e belas, embora, à primeira vista, algumas pareçam boas e belas a uns e não a outros. Amamos também, sem ser necessário que nos ensinem nossos parentes e amigos e temos espontaneamente grande amizade por nossos benfeitores.

O que haverá, pergunto então, de mais admirável do que a beleza divina? Que coisa pode haver mais suave e deliciosa do que a meditação da magnificência de Deus? Que desejo será mais veemente e violento do que aquele inserido por Deus na alma liberta de toda impureza e que lhe faz dizer do fundo do coração: Estou ferida de amor? É na verdade totalmente indescritível o fulgor da beleza de Deus.

(Do Ofício das Leituras na terça-feira da I semana do Tempo Comum)

Festa da dedicação da Basílica do Latrão

Basílica de São João do Latrão, em Roma. É a catedral da cidade e sede do papa. Foto: Martin Falbisoner via Wikimedia.

Hoje é dia de celebrar a mãe e cabeça de todas as igrejas, a catedral de Roma, a sede do papa! Trata-se da Basílica de São João do Latrão, dedicada a São João Evangelista e a São João Batista, onde fica a cátedra de São Pedro, e junto à qual se encontra a Escada Santa, que Jesus subiu para ser julgado, e que Santa Helena, mãe de Constantino, mandou transportar de Jerusalém para Roma.

DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DO LATRÃO
Festa
Segundo uma tradição que remonta ao século XII, celebra-se neste dia o aniversário da dedicação da basílica do Latrão, construída pelo imperador Constantino. Inicialmente foi uma festa exclusivamente da cidade de Roma; mais tarde, estendeu-se à Igreja de Rito romano, com o fim de honrar a basílica que é chamada “mãe e cabeça de todas as igrejas da Urbe e do Orbe e como sinal de amor e unidade para com a Cátedra de Pedro que, como escreveu Santo Inácio de Antioquia, “preside a assembleia universal da caridade”.

Hino

Do Pai eterno talhado,
Jesus, à terra baixado
tornou-se pedra angular;
na qual o povo escolhido
e o das nações convertido
vão afinal se encontrar.

Eis que a Deus é consagrada
para ser sua morada
triunfal Jerusalém,
onde em louvor ao Deus trino
sobem dos homens o hino,
os Aleluias e o Amém.

No vosso altar reluzente
permanecei Deus, presente,
sempre a escutar nossa voz;
acolhei todo pedido,
acalmai todo gemido
dos que recorrem a vós.

Sejamos nós pedras vivas,
umas das outras cativas,
que ninguém possa abalar;
com vossos santos um dia,
a exultar de alegria
no céu possamos reinar.

Leitura breve Is 56,7
Eu os conduzirei ao meu santo monte e os alegrarei em minha casa de oração; aceitarei com agrado em meu altar seus holocaustos e vítimas, pois minha casa será chamada casa de oração para todos os povos.

Preces

Como pedras vivas, edificadas sobre Cristo, pedra angular, peçamos cheios de fé a Deus Pai todo-poderoso em favor de sua amada Igreja; e digamos:
R. Esta é a casa de Deus e a porta do céu!
Pai do céu, que sois o agricultor da vinha que Cristo plantou na terra, purificai, guardai e fazei crescer a vossa Igreja,
– para que, sob o vosso olhar, ela se espalhe por toda a terra. R.

Pastor eterno, protegei e aumentai o vosso rebanho,
– para que todas as ovelhas se congreguem na unidade, sob um só pastor, Jesus Cristo, vosso Filho. R.

Semeador providente, semeai a palavra em vosso campo,
– para que dê frutos abundantes para a vida eterna. R.

Sábio construtor, santificai a Igreja, vossa casa e vossa família,
– para que ela apareça no mundo como cidade celeste, Jerusalém nova e Esposa sem mancha. R.

Oração

Ó Deus, que edificais o vosso templo eterno com pedras vivas e escolhidas, infundi na vossa Igreja o Espírito que lhe destes, para que o vosso povo cresça sempre mais construindo a Jerusalém celeste. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

(Trechos do ofício das Laudes)

Nossa Senhora Aparecida por São João Paulo II

Da Homilia na Dedicação da Basílica Nacional de Aparecida, do papa João Paulo II

(Pronunciamentos do Papa no Brasil, Edit. Vozes, Petrópolis 1980,125.128.129.130)
(Séc. XX)

A devoção a Maria é fonte de vida cristã profunda

“Viva a Mãe de Deus e nossa, sem pecado concebida! Viva a Virgem Imaculada, a Senhora Aparecida!”

Desde que pus os pés em terra brasileira, nos vários pontos por onde passei, ouvi este cântico. Ele é, na ingenuidade e singeleza de suas palavras, um grito da alma, uma saudação, uma invocação cheia de filial devoção e confiança para com aquela que, sendo verdadeira Mãe de Deus, nos foi dada por seu Filho Jesus no momento extremo da sua vida para ser nossa Mãe. Sim, amados irmãos e filhos, Maria, a Mãe de Deus, é modelo para a Igreja, é Mãe para os remidos. Por sua adesão pronta e incondicional à vontade divina que lhe foi revelada, torna-se Mãe do Redentor, com uma participação íntima e toda especial na história da salvação. Pelos méritos de seu Filho, é Imaculada em sua Conceição, concebida sem a mancha original, preservada do pecado e cheia de graça.

Ao confessar-se serva do Senhor (Lc 1,38) e ao pronunciar o seu sim, acolhendo “em seu coração e em seu seio o mistério de Cristo Redentor, Maria não foi instrumento meramente passivo nas mãos de Deus, mas cooperou na salvação dos homens com fé livre e inteira obediência. Sem nada tirar ou diminuir e nada acrescentar à ação daquele que é o único Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, Maria nos aponta as vias da salvação, vias que convergem todas para Cristo, seu Filho, e para a sua obra redentora. Maria nos leva a Cristo, como afirma com precisão o Concílio Vaticano II: “A função maternal de Maria, em relação aos homens, de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; antes, manifesta a sua eficácia. E de nenhum modo impede o contato imediato dos fiéis com Cristo, antes o favorece”.

Mãe da Igreja, a Virgem Santíssima tem uma presença singular na vida e na ação desta mesma Igreja. Por isso mesmo, a Igreja tem os olhos sempre voltados para aquela que, permanecendo virgem, gerou, por obra do Espírito Santo, o Verbo feito carne. Qual é a missão da Igreja senão a de fazer nascer o Cristo no coração dos fiéis, pela ação do mesmo Espírito Santo, através da evangelização? Assim, a “Estrela da Evangelização”, como a chamou o meu Predecessor Paulo VI, aponta e ilumina os caminhos do anúncio do Evangelho. Este anúncio de Cristo Redentor, de sua mensagem de salvação, não pode ser reduzido a um mero projeto humano de bem-estar e felicidade temporal. Tem certamente incidências na história humana coletiva e individual, mas é fundamentalmente um anúncio de libertação do pecado para a comunhão com Deus, em Jesus Cristo. De resto, esta comunhão com Deus não prescinde de uma comunhão dos homens uns com os outros, pois os que se convertem a Cristo, autor da salvação e princípio de unidade, são chamados a congregar-se em Igreja, sacramento visível desta unidade humana salvífica.

Por tudo isto, nós todos, os que formamos a geração hodierna dos discípulos de Cristo, com total aderência à tradição antiga e com pleno respeito e amor pelos membros de todas as comunidades cristãs, desejamos unir-nos a Maria, impelidos por uma profunda necessidade da fé, da esperança e da caridade. Discípulos de Jesus Cristo neste momento crucial da história humana, em plena adesão à ininterrupta Tradição e ao sentimento constante da Igreja, impelidos por um íntimo imperativo de fé, esperança e caridade, nós desejamos unir-nos a Maria. E queremos fazê-lo através das expressões da piedade mariana da Igreja de todos os tempos. A devoção a Maria é fonte de vida cristã profunda, é fonte de compromisso com Deus e com os irmãos. Permanecei na escola de Maria, escutai a sua voz, segui os seus exemplos. Como ouvimos no Evangelho, ela nos orienta para Jesus: Fazei o que ele vos disser (Jo 2,5). E, como outrora em Caná da Galiléia, encaminha ao Filho as dificuldades dos homens, obtendo dele as graças desejadas. Rezemos com Maria e por Maria: ela é sempre a “Mãe de Deus e nossa”.

(Do ofício das leituras na solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida)

Das laudes na memória de São Francisco de Assis

Leitura breve Rm 12,1-2

Pela misericórdia de Deus, eu vos exorto, irmãos, a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: Este é o vosso culto espiritual. Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito.

Domingo de Ramos: fé na vitória, perseverança mesmo nos sofrimentos

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Hoje iniciamos a semana santa. Na meditação do mistério da paixão e morte do Filho de Deus podemos encontrar o exemplo e a força daquele que sofre por ser justo e fiel. Daquele que é odiado por fazer a vontade do Pai celeste. Em um mundo em que tantas forças se misturam para fazer o mal, seja na Ásia, na África, e até mesmo no Brasil, onde o ódio vem se infiltrando na política, coloquemos em Jesus Cristo nossa esperança, para que, morrendo com ele para o mundo, ressuscitemos com ele para a vida eterna! Amém.

Lembremo-nos de Jesus Cristo, que disse “Eu vim para servir” (Mc 10,45), enquanto refletimos sobre trechos da oração do meio-dia no Domingo de Ramos:

Oração do meio-dia no Domingo de Ramos (trechos)

Hino:

Todo o mundo fiel rejubile
na alegria de tal salvação:
destruindo a potência da morte,
Jesus Cristo nos traz redenção

De oliveira com ramos e palmas,
todo o povo, com voz triunfal,
canta hosanas ao Rei de Israel,
de Davi descendente real.

Nós também, acorrendo ao encontro
de tal Rei, com hosanas de glória,
seguremos na mão nossas palmas
de alegria e de fé na vitória.

Por seus dons, nos caminhos da vida,
nos conduza e defenda o Senhor.E possamos, em todos os tempos,
tributar-lhe o devido louvor.

Glória ao Pai e a Jesus, Filho único,
Deus de Deus, Luz da Luz, Sumo Bem,
com o Espírito, o Amor que consola,
pelos séculos dos séculos. Amém.

Leitura breve:

Alegrai-vos por participar dos sofrimentos de Cristo, para que possais também exultar de alegria na revelação da sua glória. Se sofreis injúrias por causa do nome de Cristo, sois felizes, pois o Espírito da glória, o Espírito de Deus repousa sobre vós. (1Pd 4,13s)

Oração:

Deus eterno e todo-poderoso, para dar aos seres humanos um exemplo de humildade, quisestes que o nosso Salvador se fizesse homem e morresse na cruz. Concedei-nos aprender o ensinamento de sua Paixão e ressuscitar com ele em sua glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Para não blasfemarem o nome de Deus

Texto de um autor do século II, lido na segunda leitura do ofício das leituras da quinta-feira da 32.ª semana do tempo comum (ontem):

O senhor declara: Meu nome é incessantemente objeto de blasfêmia entre as nações (cf. Is 52,5), e outra vez: Ai daquele por cuja causa meu nome é blasfemado (cf. Rm 2,24). Qual o motivo de ser blasfemado? Porque não fazemos o que dizemos. Os homens ouvem de nossa boca as palavras de Deus e ficam admirados por seu valor e grandeza; depois, vendo que nossas obras em nada correspondem às palavras que dizemos, começam a blasfemar, e a tachá-las de fábulas e enganos.

Ouvem-nos afirmar que Deus disse: Não é nada de extraordinário, se amais aqueles que vos amam; mas grande graça, se amais vossos inimigos e aqueles que vos odeiam (cf. Mt 5,46); ouvindo isto, espantam-se com bondade tão sublime: observando, porém, que não amamos os que nos odeiam e nem mesmo aqueles que nos amam, zombam de nós e o nome [de Deus] é blasfemado.

Quantas vezes damos motivo para blasfemarem o nome de Deus? Quantas vezes falamos de Deus, que é amor e verdade, mas odiamos e mentimos? Especialmente nesse período de ânimos ainda acirrados acerca das eleições: quantas vezes, em nome de uma visão política, atacamos nossos irmãos com ódio e deixamos de lado a verdade, sem procurá-la ou até mentindo abertamente? Estreita é a porta que leva para o céu (Mt 7,13s). Se não fazemos a vontade de Deus por amor a seu nome, que ao menos a façamos por medo do inferno e da perdição eterna. Seria muito pior que o governo de qualquer um dos candidatos.

Cuidado com as doutrinas vãs

Hoje rezei o ofício das leituras, e Deus me brindou com textos muito espirituais e muito atuais. Vejam só:

O salmo lido foi o 102, que em seu versículo 6 diz: “O Senhor realiza obras de justiça e garante o direito aos oprimidos”.

A primeira leitura foi do livro do profeta Daniel (5,1-2.5-9.13-17.25-6,1). Trata da profecia contra o rei Baltasar da Babilônia. Este ofereceu um grande banquete aos dignatários de sua corte, com muito vinho. “Já embriagado, Baltasar mandou trazer os vasos [sagrados] de ouro e prata, que seu pai Nabucodonosor tinha tirado do templo de Jerusalém, para beberem deles o rei e os grandes do reino, suas mulheres e concubinas.” Foi então que apareceram dedos que escreveram uma expressão enigmática na parede do palácio. Os sábios da Babilônia não conseguiam compreender. Os magos, caldeus, astrólogos: todos foram chamados, mas não conseguiram decifrar. Então levaram até o rei o profeta Daniel, levado cativo de Judá. Rejeitando os favores do rei, decifrou o enigma: “Deus contou os dias de teu reinado e deu-o por concluído; foste pesado na balança, e achado com menos peso; teu reino foi dividido e entregue aos medos e persas”, que habitavam o planalto do Irã. Nessa mesma noite, Baltasar foi assassinado, e Dario, o medo, assumiu o poder sobre a Babilônia. Assim, Judá ficou livre do cativeiro babilônico por obra de Deus, que se valeu dos poderes mundanos e da embriaguez dos que se entregam ao pecado.

“Em sua mão o Senhor Deus tem uma taça com um vinho de mistura inebriante; todos os ímpios sobre a terra hão de bebê-lo. Quem à besta e sua imagem adorar, beberá o vinho da cólera de Deus” (Sl 74,6.8s; Ap. 14,9s), dizia o responsório à primeira leitura.

A segunda leitura foi extraída de um autor do século II. Dizia que “se nos esforçarmos por viver bem, a paz nos acompanhará. Por essa razão, não podem encontrá-la os homens que, presa de temores humanos, preferem o prazer presente à promessa futura. Ignoram quanto tormento traz consigo a volúpia deste mundo e que delícias encerra a promessa do futuro.” É o que fazem aqueles que abandonam a caridade e a verdade em nome da defesa de uma candidatura derrotada. Fazem para si ídolos chamados propriedade e Estado mínimo. A propriedade, porém, quando mal utilizada (pelo latifúndio, por exemplo) somente aprofunda as contradições sociais e a miséria. “Isto torna-se evidente no persistente fenômeno da apropriação indevida e da concentração da terra […]. Tal estado de coisas é muitas vezes uma das causas mais importantes de situações de fome e miséria e representa uma negação concreta do princípio, derivado da origem comum e fraternidade em Deus (cf. Ef 4,6), que todos os seres humanos nasceram iguais em dignidade e direitos.” (Para uma melhor distribuição da terra: o desafio da reforma agrária, n. 1)

Já o outro ídolo, o Estado mínimo, que não garante nem a justiça, nem o direito dos oprimidos (v. Sl 102,6 acima), tem sua origem no liberalismo, que prega a anomia, isto é, a falta de regras, o que é contrário a toda doutrina da Igreja. O liberalismo vai contra a verdade, o direito e a justiça. O liberalismo vai contra Deus ao atacar o princípio de que o Senhor criou um mundo com ordem e com fartura para todos, mas que o pecado corrompeu. O liberalismo não quer ordem, nem justiça, ao contrário de Deus, que “protege o estrangeiro”, “ampara a viúva e o órfão”, e “confunde o caminho dos maus” (Sl 145,9). Os que hoje pregam o golpe militar chegam a chamar médicos estrangeiros de “submédicos” (como fez um procurador da República em e-mail para mim), e também defendem o fim dos programas de assistência social, inclusive o bolsa-família, que ampara os que não têm amparo. E poderíamos ainda falar de quantas vezes atacam a verdade…

Continuemos, porém, a leitura:

Esperemos, então, a cada momento, na caridade e na justiça, o reino de Deus, apesar de não conhecermos o dia da chegada de Deus.

Vamos, irmãos, façamos penitência, convertamo-nos para o bem; porque estamos cheios de insensatez e de maldade. Lavemo-nos dos pecados passados e mudando profundamente o nosso modo de pensar seremos salvos. Não sejamos aduladores, nem procuremos agradar somente aos irmãos, mas também aos de fora, por amor da justiça, para que o Nome não seja blasfemado por nossa causa (cf. Rm 2,24).

E isso me diz que não podemos ser aduladores dos poderosos deste mundo, especialmente dos que não praticam a caridade e a justiça. Também me diz que não devemos ofender os que pensam diferente de nós, nem os que não crêem no mesmo Deus que nós. A quem poderíamos julgar, sem conhecer profundamente as razões para sua incredulidade? Será que não fomos nós mesmos que a provocamos, ao dizer que essa ou aquela doutrina, mesmo buscando a verdade e a caridade, seria anticristã? Procuremos o diálogo e o encontro, acolhamos a todos para que sejamos também ouvidos. Falo de um exemplo muito concreto: quantos não erigiram outro ídolo, o anticomunismo? Quantos, em nome desse ídolo, não aceitaram ou praticaram todo tipo de barbárie, como a tortura e o assassinato, inclusive de sacerdotes? Lembremo-nos de que temos muito em comum com os comunistas e outros que buscam uma sociedade melhor. Lembremo-nos, especialmente, de que “quem procura a verdade, consciente ou inconscientemente, procura a Deus” (Santa Edith Stein).

É dia de festa!

Para o mundo, o sol já se pôs. Para os cristãos, apenas começou o domingo de Pentecostes! É o dia do nascimento da Igreja, que sempre se renova e é sempre atual. Pentecostes acontece agora. Neste momento, a Igreja recebe o Espírito Santo e é chamada a dar testemunho para todo o mundo, até os confins da terra (At 1,8; 2).

Comemore o anivesário da sua Igreja!
Em Pentecostes, Jesus Cristo enviou o Espírito Santo, para que a Igreja desse testemunho em todo o mundo, até os confins da terra.

Para melhor comemorar, o Caritas in Veritate criou um evento no Facebook: as laudes de Pentecostes, um convite para que todos rezemos, na manhã do dia 8 de junho de 2014, a oração chamada laudes, que é parte da liturgia das horas. Está tudo em um livreto, que pode ser baixado em Evento de Pentecostes 2014. Também foram publicadas as duas primeiras páginas de teologia, desde que o site foi reformulado: O Espírito de Pentecostes e Para rezar as horas, originalmente publicados no livreto mencionado.

Espero você amanhã para esse grande evento!

Evento de Pencostes 2014

O evento criado no Facebook é um convite para que todos santifiquemos não apenas o próximo domingo, quando celebraremos a vinda do Espírito Santo, mas toda ação humana nesse dia. É um convite para que rezemos, agradeçamos e louvemos a Deus por meio da liturgia das horas, conforme o livreto que publico aqui (disponível abaixo em vários formatos). De manhã cedo, dia 8 de junho de 2014, façamos esse grande evento espiritual: a oração da manhã, chamada laudes.

Laudes de Pentecostes (capa)
Capa do livreto contendo as laudes do domingo de Pentecostes

Baixe o livreto com as laudes de Pentecostes: