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EUA e Cuba reabrem embaixadas

Após décadas de hostilidades, que incluíram invasões militares, transmissões clandestinas de rádio e televisão, atos de terrorismo – promovidos pelos EUA – e disputa ideológica de ambas as partes, Estados Unidos da América e Cuba reabriram hoje (20) suas embaixadas. Ainda não é a normalização completa das relações, que o presidente cubano condiciona a novas atitudes por parte do homólogo norte-americano, mas é mais um passo significativo na direção da integração e da abertura, iniciados ano passado.

Seção de interesses norte-americanos em Cuba, agora oficialmente uma embaixada. Foto: Escla/Wikimedia.
Seção de interesses norte-americanos em Cuba, agora oficialmente uma embaixada. Foto: Escla/Wikimedia.

Segundo a Agência Lusa, entre as exigências cubanas estão o fim do bloqueio comercial imposto pelos EUA, a devolução da base naval norte-americana em Guantânamo (Cuba), o fim das transmissões clandestinas de rádio e televisão a partir de equipamentos militares norte-americanos, o fim de programas que dão apoio a opositores do regime cubano, e a compensação pelos danos humanos e econômicos causados pelas políticas norte-americanas.

A reaproximação entre os países teve um dedo da Igreja Católica, mas o papa Francisco disse no retorno de sua viagem pastoral à América do Sul que “o mérito é deles, que fizeram isto. Nós não fizemos quase nada.” Houve, no entanto, meses de oração e uma missão cardinalícia com esse propósito. Em setembro o papa viajará a Cuba e aos Estados Unidos da América, incluindo um pronunciamento na Assembléia Geral das Nações Unidas.

Distribuição de renda e desenvolvimento humano na conferência da FAO

A conferência anual da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) foi marcada pelos discursos do ex-presidente Lula e do delegado da Santa Sé, monsenhor Fernando Chica Arellano. Na ocasião, foi reeleito o diretor-geral da organização, o brasileiro José Graziano da Silva. Segundo a Rádio Vaticana, “a reeleição quase unânime de José Graziano da Silva como diretor-geral da FAO demonstrou que os países-membros da  Organização não somente apoiam a gestão de Graziano, como querem a continuidade da expansão das políticas de combate à pobreza que tiraram o Brasil do mapa da fome.”

Distribuição de riquezas

Ex-presidente Lula discursa na abertura da conferência anual da Organização das Nações Unidas sobre Alimentação. (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)
Ex-presidente Lula discursa na abertura da conferência anual da Organização das Nações Unidas sobre Agricultura e Alimentação. (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

Em seu discurso, Lula criticou a imprensa brasileira por condenar o repasse de dinheiro às famílias mais pobres, benefício que atinge hoje 54 milhões de pessoas. Para Lula, “o Bolsa-família não substitui o trabalho, complementa a renda para romper o ciclo de pobreza”. Em palestra no domingo na prefeitura de Roma, ele afirmou também que esse processo (um “salto histórico) que levou a mais desenvolvimento e menos desigualdade tornou o país mais respeitado.

Lula também criticou a Europa, que vem perdendo as conquistas sociais conquistadas após a Segunda Guerra Mundial. Isso tem gerado a concentração das riquezas. Nisso ele foi secundado pelo prefeito de Roma, Ignazio Marino, que recordou que nessa cidade a pobreza vem invadindo muitos lares. “Existe a necessidade de políticas que redistribuam a riqueza, não podemos pensar em resolver isso com políticas de consumo”, afirmou Marino.

Desenvolvimento humano

Por outro lado, mais atento às necessidades dos agricultores, Mons. Arellano sustentou que, para que haja um desenvolvimento humano sustentável, é preciso ver o agricultor não apenas como agente econômico, mas também como “pessoa capaz de participar dos processos decisórios e nas opções vinculadas à produção, à conservação e à distribuição dos frutos da terra”. O desenvolvimento humano sustentável, segundo ele, coloca em seu centro a pessoa humana, com suas capacidades reais, suas limitações, particularidades e necessidades, tanto enquanto indivíduos como em família.

Mons. Arellano lembrou ainda que “os famintos não são frias cifras à mercê das estatísticas. Não são entidades teóricas. São pessoas reais que padecem e que, frequentemente, gritam e choram sem que ninguém as escute. São vidas truncadas, que vêm esvaídas suas esperanças e pisoteados seus direitos”

A fala do representante do Vaticano na FAO deu continuidade ao documento Para uma melhor distribuição da terra: o desafio da reforma agrária, do Pontifício Conselho Justiça e Paz, e à encíclica Caritas in veritate, do papa emérito Bento XVI, sobre o desenvolvimento humano integral na caridade e na verdade.

Boletim de mártires 20/04/2015

Atualização: notícia de 28 cristãos etíopes mortos na Líbia.

Nos últimos dias, uma série de notícias sobre cristãos que sofrem por defender a fé. Hoje, na missa na Casa Santa Marta, o papa nos lembrou: “O Senhor desperta-nos com o testemunho dos santos, com o testemunho dos mártires, que todos os dias nos anunciam que a missão é caminhar no caminho de Jesus: anunciar o ano da graça.”

16/4: Parlamento Europeu exige que Turquia reconheça o genocídio armênio

Intelectuais armênios assassinados a 24 de abril de 1915 (Fonte: Wikimedia)
Intelectuais armênios assassinados a 24 de abril de 1915 (Fonte: Wikimedia)

O genocídio armênio, lembrado pelo papa no centésimo aniversário desse triste evento, foi objeto de declaração do parlamento da União Européia. O documento afirma que a Turquia deve “aproveitar a comemoração do centenário do genocídio armênio como uma oportunidade importante para prosseguir seus esforços —inclusive a desclassificação dos arquivos— por evidenciar o seu passado, reconhecendo o genocídio armênio e, desta maneira, abrir o caminho à uma verdadeira reconciliação entre os povos turco e armênio”. A Turquia, apesar das evidências históricas e das profundas mudanças promovidas pelo coronel Ataturk nos anos 1920, até hoje se recusa a reconhecer o crime contra a humanidade cometido pelo Império Turco-Otomano e pelo califado de então. O documento do Parlamento Europeu se segue a declarações do papa Francisco sobre esse genocídio e sobre outros massacres cometidos no século XX.

17/4: Congresso “Todos somos nazarenos”

Começou dia 17 em Madri o congresso Todos somos nazerenos. Um de seus objetivos é não deixar que o mundo esqueça o “genocídio cristão” atualmente em curso em diversas partes do mundo, mormente na África e na Ásia. “Nem um só minuto de esquecimento de quem sofre perseguição religiosa”, pediu Soledad Becerril. A situação é tão grave, lembra reportagem da ACI Digital, “que o observador permanente da Santa Sé ante as Nações Unidas, Dom Silvano Tomasi, pediu a intervenção armada para frear o chamado ‘Estado Islâmico'”.

A reportagem destaca ainda:

Sobre a perseguição no mundo, CitizenGo recorda alguns dados recentes que mostram o seu crescimento e ferocidade anticristã: “No último dia 2 de abril, um grupo fundamentalista matou 147 universitários no Quênia. Antes de realizarem a matança, os assassinos separaram os muçulmanos dos cristãos. Algumas testemunhas afirmam ter visto corpos decapitados. Lamentavelmente, essa é apenas a tragédia mais recente na Nigéria, outras ocorreram no Paquistão, na Líbia, na Síria ou no Iraque. As vítimas? Sempre as mesmas: os cristãos. Enquanto isso, o Ocidente parece continuar olhando para outra direção”.

E também:

“Devemos proteger os nossos irmãos e irmãs perseguidos, exilados, assassinados e decapitados. São nossos mártires. E são muito mais numerosos que nos primeiros séculos da Igreja (…) espero que a comunidade internacional não desvie seu olhar nem se mantenha calada e inerte perante esse crime inaceitável”.

Nesse ambiente, a cristã paquistanesa Asia Bibi – injustamente presa e condenada à pena capital – oferece-nos, desde o corredor da morte, uma demonstração de fé, firmeza e esperança. Assim ela escreveu na última Páscoa da Ressurreição:

“A Páscoa de Jesus Cristo nos dá um exemplo de paz e perdão. Todos temos de aprender do ensinamento e do sacrifício de Cristo, crucificado por nós. Perdoou a todos e todo o mal. Neste dia especial, peço para que todos os cristãos no Paquistão possam viver e orar em paz.”

17/4: Cemitérios cristãos vandalizados em Mosul e na Galiléia

Ruínas de Kafr Bir'Im, na Galiléia, aldeia cristã abandonada após a ocupação israelense. Foto: Anita/Flickr.
Ruínas de Kafr Bir’Im, na Galiléia, aldeia cristã abandonada após a ocupação israelense. Foto: Anita/Flickr.

Outra reportagem da mesma agência informa sobre o vandalismo realizado nos cemitérios de Mosul (Iraque, cidade ainda controlada pelo Estado Islâmico) e na Galiléia (sob controle israelense). Na primeira cidade, o vandalismo vem sendo realizado desde 2014, quando a cidade foi ocupada por fundamentalistas islâmicos. Na segunda, vem em seguida a uma série de vandalismos realizados por colonos extremistas judeus contra igrejas, mosteiros e cemitérios cristãos. A vila de Kafr Bir’Im, majoritariamente cristã, foi abandonada desde a ocupação israelense, e seus antigos habitantes e os descendentes deles estão proibidos de retornar.

17/4: Governo sírio dedica jardim a mártires do genocídio assírio

Na mesma onda de limpeza étnico-religiosa promovida pelos Jovens Turcos durante a Primeira Guerra Mundial, há cem anos, também cristãos siríacos (assírios) foram alvo de genocídio. O governo sírio, chefiado pelo alawita Bashar al Assad, denominou “Jardim dos mártires siríacos” um jardim no centro de Damasco, capital do país, celebrando o centenário do massacre de cristãos, sírios, assírios e caldeus na Anatólia, província do Império Turco-Otomano. Os cristãos e os alawitas estão entre os perseguidos pelo “Estado Islâmico”, que combate os governos da Síria e do Iraque.

18/4: Província paquistanesa limita aplicação da Lei da Blasfêmia

Apesar de não ter poder para alterar a Lei da Blasfêmia (que é usada para atacar as minorias religiosas e realizar vinganças pessoais no Paquistão, majoritariamente muçulmano), a província paquistanesa de Sindh determinou que os acusados passem primeiro por um exame psiquiátrico, que pode levar à atenuação da pena. A reportagem da Agência Fides informa:

Segundo Nasir Saeed, diretor da Ong “CLAAS”, a medida não representa uma mudança direta da lei sobre a blasfêmia. “É um passo significativo da parte do governo Sindh e ajudará a salvar vidas humanas e muitas vítimas inocentes”, visto que os vários casos, pois pessoas que sofrem de doença mental foram acusadas e consideradas blasfemas. A lei controversa continua “entre as causas principais de sofrimento dos cristãos e de outras minorias religiosas no Paquistão. Por isso é urgente fazer modificaçõese nesta lei”.
Saeed acrescenta numa nota enviada à Fides: “Gostaria que o governo Sindh fizesse mais um passo avante, adotando medidas que punem os que formulam falsas acusações de blasfêmia a fim de deter o abuso desta lei, usada para fazer vinganças pessoais”.

18/4: Professor cristão egípcio é afastado por mostrar vídeo contra o Estado Islâmico

O professor copta egípcio Yousif Aaman foi obrigado a abandonar, junto com sua família, o vilarejo natal, no Egito. Isso aconteceu após ele exibir, para cinco alunos, um vídeo em seu smartphone que acusava o chamado “Estado Islâmico” pelas atrocidades realizadas, como as execuções filmadas e divulgadas na internet. Segundo a Agência Fides, “isso foi o suficiente para despertar o ódio e as falsas acusações de islamistas da região, que obrigaram as autoridades locais a intervirem para restabelecer a calma, convocando para sexta-feira, 17 de abril, uma reunião de ‘reconciliação’ entre cristãos e muçulmanos, da qual participaram também imãs e sacerdotes da região.”

18/4: Tiroteio contra escola católica no Paquistão

Um estudante e dois seguranças ficaram feridos após terroristas abrirem fogo contra escola católica de ensino médio São Francisco, no distrito de Behar, província de Lahore, no Paquistão. “Este novo ataque testemunha a deterioração da situação dos cristãos no Paquistão e espalha ainda mais temor”, disse o advogado cristão Sardar Mushtaq Gill à agência Fides.

19/4: Cristãos etíopes mortos pelo Estado Islâmico na Líbia

Neste domingo, 19, o chamado “Estado Islâmico” divulgou vídeo do martírio de 28 cristãos etíopes na Líbia, 12 deles degolados em uma praia, 16 fuzilados no deserto. A Líbia se convulsiona em uma guerra civil desde que os EUA e as potências européias ajudaram grupos armados a derrubar o governo de Muammar Khadafi em 2011. Essa guerra civil proporcionou espaço para a ação de extremistas islâmicos (que agora se aliaram ao califado proclamado em territórios da Síria e do Iraque).

(Pintura em destaque: Jean-Léon Gérôme — A última prece dos mártires cristãos.)

ONU confirma: papa discursará na Assembléia Geral em setembro

A ONU confirmou ontem que o papa Francisco discursará dia 25 de setembro deste ano na Assembléia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, que estará celebrando os 70 anos da organização. Ele é o quarto papa a discursar na Assembléia Geral, tendo sido Paulo VI o primeiro deles.

Segundo a Rádio Vaticana, o presidente da ONU, Ban Ki-Moon, está confiante de que esta visita do Papa Francisco irá inspirar a comunidade internacional a redobrar os seus esforços em favor da dignidade humana para todos através de uma maior justiça social, tolerância e compreensão entre todos os povos do mundo.

Na ocasião, o papa terá encontros com os presidentes da ONU e da Assembléia Geral, bem como com os funcionários da entidade. Também nessa viagem aos Estados Unidos da América, Francisco será o primeiro papa a discursar no congresso americano.

Visão Católica

Será interessante ver o papa Francisco tratar da cultura do encontro, que ele tanto promove, em um organismo que, apesar de fundamental para as relações internacionais modernas, não tem conseguido atingir plenamente seu objetivo, que é a paz entre os povos.

A proposta da Igreja para a paz vem sendo delineada desde o pontificado de S. João XXIII, que na encíclica Pacem in Terris (“paz na Terra”, em latim), afirmou:

O progresso social, a ordem, a segurança e a paz em cada comunidade política estão em relação vital com o progresso social, com a ordem, com a segurança e com a paz de todas as demais comunidades políticas. (n.º 129)

Já seu sucessor, Paulo VI, estabeleceu três deveres na relação fraterna entre os povos:

O do dever de solidariedade, ou seja, o auxílio que as nações ricas devem prestar aos países em via de desenvolvimento; o do dever de justiça social, isto é, a retificação das relações comerciais defeituosas, entre povos fortes e povos fracos; o do dever de caridade universal, quer dizer, a promoção, para todos, de um mundo mais humano e onde todos tenham qualquer coisa a dar e a receber, sem que o progresso de uns seja obstáculo ao desenvolvimento dos outros. (Populorum progressio, 44)

E o progresso dos povos deve sempre “buscar reduzir desigualdades, combater discriminações, libertar o homem da servidão, torná-lo capaz de, por si próprio, ser o agente responsável do seu bem-estar material, progresso moral e desenvolvimento espiritual” (Populorum progressio, 34).

Creio eu que o papa irá ainda além de seus predecessores, estabelecendo um maior progresso da comunidade das nações, isto é, da comunhão simbólica que tem faltado para que uns compreendam os outros. Esse é um passo de suma importância para levantarem-se as barreiras que os conflitos erguem em toda parte. Enquanto não se esforçarem todos por falar a linguagem do outro, não haverá a tão almejada paz. (v. Gn 11,1-9)

(Com informações da Rádio Vaticana. Foto de destaque: Assembléia Geral das Nações Unidas — Wikimedia)